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‘Me add na urna?’: Conheça estratégias de candidatos para chamar sua atenção nas redes sociais

Eles estão te mirando: os candidatos querem saber seu perfil nas redes sociais, ter seu contato, ter destaque na sua timeline e tentar te convencer de uma

‘Me add na urna?’: Conheça estratégias de candidatos para chamar sua atenção nas redes sociais
‘Me add na urna?’: Conheça estratégias de candidatos para chamar sua atenção nas redes sociais

Redação Publicado em 28/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 16h31


Eles estão te mirando: os candidatos querem saber seu perfil nas redes sociais, ter seu contato, ter destaque na sua timeline e tentar te convencer de uma posição política.

Mas dá para inverter essa mira também. Se as campanhas estão de olho em você nas redes, dá para olhar bem as ações deles e perguntar: como é que essa mensagem chegou aqui a mim?

G1 te ajuda a entender quatro estratégias em alta nas redes sociais nas eleições 2018, mostra o que é permitido ou não e dá dicas de como entender e verificar:

  1. Anúncios patrocinados no Facebook
  2. Influenciadores e hashtags no Twitter
  3. Listas de transmissão no WhatsApp
  4. Vídeos virais de candidatos “lacrando”

1 – Você é alvo no Facebook

Esta é a primeira eleição no Brasil em que a lei permite que candidatos paguem para as plataformas de redes sociais impulsionarem seus posts. É preciso, entretanto, seguir algumas regras, que estão previstas na Lei 9.504/1997, conhecida como Lei das Eleições:

  • O anúncio tem que estar identificado “de forma inequívoca”
  • Só pode ser contratados por partidos, coligações e candidatos e seus representantes
  • Só pode ser feito “com o fim de promover ou beneficiar candidatos ou suas agremiações.”

E, ao se falar de anúncios em redes sociais, uma palavra vem à tona nas campanhas: “microdirecionamento”. Dá para promover cada mensagem para um perfil definido: por gênero, idade, região, interesses etc.

O Facebook sabe quem você é com base em tudo que você faz na rede. Com isso, cada anunciante – no caso, candidato – pode direcionar cada post patrocinado.

O uso político da rede foi muito discutido nos EUA em 2016, quando russos tentaram influenciar nas eleições do país. O Facebook foi criticado e agora tenta separar o que é legítimo ou não e, principalmente, dar transparência ao sistema.

Essa reação tem reflexo agora para o eleitor/internauta no Brasil. É que o site te deixa saber cada vez mais por que determinado anúncio chegou até você, quem veiculou, quem burlou regras, o que cada candidato promove e até quanto gasta.

Os anúncios na linha do tempo têm a palavra “patrocinado” abaixo do nome do usuário. Do lado direito, o ícone com três pontinhos leva à pergunta-chave: “Por que estou vendo isso?”.

Anúncios que aparecem na sua linha do tempo mostram a palavra 'patrocinado' abaixo do nome do candidato (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Anúncios que aparecem na sua linha do tempo mostram a palavra ‘patrocinado’ abaixo do nome do candidato (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Nesse botão, você descobre que um candidato chegou a você porque buscava pessoas de certa região, idade e com interesses específicos.

É possível verificar que o candidato chegou até você porque buscava um perfil definido de pessoas a quem atingir (Foto: Alexandre Mauro/G1)

É possível verificar que o candidato chegou até você porque buscava um perfil definido de pessoas a quem atingir (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Além disso, nas páginas do candidato, abaixo da foto de perfil, você pode clicar em “Informação e anúncios”. Ali você vê todos os anúncios pagos dele.

Também é possível verificar todos os anúncios pagos pelo candidato se você clicar em 'Informações e anúncios' abaixo da foto de perfil dele (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Também é possível verificar todos os anúncios pagos pelo candidato se você clicar em ‘Informações e anúncios’ abaixo da foto de perfil dele (Foto: Alexandre Mauro/G1)

O Facebook ainda criou uma “Biblioteca de anúncios”, em que dá para pesquisar todos os posts patrocinados políticos.

Na Biblioteca de Anúncios criada pelo Facebook, dá para pesquisar todos os posts patrocinados políticos. (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Na Biblioteca de Anúncios criada pelo Facebook, dá para pesquisar todos os posts patrocinados políticos. (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Pela lei, os anúncios só podem ser patrocinados por candidatos, partidos ou coligações. Quem não é candidato, pode ser multado se pagar para impulsionar um post pedindo votos, por exemplo.

A multa por anúncio irregular nas redes pode ir de R$ 5 mil a R$ 30 mil, diz o advogado Hélio Freitas de Carvalho da Silveira, coautor do livro “Direito Eleitoral na Era Digital”.

“Qualquer cidadão pode manifestar sua preferência e até pedir voto pelas redes sociais. O que uma pessoa física não pode é patrocinar essa publicação. Esse impulsionamento pago só é permitido para partidos, candidatos e coligações”, esclarece o advogado.

O Facebook exige que os anunciantes identifiquem o conteúdo político e quem está pagando. A “Bilbioteca de anúncios” mostra até os que burlaram estas regras e os anúncios que foram derrubados.

O centro de pesquisa InternetLab está monitorando esses anúncios pagos no projeto Você na Mira, com uma ferramenta que coleta esses posts e mostra para quem foram direcionados.

Eles já perceberam, por exemplo, anúncios de um candidato direcionados a seguidores de um adversário. A ação é permitida – mas é eficiente? “Ainda não dá para saber se estratégias como essa vão surtir efeito, mas é importante acompanhar”, diz Francisco Brito Cruz, advogado e diretor do InternetLab.

2 – Influenciadores e hashtags no Twitter

No Twitter, dois aspectos são visados nas eleições: a força das hashtags (palavras-chave) entre os assuntos mais comentados e o discurso de “influenciadores”, pessoas muito populares que podem ajudar no sobe-e-desce dos temas e conversas nas redes.

Emplacar uma hashtag nos trending topics, a lista do Twitter de temas em alta, é sinal de #sucesso. Mas, se a ação tem que ser rápida, há um planejamento bem anterior.

G1 falou sobre esse mutirão com o coordenador do diretório estadual de um partido, que pediu para não ser identificado. “Nós já combinamos as hashtags principais da campanha no início do ano. Depois, disseminamos e instruímos os grupos. Com isso a mensagem vai se fortalecendo.”

“Tudo isso é muito coordenado”, diz Fabio Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e pesquisador de redes sociais e comunicação política. “Muitas vezes esses grupos criam um ‘banco de tuítes’, com mensagens e respostas prontas para os seguidores compartilharem”, ele diz.

Influenciadores: pode pagar?

Casos como o que Fabio comentou, em que grupos de apoiadores combinam as mensagens a serem divulgadas, estão dentro das normas.

Mas e se envolver dinheiro? Um candidato ou partido pode pagar para que usuários influentes declarem apoio e espalhem suas mensagens nas redes sociais?

A lei eleitoral só permite publicidade na internet no caso de candidatos pagarem o impulsionamento às próprias redes sociais. Francisco Brito Cruz considera, portanto, que esse pagamento a influenciadores pelos posts não é permitido.

“Quando a pessoa está fazendo espontaneamente, acho difícil argumentar que não faz parte da liberdade de expressão dela. Mas, quando tem pagamento, isso pode ser interpretado como compra de publicidade, que nesse caso é irregular”, ele diz.

Francisco avalia que a ação foge das normas mesmo que os influenciadores apenas elogiem o candidato e não peçam voto direto a ele. “Poderiam dizer que não é uma ação eleitoral, mas apenas política. Mas, como a gente está durante o período eleitoral, acho difícil esse argumento.”

“Eles estão produzindo mídia, isso é uma compra de mídia que não está regulamentada pela legislação eleitoral”, ele diz.

Nesse caso, a multa também pode ser de R$ 5 mil a R$ 30 mil e pode ser aplicada tanto à pessoa que fez a publicidade irregular como para o candidato e o partido que fez o pagamento.

Como esta é a primeira eleição com a nova regra sobre impulsionamento de conteúdo nas redes, sua aplicação deverá ficar mais clara após casos específicos sobre o tema chegarem à Justiça Eleitoral.

E os robôs?

Quando se fala em trending topics, eles sempre são citados. Os robôs, ou bots, são contas falsas ou formas automatizadas de gerar números artificiais nas redes. São usados, por exemplo, por músicos que querem criar um “sucesso fake”.

Após anos de críticas sobre o problema, o Twitter resolveu agir neste ano. Entre maio e junho, deletou mais de 70 milhões de contas pelo mundo que identificou como falsas.

Mas isso não eliminou todos os robôs. A ação de bots nos debates políticos foi identificada em análises do InternetLab e também da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP).

“Há uma preocupação maior da empresa em encontrar essas contas automatizadas e banir, mas elas ainda existem”, diz Danilo Carvalho, pesquisador do DAPP. Ele diz que houve sinais do aumento de ação de robôs com posts políticos no Brasil na penúltima semana de agosto.

Mas como flagrar os robôs? Nos estudos acadêmicos, há análises mais avançadas, como da disparada de vários posts em menos de um segundo (ação humanamente impossível) e postagem direta de um software, sem usar nenhum dispositivo físico, diz Danilo.

Mas um usuário comum também pode analisar indícios de que uma mensagem o hashtag está sendo compartilhada por uma conta-robô, como:

  • Contas que não têm fotos ou informações pessoais
  • Contas muito recentes e que só retuítam, sem posts originais
  • Contas que só postam sobre determinado candidato, sem outro tema
  • Contas que não são seguidas por ninguém ou por quase ninguém

Nenhum desses fatores garante que um perfil seja de um “robô”. Mas, quanto mais a conta tenha essas características, mais chances elas têm de serem robôs – não dá para cravar, mas desconfiar.

Um candidato que usa robôs nas redes pode ser punido? Hélio da Silveira diz que sim. Ele pode responder por falsidade ideológica, que está no Código Eleitoral. Ou por abuso do poder econômico, se tiver pagado por esses perfis falsos de forma não oficial.

Dá para estimar e desconfiar, mas é muito difícil comprovar a ação de robôs, determinar a origem e ainda provar que partiu de algum candidato.

“Mas as práticas mudam, e a legislação têm que se adaptar”, diz Hélio. Para o advogado, uma fraude em redes sociais em grande escala, com falsidade ideológica e outros abusos, pode basear até um pedido para se cassar uma candidatura.

3 – Listas de transmissão do WhatsApp

“Você pode adicionar meu número aí no seu telefone?”

A pergunta parece trivial. Mas sua agenda do “zap” pode ser a chave da alegria de um candidato ou divulgador.

Isso pode permitir que eles enviem a você mensagens por listas de transmissão no WhatsApp.

Um candidato pode pedir a você que salve o contato dele para depois enviar mensagens por listas de transmissão no WhatsApp (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Um candidato pode pedir a você que salve o contato dele para depois enviar mensagens por listas de transmissão no WhatsApp (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Lista de transmissão é um recurso que permite a uma pessoa enviar a mesma mensagem para até 256 contatos. Ao contrário dos grupos, a lista só permite o envio, não receber respostas. Mas com várias listas um candidato ou apoiador pode turbinar a velocidade de divulgação de mensagens.

Só que a mensagem vai chegar apenas para quem tiver o número de quem enviou na agenda de contatos. É uma forma de o app evitar spams (os envios em massa indesejados) e ter certeza de que quem está nas listas quer mesmo receber as mensagens.

Ou seja: não se assuste se ouvir esse pedido “salva aí meu contato” nos próximos meses.

O pedido pode vir pelo próprio WhatsApp. O risco para o candidato é que essas mensagens para potenciais seguidores podem ser denunciadas por quem recebeu como “spam”. Se houver muitas denúncias, o WhatsApp pode bloquear o perfil de quem enviou.

WhatsApp permite que usuário que recebe a primeira mensagem denuncie o contato como spam, bloqueie ou adicione aos contatos (Foto: Reprodução)

WhatsApp permite que usuário que recebe a primeira mensagem denuncie o contato como spam, bloqueie ou adicione aos contatos (Foto: Reprodução)

Também dá para ir ao perfil de um contato ou de um grupo e denunciar que ele está sendo fonte de spam.

WhatsApp permite denunciar pessoas ou grupos como fontes de spam, ou mensagens em massa não solicitadas (Foto: Divulgação)

WhatsApp permite denunciar pessoas ou grupos como fontes de spam, ou mensagens em massa não solicitadas (Foto: Divulgação)

“O spam na campanha pode ser considerado uma prática abusiva. A Justiça Eleitoral pode reprimir e pedir para o candidato suspender os envios e até multar. Mas sabemos que é muito difícil monitorar o WhatsApp, por ser uma rede fechada”, diz Hélio da Silveira.

Francisco Cruz acha que as empresas também vão agir para coibir abusos. “Este início de campanha é um momento de os candidatos darem uma ‘forçadinha’. E aí virá uma reação para impor limite. Muitas vezes vai ser o Judiciário, mas outras vai ser a própria plataforma.”

4 – ‘Vídeo-lacradas’ virais

Você já deve ter visto um vídeo assim passar na sua timeline: “Fulano diz tal coisa e sicrano HUMILHA na resposta”. Ou “Fulano DESTRÓI sicrano no debate”. É geralmente um vídeo curto, editado pela equipe ou simpatizantes do candidato, e raramente explica o contexto da tal conversa.

As lacradas em vídeo, sejam de políticos de esquerda, direita ou centro, estão por todos os lados. É comum que propagandas eleitorais na TV tenham esses supostos momentos de vitória do candidato e vergonha do adversário tirados de debates.

Os vídeos curtos nas redes sociais são atrativos nas redes sociais, ainda mais com as chamadas exageradas. Fabio Malini chama atenção para o YouTube e também o Instagram, rede que cresce e é propícia para vídeos, seja na linha do tempo ou nas “stories”.

“Um dos padrões destes vídeos é ter um baixíssimo tempo de diálogo. Quando é tirado de um confronto, o adversário quase não aparece”, descreve Fábio. A recomendação ao eleitor, claro, é procurar o contexto original e o vídeo completo da tal disputa.

No caso de um vídeo – ou qualquer conteúdo – tão alterado a ponto de criar uma informação falsa sobre outro candidato, a Justiça Eleitoral pode ser acionada, diz Hélio da Silveira. Aliás, casos de calúnia levaram a direitos de resposta de candidatos dentro de páginas no Facebook em 2016 e já em 2018.

Como será o resto da campanha nas redes?

Quais destas estratégias vão funcionar melhor? Que candidatos vão investir mais em cada uma e como os eleitores vão reagir? Quais desvios serão tolhidos com mais rigor pelas plataformas e pela Justiça?

Francisco Cruz diz que estas perguntas ainda serão respondidas, mas acredita que as ações nas redes serão mais efetivas quando se conectarem ao que acontece fora delas. Para ele, vai ser aceito nas redes quem souber dar respostas coerentes com os fatos marcantes ao longo da campanha.

“Como a disputa está acirrada, os debates e as sabatinas vão ser muito visados e, em certos momentos, vão gerar reações ‘orgânicas’, espontâneas nas redes. O impulsionamento bem feito vai se encaixar nestes momentos. Senão, vai nadar contra a corrente e ficar artificial”, ele diz.

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