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Menos alunos e professores valorizados: como será a educação brasileira em 2060

O Brasil terá, em 2060, dez milhões de jovens entre 0 e 14 anos a menos do que teve em 2018. Assim, de acordo com projeções do IBGE, haverá uma população

Menos alunos e professores valorizados: como será a educação brasileira em 2060
Menos alunos e professores valorizados: como será a educação brasileira em 2060

Redação Publicado em 05/12/2019, às 00h00 - Atualizado às 13h46


Com base em dados do IBGE, Instituto Ayrton Senna aponta ideias com ações e políticas públicas voltadas para o ensino básico de cada estado do Brasil

O Brasil terá, em 2060, dez milhões de jovens entre 0 e 14 anos a menos do que teve em 2018. Assim, de acordo com projeções do IBGE, haverá uma população nessa faixa etária de 33,6 milhões de crianças e adolescentes. Com base neste cenário e usando indicadores específicos, o Instituto Ayrton Senna apresenta hoje, em São Paulo, estudo na oficina “Enfrentando os desafios educacionais”, com propostas de ações e políticas públicas voltados para o ensino básico de cada um dos estados e o Distrito Federal.

“Vamos oferecer opções para os secretários de Educação . Se há turmas com mais de 23 alunos, por exemplo, pode-se diminuir o tamanho delas com o objetivo de melhorar o aprendizado. A taxa de fecundidade vem caindo no país e há uma janela de oportunidade com o número menor de crianças — afirma Laura Machado, especialista de educação na cátedra do Instituto Ayrton Senna no Insper.

Além do número e tamanho de turmas com projeções, o Instituto fez projeções a partir do estado dos prédios escolares e de seus equipamentos, da formação dos professores e de suas motivações.

Para Laura Machado, política que dá mais resultado no aprendizado do aluno é o investimento no professor: “quanto mais o professor tiver experiência, melhor para o aluno, principalmente o mais vulnerável. (O ideal é) manter o professor dedicado exclusivamente a uma escola, para que ele tenha uma relação mais próxima com os alunos. Os professores se sentem pouco valorizados e (o crescimento na) carreira é fator de mobilidade social. Boa parte deles são filhos de pais que não concluíram o ensino médio e são os primeiros da família a cursar universidade. Ou seja, ao investir no professor vê-se esses dois lados”.

Menos escolas

Laura Machado pontua, no entanto, que é preciso se levar em conta as disparidades entre os estados brasileiros. Em São Paulo, por exemplo, a redução no número de crianças e adolescentes já é registrada. Já no Amazonas ainda cresce a quantidade de jovens. De acordo com as projeções do IBGE , a região Norte apresenta taxa de fecundidade (número de filhos por mulher) de 2,1 filhos. Nas demais regiões, detecta-se queda na população.

A especialista do Instituto Ayrton Senna ressalta que a redução significativa do número de futuros alunos também pode sugerir políticas públicas com resultados controversos. Para Laura Machado foi o caso de São Paulo, que implantou, em 2015, uma reforma escolar que incluía o fechamento de várias unidades. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) acabou tendo de voltar atrás depois de uma série de ocupações escolares que protestavam contra a medida.

“São Paulo viveu essa transição, reorganizou a rede, mas não combinou com ninguém. Além das evidências, há de se considerar outras questões ao fazer as mudanças”, afirma.

De acordo com as projeções reunidas pelo Instituto Ayrton Senna, o número de alunos da educação básica de São Paulo vai cair de 7,1 milhões em 2018 para 6,4 milhões em 2050. Isso significa, ainda de acordo com o estudo divulgado nesta quinta-feira, que as escolas públicas do estado vão precisar de 7% menos turmas e professores.

Choque de gestão

No Estado do Rio, a população atendida de 0 a 17 anos cresce até 2025, mas já será menor em 2050. Daqui a 31 anos, 73% das crianças de 0 a 3 anos serão atendidas em creches, e a maioria delas, de acordo com as projeções, serão privadas. É que há um crescimento mais acelerado da oferta de vagas das privadas do que na das públicas. Se continuarmos dessa forma, alerta o estudo, o setor público perderá espaço numa área até agora dominada pelas unidades custeadas pelo Estado.

“Está aumentando a matrícula de crianças em escola privada, mas se houver um choque de gestão, os pais podem voltar a colocá-las nas escolas públicas. O Brasil não tem mais problema de número de vagas, somente para as creches. Uma solução seria usar essa estrutura para atender a população de 0 a 3 anos”, afirma Laura.

A previsão do Instituto Ayrton Senna é a de que a rede pública de educação no estado do Rio dobrará a quantidade de creches — passando de 20 mil para 40 mil. No entanto, em todas as outras etapas escolares haverá queda do número de colégios — a rede passará de 98 mil instituições de ensino público de pré-escola, ensino fundamental e médio para 85,5 mil.

iG

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