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Marta Suplicy – Ficou evidente o que já sabíamos: não temos presidente

Marta Suplicy foi Prefeita de São Paulo (2001-2004), Ministra do Turismo (2007) e da Cultura (2012-2014) e Senadora da República (2011-2018).

Marta Suplicy – Ficou evidente o que já sabíamos: não temos presidente
Marta Suplicy – Ficou evidente o que já sabíamos: não temos presidente

Redação Publicado em 18/03/2020, às 00h00 - Atualizado às 19h56


Ficou evidente o que já sabíamos: não temos presidente

Já diziam os chineses que toda crise gera oportunidades (eles sofreram muito com a epidemia mas ganharam fortuna no mercado de ações).
O presidente brasileiro, Bolsonaro, além de ter perdido uma excepcional oportunidade de se mostrar à altura do cargo que ocupa, desrespeitou as instruções de seu próprio Ministro da Saúde e das organizações mundiais. Chamou, propagandeou e apertou mãos numa manifestação contra o STF e o Congresso, quando já se sabia o perigo da contaminação em eventos de massa. Por si só o ato já mereceria uma reação forte da sociedade e do Congresso. Mas se tornou limite com o coronavírus.
Por trás destas ações aparentemente sem nexo, existe estratégia: quanto mais aparecem questionamentos perigosos para seu clã, só tipo quem matou Marielle (na mídia pelos 2 anos esta semana do assassinato sem resposta), questões sobre o miliciano Adriano, assassinado na Bahia, condecorado como herói por sua família… mais ele inventa para desviar suas ligações não explicadas e as críticas ao desempenho da economia e da miserabilidade que assola o país.
Sua preocupação, fora de hora, é com a reeleição, independentemente de ferrar os brasileiros. Só que desta vez foi mais sério pois colocou em risco a vida da população. Não necessariamente a dos cidadãos que apertaram sua mão mas dos milhares de brasileiros que a partir deste descumprimento das instruções de proteção irão descuidar de uma das mais importantes forças transmissoras. Desmoralizada por quem tinha que enfatiza-la.
Esta zorra de passeata e apertar de mãos talvez sejam mais uma confusão para distrair do desgoverno total que trouxe ao país: a economia não tem rumo e não se importa em gerar medidas para proteger os vulneráveis. A beligerância com a classe política da qual não poderia prescindir para governar é uma constante.
Tem muita coisa ruim para a população como consequência desta incapacidade. A curto prazo, além das mortes que fatalmente ocorrerão, dos que não terão assistência, as crianças mais pobres deixarão de ter garantida sua única refeição do dia. O povo da cultura e esportes, os autônomos, vão ser altamente prejudicado pois perderão seus rendimento..Os bares e restaurantes terão que fechar… qual o plano , gente, para minimizar a tragédia na vida das pessoas? E os presídios? E os 24 mil que moram na rua em São Paulo?
Depois de tanta desdita podemos nos atrever a imaginar que um mundo diferente vai surgir. Lembra como é difícil para as empresas aderirem ao home office? Podem descobrir as qualidades e teremos um alívio no transporte público e um provável rearranjo domiciliar. Nunca tivemos esta experiência em grande escala e inovações que demorariam anos poderão ser geradas rapidamente.Serão interessantes para as mulheres. Talvez alternância de horários para escolas. Sei lá. Mas que vai dar uma chacoalhada nos nossos hábitos e premissas vai. Assim como no ensino à distância. Universidades americanas de prestígio já utilizam aulas on line massivamente. Estamos tendo que encarar já, um atalho que ocorreria com mais tranquilidade. É bom? Vai depender dos governantes e recursos de cada país. O mundo mudou mais rápido do que estamos preparados.
E o Brasil tem um governante que não está à altura nem de governar em tempos mansos e muito menos em enfrentar crises.

Marta Suplicy foi Prefeita de São Paulo (2001-2004), Ministra do Turismo (2007) e da Cultura (2012-2014) e Senadora da República (2011-2018).

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