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Messianismo e política

Por Rodrigo Constantino

Messianismo e política
Messianismo e política

Redação Publicado em 05/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h16


Por Rodrigo Constantino

Messianismo e política

A política existe porque a vida em sociedade demanda solução para problemas coletivos. Daí a necessidade da coisa pública. Se duas tribos diferentes se deparam diante de alguma questão, a saída é a guerra ou a política. O advento da democracia republicana foi a alternativa encontrada para o violento tribalismo. Resguardar a propriedade privada e o máximo possível das liberdades individuais é o objetivo em civilizações mais livres e avançadas, mas diversos dilemas serão inevitáveis e há uma região cinzenta para tratar dessas questões, sem clara resposta.

O risco sempre foi, porém, a captura do aparato estatal, com seu monopólio da coerção, por grupos organizados ou tribos mais influentes. Daí a descentralização do poder por meio do federalismo, o mecanismo de freios e contrapesos, os limites constitucionais ao estado, a redução do escopo daquilo que deve ser decidido pela política etc. Não devemos, contudo, esperar milagres. O que sempre fez do estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso, alertou Hoelderlin.

Há toda uma escola econômica de pensamento voltada para a análise das falhas de governo. A Public Choice School, ou Escola de Virgínia, parte da premissa um tanto cínica, porém realista, de que o ser humano é egoísta, e que não existe distinção entre o “homo economicus” e o “homo politicus”, ou seja, todos nós reagimos ao mecanismo de incentivos. Esperar por santos clarividentes na política talvez seja o maior defeito de todos, o mais ingênuo e perigoso. Não são poucos os que caem no paradoxo de demonizar políticos de carne e osso, mas delegar ao estado a solução para todos os nossos males, ignorando que o estado é formado por políticos.

Claro que quanto mais gente com virtudes decidir ir para a política, melhor. Indivíduos podem fazer a diferença, para o bem ou para o mal. Mas é um equívoco, ainda que tentador, esperar por salvadores da Pátria com suas promessas utópicas. Com a “morte de Deus” anunciada por Nietzsche, todavia, muitos transferiram a fé redentora para a política. Acabamos com religiões seculares, ou seja, ideologias que nos oferecem o paraíso terrestre. E isso não costuma acabar bem.

Não resta dúvidas de que todo candidato vai explorar as duas principais paixões humanas: o medo e a esperança. Alguns vão repetir slogans como “sim, nós podemos”, apresentando projetos grandiloquentes, e outros vão trabalhar incutindo pânico nos eleitores caso seu adversário vença, projetando o caos como resultado. Desnecessário dizer que o caos, eventualmente, ocorre mesmo, como podemos ver na Venezuela ou em todo experimento socialista. Mas o paraíso terrestre nunca é atingido, nem pode. Sem falar que a visão de paraíso é diferente para cada um.

Tudo isso para constatar que é louvável ver pessoas sérias, com um histórico de bons serviços prestados ao país, ingressando na vida política. Desde que sem expectativas irreais, sem sonhos messiânicos, pois o “sistema”, companheiro, é bruto, e o homem é o que é: imperfeito por natureza, pior dependendo dos incentivos.

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