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Mulher tem alta após 7 meses internada com Covid, transplante de fígado e 5 intubações

Depois de sete meses internada para tratar a Covid-19, a bioquímica Aída Younes, de 67 anos, teve alta no dia 18 de junho do hospital Vila Nova Star, na Zona

Mulher tem alta após 7 meses internada com Covid, transplante de fígado e 5 intubações
Mulher tem alta após 7 meses internada com Covid, transplante de fígado e 5 intubações

Redação Publicado em 29/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h05


‘Renovei fé na medicina’, diz médica

Depois de sete meses internada para tratar a Covid-19, a bioquímica Aída Younes, de 67 anos, teve alta no dia 18 de junho do hospital Vila Nova Star, na Zona Sul de São Paulo.

O longo tratamento foi uma história de muitas idas e vindas, “felizmente com final feliz”, segundo a médica Ludhmila Hajjar, médica que tratou a amazonense.

“Foi um dos casos mais desafiadores da minha carreira. Renovei minha fé na Medicina e com certeza é um caso que me fez uma médica melhor”, disse a intensivista que tem mais de 20 anos de experiência em UTIs e é professora de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP.

Durante o tempo de internação, Aída Younes passou por 12 infecções sistêmicas, cinco intubações, insuficiência renal e falência hepática do fígado.

“Foram cerca de cem dias de intubação. O índice de óbito de uma infecção sistêmica é de 60% dos pacientes. Ela teve mais de dez infecções. Mas a Aída tinha uma força de reação e de vontade de viver que surpreendeu todo o hospital”, afirmou a médica.

Chegada a SP

Aída é de Manaus e chegou à cidade de São Paulo em uma UTI aérea de emergência. Ela desembarcou na capital paulista com quase 100% dos pulmões comprometidos pela Covid-19 e passou 47 dias em situação muito delicada, até que se recuperou e os médicos resolveram dar alta para ela no último dia do ano, 31 de dezembro.

Mas na data da alta ela começou a ter uma indisposição gástrica e ficar amarela. Sinal de complicações no fígado que só uma biópsia conseguiu identificar.

“Fizemos a biópsia e detectamos uma doença rara, uma complicação da Covid rara, mas fatal na maioria dos casos. O coronavírus tem uma pré-disposição para atacar os vasos e nesses casos ele ataca os vasos do fígado, inflamando e dando trombose. Então, o sangue não chega no fígado e ele vai enfraquecendo até a falência”, disse a médica do Vila Nova Star, que coordena uma equipe de mais de 12 profissionais que cuidaram da paciente manaura.

A saúde dela voltou a piorar e Aída teve quer ser novamente intubada. A solução para salvá-la, entretanto, era só um transplante de fígado.

Aída entrou, então, na fila do transplante e, por causa da gravidade do caso, em 48h foi contemplada com um fígado novo.

“Do ponto de vista técnico, nós fizemos o transplante convencional, habitual. Mas nós tínhamos que ser rápidos porque era uma doente muito grave, muito instável e se tivesse qualquer intercorrência um sangramento ou alguma disfunção essa paciente não suportaria. Aquele momento pra nós, foi um momento muito marcante”, contou o cirurgião do aparelho digestivo da Rede D’Or, Luis Carneiro D’Albuquerque.

Aída Younes, de 67 anos, e a irmã Penha.  — Foto: Acervo pessoal
Aída Younes, de 67 anos, e a irmã Penha. — Foto: Acervo pessoa

O transplante foi um sucesso, mas complicações pós-cirúrgicas ocorreram, como hemorragia e infecções, além de desnutrição e da falência temporária dos rins.

“Ela fez 40 sessões de hemodiálise entubada. É uma situação tão incomum que não está na literatura. Mas sempre que a gente achava que ela não resistiria porque estava muito fraca, ela reagia. E reagia nos momentos mais importantes, o que nos animava a não desistir dela e apostar na força dela em se recuperar”, contou a médica emocionada.

Para Ludhmila Hajjar, o caso de Aída Younes serve para ilustrar que a Covid-19 não é uma doença que deve ter tratada apenas com um manual, ou livros de Medicina, mas também entendendo a dinâmica pessoal de cada paciente.

“Nessa pandemia já acompanhei mais de mil pacientes. E o caso da Aída pra mim ficou muito cristalino que o foco do tratamento tem que ser no paciente, não especificamente na doença. Os americanos já trabalham bastante com esse entendimento de Patient-centred care. E sem dúvida os papos que tive com a paciente entubada e com a família dela também foram importantes para essa recuperação”, afirmou Hajjar.

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G1

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