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“Não tem que ir a vestiário”: cartolas se afastam, e Seleção se isola após saída de Caboclo

Muito irritado com o gramado do estádio Nilton Santos, Tite pediu a Juninho Paulista que procurasse a Conmebol para trocar de estádio para as quartas de final

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Redação Publicado em 05/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h49


Coordenador Juninho Paulista é responsável por meio de campo com vice-presidentes da CBF. Presidente em exercício, Coronel Nunes fez uma visita a hotel e dirigentes se revezaram em jogos

Muito irritado com o gramado do estádio Nilton Santos, Tite pediu a Juninho Paulista que procurasse a Conmebol para trocar de estádio para as quartas de final contra o Chile. O coordenador da Seleção entrou em contato com o vice-presidente da CBF Fernando Sarney. Membro do comitê executivo da Conmebol e da Fifa, o dirigente levou o tema para cima na entidade sul-americana, mas, no fim das contas, nada mudou.

Um mês após a saída de Rogério Caboclo da presidência da CBF – afastado no dia 6 de junho pela Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, primeiro, por 30 dias, e agora por mais dois meses -, é pequeno o contato do “núcleo futebol” com a sede da entidade nacional do futebol na Barra da Tijuca. Não é à toa. A proximidade de Caboclo no fim dos seus dias na CBF incomodou.

Por ora, acabaram as fotos, vídeos e distribuição farta de sorrisos e apertos de mão. O que era comum na breve era de Caboclo – dirigente acusado de assédio sexual e moral dentro da CBF, que também é investigada por ação do Ministério Público do Trabalho. O pior momento, evidentemente, foi no Beira-Rio, quando o então presidente subiu ao gramado, colou rosto com Tite e participou até da preleção dentro do vestiário antes da vitória brasileira sobre o Equador, por 2 a 0, pelas Eliminatórias.

ge ouviu alguns personagens de dentro e fora da CBF para saber como anda o relacionamento com os cartolas desde a entrada de Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, presidente em exercício da CBF. O contato é bem discreto, como aconteceu ainda em Brasília, na estreia da Copa América.

Nunes foi até o hotel da Seleção no dia do jogo, passou poucos minutos com a delegação, cumprimentou Tite, Juninho Paulista e saudou os jogadores. Durante a competição, não foi a todos os jogos – o que se explica também pelos 82 anos e certa debilidade física depois de duas cirurgias delicadas na cabeça – e provocou rodízio de dirigentes nas partidas.

– Jogador tem que ficar mais à vontade. Dirigente não tem que ir a vestiário – resume Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF, que foi aos confrontos contra o Equador e Colômbia.

Fernando Sarney segura placa com Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol. Ao lado, Coronel Nunes — Foto: Thais Magalhães/CBF

Fernando Sarney segura placa com Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol. Ao lado, Coronel Nunes — Foto: Thais Magalhães/CBF

ge tentou ouvir Tite sobre os contatos com os dirigentes neste período, mas não teve resposta. A seleção brasileira se isolou depois de dias turbulentos do início da reunião ainda em Porto Alegre. De bom relacionamento com Sarney, com Francisco Noveletto, também vice-presidente, e outros dirigentes, Juninho tem sido aconselhado a ser bem discreto, não se meter em temas políticos.

– Juninho faz bem o papel dele, o Tite é um excelente treinador. O que aconteceu com Rogério faz parte do passado – diz Feijó, que lamenta os últimos atos de Caboclo:

– Não cumpriu estatuto para comprar avião, não cumpriu regras. Mas quero que ele se recupere após a saída dele.

Nas cinco partidas da Copa América, seis dirigentes da CBF se revezaram nos jogos – entre eles, claro, Nunes, que não foi ao jogo de Goiânia. O vice Ednaldo Rodrigues, ex-presidente da federação baiana de futebol, foi a quatro jogos. Sarney e Feijó, a dois. Novelletto, a uma partida.

O secretário-geral Eduardo Zebini, o diretor financeiro Gilnei Botrel e o vice-presidente jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes, foram outros que marcaram presença em alguns dos jogos. A CBF também aproveita as partidas para manter relacionamento com as federações. Foram convidados presidentes de federações locais – caso de Goiânia e Brasília -, mas também viajaram dirigentes da Paraíba e de Sergipe para acompanhar os cartolas da CBF.

Presidente afastado tenta retorno

A diretoria da CBF ampliou por mais 60 dias o período de afastamento de Rogério Caboclo. Em nota, ele diz que a situação equivale a “ministros derrubarem um presidente eleito” e acusa o ex-presidente Marco Polo del Nero de tramar sua destituição do cargo. Ele recebeu apoio do presidente da Ferj, Rubens Lopes, que publicou carta aberta contra a decisão da Comissão de Ética.

A entidade se baseou no artigo 143 do estatuto para afastar Rogério Caboclo. Diz o artigo:

Art. 143 – Nos casos de urgência comprovada, a Diretoria da CBF poderá afastar, em caráter preventivo, qualquer pessoa física ou jurídica direta ou indiretamente vinculada à CBF que infrinja ou tolere que sejam infringidas as normas constantes deste Estatuto ou do Estatuto da FIFA ou da CONMEBOL, bem como as normas contidas na legislação desportiva e nos regulamentos da CBF.

A denúncia contra Caboclo

No dia 4 de junho, uma funcionária da CBF protocolou denúncia de assédio sexual e moral contra Rogério Caboclo. O documento foi entregue à Comissão de Ética da CBF e à Diretoria de Governança e Conformidade.

Entre os fatos narrados por ela, estão constrangimentos sofridos por ela em viagens e reuniões com o presidente e na presença de diretores da CBF. Na denúncia, a funcionária detalha o dia em que o dirigente, após sucessivos comportamentos abusivos, perguntou se ela se “masturbava” – o áudio desta conversa foi revelado pelo Fantástico em 6 de junho. Entre outros episódios, segundo a funcionária, Caboclo tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de “cadela”

Dois dias depois da denúncia, em 6 de junho, Caboclo foi afastado da presidência da CBF por 30 dias, por determinação da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro. Na ocasião, a entidade informou que o processo seguiria em sigilo. O presidente afastado nega as acusações. Na última semana, a Comissão renovou o afastamento de Caboclo por 60 dias.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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