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MP de SP ouve pela 1ª vez pacientes que usaram ‘kit Covid’ da Prevent Senior; tratamento é ineficaz contra doença

A força-tarefa do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) começa a ouvir pela primeira vez, a partir desta quinta-feira (14), pacientes que usaram o 'kit

MP de SP ouve pela 1ª vez pacientes que usaram ‘kit Covid’ da Prevent Senior; tratamento é ineficaz contra doença
MP de SP ouve pela 1ª vez pacientes que usaram ‘kit Covid’ da Prevent Senior; tratamento é ineficaz contra doença

Redação Publicado em 14/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h07


A força-tarefa do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) começa a ouvir pela primeira vez, a partir desta quinta-feira (14), pacientes que usaram o ‘kit Covid’ fornecido pela Prevent Senior. Já está cientificamente comprovado que os medicamentos fornecidos pela operadora de planos de saúde são ineficazes contra a doença. Em outras palavras, não previnem e nem combatem o vírus.

Entre os remédios que fazem parte do chamado “tratamento precoce” estão a hidroxicloroquina, a cloroquina, a ivermectina e a flutamida. Eles foram dados pela empresa para pacientes com coronavírus. Alguns deles tiveram complicações de saúde e outros morreram após o uso nos hospitais da rede.

Diretores e médicos da Prevent Senior são investigados pelo MP e pela Polícia Civil por determinarem e darem o ‘kit Covid’ a pacientes com sintomas ou infectados pelo vírus. Por esse motivo, eles são suspeitos de terem cometido ao menos três crimes contra as vítimas: homicídiofalsidade ideológica e omissão de notificação de doença obrigatória às autoridades.

Em outras oportunidades, dirigentes da Prevent Senior disseram à imprensa que seus médicos têm autonomia para prescrever o ‘tratamento precoce’ aos pacientes. Mas médicos ouvidos pela reportagem alegam que, na verdade, eles eram ameaçados pela empresa para dar o ‘kit Covid’.

Pacientes

Advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos, que deve prestar depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. — Foto: Arquivo pessoal
Advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos, que deve prestar depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. — Foto: Arquivo pessoal

Um dos pacientes que deverá ser ouvido nesta quinta pelo MP é o advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos. Beneficiário do plano da Prevent Senior, ele teve coronavírus e recebeu os medicamentos do “kit covid”.

Ouvido anteriormente em Brasília pela CPI da Covid, Tadeu falou que teve complicações ao tomar os remédios. Além disso, afirmou que a empresa cometeu uma série de irregularidades durante seu tratamento.

“Nós temos pacientes que serão ouvidos, temos familiares de pacientes que serão ouvidos. Já temos documentação vinda de alguns pacientes, documentações fornecidas pela própria Prevent Senior. E outros documentos que nós também já obtivemos”, falou o promotor Everton Zanella, coordenador da força-tarefa do MP.

Mais depoimentos de pacientes deverão ocorrer na sexta-feira (14). Além disso, também serão retomadas as oitivas de famílias de pacientes que morreram de Covid nos hospitais da Prevent Senior.

Os seis promotores que integram a força-tarefa do MP-SP pretendem chamar para depor ao menos 21 pacientes ou familiares de pacientes e, no mínimo, quatro médicos. Os depoimentos desta quinta ocorrerão a partira das 14h30 no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital. Dois deles serão virtuais e um presencial.

Também serão ouvidos diretores da Prevent Senior. Delegados já ouviram, juntamente com promotores, o diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior no do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil. O dirigente, que é médico, negou que a operadora de planos de saúde tenha cometido irregularidades no tratamento de pacientes com Covid.

“Nossa força-tarefa se preocupa efetivamente em investigar os crimes e punir os responsáveis. Os responsáveis criminalmente são sempre as pessoas físicas. São colaboradores, são as pessoas que atuaram de maneira ilícita”, afirmou o promotor Zanella.

A força-tarefa também apura se, mesmo após a ineficácia desses remédios contra a doença ter sido comprovada cientificamente ainda no ano passado, a empresa continuou a distribuir os kits a seus pacientes.

Desde o início dos trabalhos, já foram ouvidos seis parentes de pacientes que tiveram Covid e se trataram ou morreram nos hospitais da Prevent. Entre eles, houve quem relatou ter sido convencido a assinar o termo de consentimento de uso desses remédios depois de ter ouvido que “os medicamentos salvariam a vida” do paciente.

Segundo os promotores, ao menos um familiar de paciente da operadora de saúde disse ter recebido em 2021 o chamado kit Covid, com medicamentos ineficazes na prevenção e no combate à doença.

Os promotores Maria Fernanda de Castro Marques Maia, Éverton Zanella e Nelson dos Santos Pereira Júnior, da força-tarefa do MP que investiga a Prevent Senior, durante coletiva — Foto: Reprodução/TV Globo
Os promotores Maria Fernanda de Castro Marques Maia, Éverton Zanella e Nelson dos Santos Pereira Júnior, da força-tarefa do MP que investiga a Prevent Senior, durante coletiva — Foto: Reprodução/TV Globo

MP e Polícia Civil analisam ainda prontuários médicos dos pacientes que morreram, conversas, exames, receitas médicas, além de documentos repassados pela CPI da Covid e também pela Prevent Senior. Peritos médicos da própria Promotoria vão ajudar na análise técnica dos documentos.

A força-terafa do Ministério Público e o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa investigam a Prevent Senior por suspeita de que seus diretores e médicos possam ter cometido:

  • Homicídio – por dar a pacientes com coronavírus o chamado “kit Covid” com medicamentos ineficazes na prevenção e combate à doença. Alguns deles morreram após o uso desses remédios. E também depois de usarem outras medicações fora do kit, como a flutamida, por exemplo;
  • Falsidade ideológica – por adulterar certidões de óbito de pacientes, deixando de informar que as mortes deles foram decorrentes do coronavírus;
  • Omissão de notificação de doença obrigatória às autoridades – omitir nos registros médicos que se tratavam de pacientes infectados com o vírus.
Anthony Wong e Luciano Hang ao lado da mãe, Regina Hang — Foto:  Reprodução/TV Globo; Acervo pessoal
Anthony Wong e Luciano Hang ao lado da mãe, Regina Hang — Foto: Reprodução/TV Globo; Acervo pessoal

A Polícia Civil tem dois inquéritos que investigam a Prevent Senior. Além do inquérito sobre a Prevent no DHPP, a operadora é investigada em outro procedimento no 77º Distrito Policial (DP), na Santa Cecília, no Centro da capital paulista.

É um inquérito que apura se a empresa cometeu crime de falsidade ideológica, mais especificamente, por não mencionar a Covid nas certidões de óbitos do médico pediatra Anthony Wong e da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang. A pedido do MP, este inquérito será anexado à investigação em curso no DHPP.

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G1

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