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Mesmo investigados, candidatos ligados a facções criminosas se elegem pelo país

Mesmo tendo sido alvo de uma operação da  Polícia Civil durante sua pré-campanha, Danilo Francisco da Silva, o Danilo do Mercado (MDB), conseguiu com folga os

Mesmo investigados, candidatos ligados a facções criminosas se elegem pelo país
Mesmo investigados, candidatos ligados a facções criminosas se elegem pelo país

Redação Publicado em 17/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h19


Entre réus, condenados e suspeitos, a lista de nomes envolvidos com o crime organizado é extensa e conta agora com mais integrantes na classe política

Mesmo tendo sido alvo de uma operação da  Polícia Civil durante sua pré-campanha, Danilo Francisco da Silva, o Danilo do Mercado (MDB), conseguiu com folga os votos necessários para ser eleito vereador da cidade de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense . Suspeito de ser chefe de um grupo de extermínio e ter encomendado a morte de um homem que não quis lhe vender um terreno, ele foi o oitavo candidato mais bem votado no município, com 6080 votos.

Assim como Danilo, pelos menos outros 29 candidatos concorreram a prefeituras e câmaras de vereadores nestas eleições com algum tipo de suspeita de envolvimento com o crime organizado, segundo identificou um levantamento do GLOBO. Destes, sete conseguiram se eleger e outros doze conseguiram votos suficientes para ficar na lista de suplentes de suas bancadas, mesmo sendo suspeitos de integrarem facções do tráfico, milícias e grupos de extermínio. Apenas um teve a candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral. Nove deles não conseguiram se eleger e um renunciou à candidatura.

Do total, 23 são alvos de inquéritos, réus na Justiça ou condenados . Ao todo, 12 candidatos têm laços com milícias e grupos de extermínio; outros 19, com o tráfico. Em outros oito casos, filhos, irmãos, mulheres e amigos usam os nomes dos criminosos para se eleger.

Um destes casos de parentesco com suspeitos de integrar facções criminosas também é de Duque de Caxias. Filho de Chiquinho Grandão, que tem mandato na câmara da cidade até hoje mesmo tendo sido preso em 2010 por integrar uma milícia que controlava vários bairros do município, Vitinho Grandão (Solidariedade) foi eleito vereador com 3410 votos. Com o fim do mandato do pai, caberá a Vitinho dar sequência a influência política local do clã.

A condenação a quatro anos de prisão em regime semiaberto por integrar uma quadrilha internacional de tráfico de drogas não impediu os planos eleitorais de Alexandrino Garcia (PSDB). Atual prefeito de Aral Moreira (MS), ele foi reeleito com 40% dos votos. De acordo com a condenação, o prefeito se associou a uma quadrilha de traficantes bolivianos para enviar drogas para a Itália.

Quem também obteve sucesso nas eleições foi o vereador e candidato à reeleição em Alvorada do Sul (PR), Diogo Canata (SD). Apesar de estar preso, acusado de integrar uma quadrilha de traficantes que distribuía cocaína e crack entre cidades da região, ele continuou com a campanha e obteve 251 votos, o suficiente para ser o quarto candidato mais votado na cidade.

Em Embu das Artes (SP), na região metropolitana de São Paulo, o prefeito Ney Santos foi reeleito com 48% dos votos mesmo sendo acusado de ter ligação com uma facção criminosa. Em 2016, Santos chegou a ter sua prisão decretada durante a operação Xibalba do Ministério Público de São Paulo. Ele responde criminalmente por adulteração de combustível, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha.

Após cumprir quase um ano da pena da condenação por associação para o tráfico de drogas , Wesley George de Oliveira, o Miga (DEM), teve a prisão preventiva revogada e conseguiu se reeleger vereador em Japeri (RJ) com 875 votos. Ele foi preso em 2018, quando chegou a ficar foragido, após o Ministério Público do Rio de Janeiro e a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) que ele integrava uma das maiores facções criminosas do estado que havia se instalado na Prefeitura de Japeri.

Há candidatos que, apesar da derrota no domingo, podem ocupar uma vaga na Câmara . O vereador e candidato à reeleição Janio Calistro (DEM) é réu e foi preso acusado de ter ligação com facção do tráfico. Os 1549 votos que recebeu lhe renderam a primeira suplência. Em Igarapé-Mirim (PA), Altamir Amaral (MDB) – irmão de Pé de Boto, prefeito preso por chefiar grupo de extermínio, será o terceiro suplente da bancada.

Outros postulantes a cargos eletivos com nomes associados ao crime acabaram fracassando. Em Japeri, o prefeito e candidato a reeleição, Carlos Moraes Costa – preso em operação contra o tráfico e réu – ficou apenas na quinta colocação, com 4,32% dos votos. Em Magé, André Antonio do Nascimento (PSD) – alvo de operação por suposto envolvimento com a milícia – ficou apenas na quinta colocação na disputa da Prefeitura, com 6,66% dos votos.

Se as acusações e até mesmo prisões não foram suficientes para impedir a continuidade de muitas campanhas, o mesmo não aconteceu com o vereador de Caraguatatuba (SP), Flávio Nishiyama Filho (PTB). Preso em agosto, acusado de ser integrante da maior facção do estado, ele chegou a registrar sua candidatura, mas renunciou, na reta final, depois que não conseguiu ser libertado. O nome de Gerson Ferreira (PDT), réu por ligação com o tráfico, chegou a se registrar como candidato, em Volta Redonda (RJ), mas seu nome já não aparecia no sistema do TSE no domingo após a Justiça Eleitoral indeferir a candidatura.

Situação dos 30 candidatos ligados ao crime

Alex de Almeida Brasil (PV) –  Candidato a vereador em Queimados (RJ). Usa o nome ligado a Davi Brasil, vereador que já foi preso acusado de integrar milícia. NÃO ELEITO

Alexandrino Arévalo Garcia (MDB) –  Prefeito e candidato à reeleição em Aral Moreira (MS). Condenado a quatro anos de prisão por integrar quadrilha internacional de tráfico de drogas. ELEITO

Altamir Santa Maria do Amaral (MDB) –  Candidato a vereador em Igarapé-Miri (PA). Irmão de Pé de Boto, prefeito preso por chefiar grupo de extermínio. SUPLENTE

André Antonio Lopes do Nascimento (PSD) –  Candidato a vererador em Magé (RJ). Foi alvo de operação, suspeito de ter relação com a milícia. NÃO ELEITO

Antônio Carlos de Barros Vieira (Republicanos) –  Vereador, candidato à reeleição em Sapucaia do Sul (RS). Preso em operação contra lavagem de dinheiro do tráfico, é réu. SUPLENTE

Calistro Lemes do Nascimento (DEM) –  Vereador, candidato à reeleição em Várzea Grande (MT). Ex-PM, foi preso acusado de ter ligação com facção do tráfico. É réu. SUPLENTE

Carlos Moraes Costa (PSDB) –  Prefeito e candidato à reeleição em Japeri (RJ). Foi preso em operação contra o tráfico. É réu. NÃO ELEITO

Carminha Jerominho (PMB) –  Candidata à vereadora no Rio de Janeiro (RJ). Filha de Jerominho, condenado a 19 anos de prisão por chefiar maior milícia do Rio. NÃO ELEITA

Cristiano Santos Hermógenes (PL) –  Candidato a prefeito de Belford Roxo (RJ). Irmão do Marcinho VP, um dos maiores chefes da facção. NÃO ELEITO

Daniel de Carvalho Marques (PTC) –  Candidata à vereador no Rio de Janeiro (RJ). Filho de Deco, condenado por integrar milícia. NÃO ELEITO

Danilo Francisco da Silva (MDB) –  Candidato a vereador em Duque de Caxias (RJ). Alvo de operação, suspeito de chefiar milícia. ELEITO

Diogo Michel Canata (SD) –  Vereador e candidato à reeleição em Alvorada do Sul (PR). Está preso, sob acusação de integrar o tráfico. ELEITO

Eliaquim Pinheiro da Costa (DC) –  Candidato a vereador em Salvador (BA). Soldado preso sob acusação de chefiar grupo de extermínio. NÃO ELEITO

Elisamar Miranda Joaquim (PDT) –  Candidato a vereador em Belford Roxo (RJ). Irmão de Criam, chefe do tráfico do Complexo do Roseiral, preso durante o período eleitoral. É réu. SUPLENTE

Flavio Rodrigues Nishyama Filho (PTB) –  Vereador candidato à reeleição em Caraguá (SP). É réu e foi preso por ligação com o tráfico. RENUNCIOU

Gerson Chrisostomo Ferreira (PDT) –  Ccandidato a vereador em Volta Redonda (RJ). É réu por ligação com o tráfico, foi preso em flagrante. INDEFERIDO

Gisckard Ranniery Lacerda da Silva (PSDB) –  Candidato a vereador em Areia Branca (RN) – Preso durante a campanha, é réu por ligação com o tráfico. SUPLENTE

José Carlos de Souza Nascimento (PTB) –  Vereador, candidato à reeleição em Suzano. Preso, é réu por ligação com o tráfico. SUPLENTE

Márcio Cardoso Pagniez (PSL) –  Vereador e candidato à reeleição em Belford Roxo (RJ). É réu acusado de integrar milícia e está preso. SUPLENTE

Ney Santos (Republicanos) –  Prefeito e candidato à reeleição em Embu das Artes (SP). Acusado de ligação com facção criminosa. ELEITO

Patrícia de Rinaldo do Gavião (Cidadania) –  Candidata a vereadora em Princesa Isabel (PB). Usa o nome do marido, vereador preso por chefiar grupo de extermínio. SUPLENTE

Radson Alves de Souza (Cidadania) –  Candidato a vice-prefeito em Tonantins (AM). Condenado por lavar dinheiro de facção criminosa. NÃO ELEITO

Rafael Santana de Souza (MDB) –  Candidato a vereador em Aral Moreira (MS). É réu por ligação com o tráfico, faz campanha com tornozeleira eletrônica. SUPLENTE

Romário Pereira da Silva (PSC) –  Candidato a vereador em Areia Branca (RN). É réu, foi preso durante a campanha por ligação com o tráfico. NÃO ELEITO

Valmir Santos Filho (PSL) –  Candidato a vereador em São Gonçalo – réu, foi Preso em flagrante por ter produtos roubados em oficina; polícia investiga lavagem de dinheiro do tráfico. SUPLENTE

Victor Hugo Leonel da Silva (SD) –  Candidato a vereador em Duque de Caxias (RJ). É filho de Chiquinho Grandão, condenado por integrar milícia. ELEITO

Wagner Feitosa (SD) –  Vereador candidato à reeleição em Boa Vista (RR). É réu e suspeito de se eleger com dinheiro de facção criminosa. SUPLENTE

Wainer Teixeira Junior (PSD) –  Candidato a vereador em Maricá (RJ). Condenado por integrar milícia. SUPLENTE

Waldir Brazão (Avante) –  Candidato a vereador no Rio. Usa o nome de suspeito de ligação com a milícia. ELEITO

Wesley George de Oliveira (DEM) –  Vereador candidato à reeleição em Japeri (RJ). Réu, foi preso em operação contra o tráfico. ELEITO.

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