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“Não recebemos nada do DiCaprio”, dizem brigadistas de Alter do Chão

Em entrevista coletiva na tarde deste domingo (1), os quatro brigadistas presos pela polícia paraense em Alter do Chão suspeitos de incendiar uma área

Tiago Silveira / Divulgação
Tiago Silveira / Divulgação

Redação Publicado em 02/12/2019, às 00h00 - Atualizado às 13h52


Grupo preso acusado de incendiar floresta diz receber ameaças por causa de ‘fake news’ criada pelo presidente Bolsonaro com o nome do famoso ator

Em entrevista coletiva na tarde deste domingo (1), os quatro brigadistas presos pela polícia paraense em Alter do Chão suspeitos de incendiar uma área florestal dizem estar recebendo ameaças. Após sua libertação , o grupo buscou esclarecer rumores que estão circulando na internet que estão alimentando ideias de conspiração internacional, como o boato de que o ator Leonardo DiCaprio estaria financiando o grupo.

“Realmente a gente não recebeu nada do Leonardo DiCaprio”,  afirmou Marcelo Aron Cwerver, um dos voluntários soltos após decisão judicial prliminar na quinta-feira (28), confirmando afirmação do próprio ator.

“Essas fake news e esses ataques de prejulgamento estão deixando a gente em risco”, afirmou Daniel Gutierrez Govino, líder da brigada. “O portão da minha casa foi arrombado, e recebemos ameaças diárias nos grupos de WhatsApp de Alter do Chão. Realmente isso dá medo”.

Falando a jornalistas por cerca de uma hora, os brigadistas contaram como foi a operação de prisão e sua permanência em cela, que durou três dias. O áudio da entrevista foi distribuído à imprensa no fim desta tarde.

Questionados sobre se sofreram agressão física ou verbal, os quatro voluntários de combate a incêndio afirmam que “não houve excesso” por parte da polícia, mas relataram detalhes que podem colocar o procedimento policial sob questionamento.

Ação da polícia

Os brigadistas relatam ter fornecido fotografias à polícia sem serem informados de que estavam sendo investigados como suspeitos, dizem que a polícia arrombou portões das casas sem tocar a campainha durante as prisões, que forneceram senhas de celular antes de serem informados de que seriam detidos e, uma vez presos, tiveram barba e cabelo raspados.

“A gente foi supersolícito porque a gente sabia da nossa inocência. Então, tudo o que pediram para a gente, a gente acatou, para que se esclarecesse da forma mais rápida possível”, conta João Victor Pereira Romano, outro dos quatro voluntários presos.

“Quando a polícia chegou na nossa casa era bem cedo, minha esposa e meus filhos ainda estavam dormindo, no começo eu achei que se tratava de alguma coisa que estava acontecendo na rua e que os policiais estavam entrando para me pedir algum tipo de auxílio”,  conta Cwerver.

“Até perguntei para eles se estava aberto o meu portão. Eles disseram: ‘Não. A gente arrombou porque a gente tem um mandado de busca e apreensão’. Foi extremamente revoltante perceber que a gente estava sendo suspeito e, pior, preso de surpresa sem nem saber por quê”, finalizou.

Os brigadistas dizem ter estranhado bastante a acusação por terem trabalhado debelando incêndios sempre em parceria com policiais e bombeiros e por terem o trabalho conhecido e apoiado pela comunidade local.

Fotografias

Segundo Gutierrez, quando a polícia pediu a colaboração do grupo para investigar um grande incêndio que havia ocorrido na área de Capadócia, também às margens do rio Tapajós, em 14 de setembro, os brigadistas ofereceram farto material.

“Eu recebi uma mensagem por WhatsApp do delegado e prontamente aceitei”, conta Gutierrez. “A gente levou tudo o que a gente tinha para colaborar com as investigações e a gente ficou muito feliz em colaborar. Deixamos com eles gigas de material e fotos. Eu e o João somos fotógrafos. A gente faz imagens durante o incêndio porque não é qualquer um que tem coragem de ir até lá, então a gente precisa mostrar o que está acontecendo”.

A polícia alega que parte das imagens cedidas pelo grupo indicaria provaria seu envolvimento nos incêndios criminosos.

Por orientação da defesa, os brigadistas não comentaram sobre os trechos de conversas interceptadas que a polícia oferece como suposta prova do envolvimento do grupo em incêndios florestais. A teoria apresentada pela delegacia local, de que o grupo atearia fogo à floresta para fotografá-la e pedir doações para debelar o fogo, contraria uma investigação do Ministério Público Federal, que suspeita da ação de grileiros nos incêndios florestais na área.

Todos os brigadistas disseram ter ficado incrédulos ao saber das justificativas da polícia.

“Para mim, pessoalmente, o cabelo [raspado] não é nada perto de, pela primeira vez, ter sido algemado, pela primeira vez ter sido colocado numa injustiça enorme”, diz Gustavo de Almeida Fernandes, outro dos brigadistas presos. “Tudo fica muito relevante perto de você entrar em custódia tendo certeza absoluta que aquilo é irreal. Parece até um filme, uma ficção”.

Por iG

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