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Mortes suspeitas e confirmadas por Covid em 2021 na cidade de SP já ultrapassam total de 2020

A pandemia do novo coronavírus na cidade de São Paulo provocou mais mortes suspeitas e confirmadas por Covid-19 em 189 dias de 2021 do que nos 295 dias de

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Redação Publicado em 11/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h40


Atualização semanal da Secretaria Municipal da Saúde indica que a capital já registrou 23.187 mortes ligadas à pandemia neste ano. Em 2020, total é de 22.797. Alto de Pinheiros, na Zona Oeste de SP, tem a mais baixa taxa de mortalidade pela doença na cidade.

A pandemia do novo coronavírus na cidade de São Paulo provocou mais mortes suspeitas e confirmadas por Covid-19 em 189 dias de 2021 do que nos 295 dias de pandemia em 2020, entre 12 de março e 31 de dezembro do ano passado.

Segundo dados mais recentes de mortalidade na capital, entre 1ª de janeiro e 8 de julho deste ano a cidade registrou 23.187 mortes suspeitas ou confirmadas por Covid-19, o que representa uma média de 122 mortes por dia.

Em 2020, o total foi de 22.797, média diária de 77 mortes. A média de 2021, até agora, é 59% mais alta que a registrada no ano passado.

As informações são atualizadas semanalmente pelo Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-AIM), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS-SP) e são diferentes das divulgadas diariamente pelo estado, pois são atualizados antes dos dados do estado, que conjuga todas as informações de todas as prefeituras antes da consolidação.

O programa da cidade de São Paulo, considerado modelo em todo o Brasil, usa os dados das declarações de óbitos para checar e confirmar a residência das vítimas e outras informações, como a causa da morte. Durante a pandemia, a SMS adotou o critério de manter os registros das mortes suspeitas de Covid-19 dentro da classificação de “óbitos provavelmente de Covid-19”.

Nesta quinta (8), a cidade chegou a 20 mil mortes confirmadas por Covid-19 só neste ano. Segundo o site Our World in Data, apenas 29 países do mundo acumulam, desde 2020, mais de 20 mil mortes pela doença. Na capital, somando as confirmações de 2020 e 2021, são mais de 36 mil vidas perdidas, além de 8,9 mil ainda consideradas suspeitas.

A capital já registrou 23.187 mortes ligadas à pandemia neste ano. Em 2020, total é de 22.797 — Foto: Ana Carolina Moreno/TV Globo

A capital já registrou 23.187 mortes ligadas à pandemia neste ano. Em 2020, total é de 22.797 — Foto: Ana Carolina Moreno/TV Globo

Mortalidade desigual

Mas o impacto da Covid-19 em São Paulo variou entre os 97 distritos da capital, segundo mostram os dados. Comparando a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes já ajustada pelo perfil etário dos habitantes de cada distrito, a diferença entre o risco de morrer chega a ser quase quatro vezes mais alta, dependendo do distrito onde cada pessoa mora.

No Alto de Pinheiros, por exemplo, a taxa é a mais baixa da cidade: 258 mortes por 100 mil habitantes em 15 meses de pandemia. No total, ele conta com uma população de 41.205 pessoas, e registrou 138 mortes pela doença até 2 de julho (18% delas eram classificadas como suspeitas).

O distrito, segundo dados da Fundação Seade, é o que tem a maior proporção de pessoas idosos no total da população: 29,2% dos residentes têm 60 anos ou mais.

Apesar de a gravidade da Covid-19 ser mais alta entre as pessoas mais velhas, especialistas explicam que, quando consideramos toda a população em um local, ou seja, tirando o peso da proporção de idosos, que varia de distrito para distrito, é possível enxergar outros fatores que afetam diretamente o risco de morrer.

Cidade de SP tem áreas com maior incidência de mortes pela doença neste ano — Foto: TV Globo

Cidade de SP tem áreas com maior incidência de mortes pela doença neste ano — Foto: TV Globo

Desigualdade social aumenta o risco de morrer

O nível de escolaridade e a renda média, por exemplo, são fatores apontados como determinantes para o aumento da mortalidade. No Alto de Pinheiros, 56% dos residentes têm o ensino superior completo, e só 7% das famílias têm renda de até meio salário mínimo per capita.

No outro extremo da taxa de mortalidade, o distrito de Iguatemi, periferia da Zona Leste, acumulou no mesmo período da pandemia uma taxa de 979 mortes a cada 100 mil habitantes. Isso quer dizer que o risco relativo de um morador do Iguatemi morrer de Covid-19 é 3,8 vezes mais alta que o de um morador do Alto de Pinheiros.

Na região, a 20 quilômetros do centro da cidade, a população total está estimada em 127.003 pessoas, e 572 mortes até 2 de julho, sendo que 27% foram classificadas como suspeitas. E a situação socioeconômica se inverte: só 5% das pessoas têm ensino superior completo, e 33% dos domicílios têm renda per capita de até meio salário mínimo.

São pessoas que já viviam em dificuldade e qualidade de vida menor.

O aposentado Antonio dos Santos é um deles.

“O pobre já vive sofrendo há tempos”, explicou ele à reportagem, na manhã da última quarta-feira (7). “E essa doença só acabou de derrubar o pobre, todo! Muitos passando fome, que a gente vê, morando na rua, não tem onde morar nesse tempo frio, mudança de tempo. O pobre é sofrido mesmo.”

Pretos e pardos são maioria nos distritos mais afetados

Segundo especialistas ouvidos pela TV Globo, esses fatores são determinantes para garantir às pessoas melhores condições pré-existentes, como por exemplo, a incidência de uma ou mais comorbidades que podem agravar o quadro da doença. Além disso, quem tem maior escolaridade e renda mais alta tem melhores condições de praticar o distanciamento social, se isolar em caso de contágio e, caso precise de atendimento hospitalar, acesso à saúde privada.

“As pessoas, pra elas morrerem da doença, elas têm que adquirir a doença”, explica a epidemiologista Karina Ribeiro, especialista em saúde coletiva. “E quem está na economia informal está usando transporte público e não consegue fazer home-office. Estão na população menos favorecida, tiveram que circular mais.”

Tanto Karina quanto Rafael Pereira, pesquisador em estudos urbanos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ressaltam que os distritos em condições mais desfavoráveis também são os que concentram mais pessoas pretas ou pardas.

“A população de baixa renda e negra tende a ter uma ocupação mais precária. Essas profissões têm menos capacidade de fazer teletrabalho”, afirmou Pereira. “A gente consegue perceber que os bairros brancos e de alta renda se isolam primeiro, mais rápido e por mais tempo. E as mais vulneráveis, pela precariedade, elas precisam de uma renda então acabam saindo de casa e menos capacidade de aderir as medidas de isolamento social e lockdown.”

Segundo ele, uma alternativa para tentar mitigar o efeito das desigualdades sociais na mortalidade por Covid-19 seria tentar acelerar a vacinação entre a população com o risco mais alto de morrer.

“Uma vez que a gente vacinou todo o grupo de risco, a população mais idosa, profissionais da Saúde, seria interessante uma estratégia mais eficaz”, afirmou o pesquisador. “O que é mais eficiente? Você vacinar uma pessoa que tem condição de ficar em casa, se isolar, ou alguém que vai ter que sair e se expor? O cálculo não é difícil de fazer. Quem é de baixa renda tem o risco maior de ser contaminado e passar para outras pessoas.”

Na casa da dona e casa Mara da Mata Paes Landim, o cuidado precisa ser ainda redobrado por causa do alto número de pessoas dividindo a mesma casa. “A gente mora em sete pessoas, nessa pandemia não foi fácil pra ninguém. A gente não pode sair de casa, quando sai, sai um ou dois.”

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Fontes: G1 – Globo.

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