É verdade que o Governo Bolsonaro está diluindo. E está perdendo eleitoralmente. O fato de a rejeição dos candidatos crescer após o apoio do Presidente
Redação Publicado em 25/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 07h49
É verdade que o Governo Bolsonaro está diluindo. E está perdendo eleitoralmente. O fato de a rejeição dos candidatos crescer após o apoio do Presidente JairBolsonaro na última eleição deveria ter acendido uma luz vermelha e aumentado a preocupação do governo atual quanto ao seu futuro político, se é que pretende ter um.
Obviamente, reverter anos de domínio da máquina estatal – e mesmo intelectual da sociedade–pelo PT e PSDB é uma tarefa hercúlea. Enraizaram-se costumes e práticas, percepções e bloqueios intelectuais. Para mudar, seriam necessários força moral e uma visão convincente quanto ao futuro a ser construído. Bolsonaro, que teve apoio de uma grande maioria da população, em dois anos logrou perder muito desse sustentáculo. E isso não foi somente devido ao desgaste criado por uma imprensa que lhe é crítica e não lhe deu uma luademel com o poder. O colapso do governo, se houver, se dá pelas falhas de uma administração que não inova, não muda, mas reclama. E muito, sempre atribuindo a culpa a fatores externos.
Em dois anos, vimos o real desvalorizar-se muitíssimo, a inflação subir, má administração na pandemia da Covid19, desvalorização da Presidência da República, o questionamento do papel das Forças Armadas, e erros estratégicos na agenda internacional do Brasil. Optou-se mais por um constante embate ideológico do que pelo diálogo para se construir um legado que, de fato,beneficiasse o País no longo prazo.
A verdade é que o Presidente Jair Bolsonaro pouco tem ajudado no processo. O arrefecimento no combate à corrupção, o apadrinhamento, as nomeações equivocadas e a falta de diversidade no governo sempre foram preocupantes. Este governo parece ter esquecido de que a fonte de sua legitimidade foi a vontade da maioria da população, em 2018, de mudar o rumo do Brasil, fruto das manifestações nas ruas e não dos gabinetes de Brasília. Esperava-se um governo de reconciliação e renovação nacional, de uma qualidade moral superior.
Não basta culpar o Parlamento. Já há muito tempo que Rui Barbosa, afirmou, que na República, o Parlamento, que deveria ser uma escola de estadistas, transformara-se numa praça de negócios. É lastimável mas é a realidade.Tampouco não há muito o que esperar do Supremo. Somente um presidente que invoque o melhor do povo brasileiro terá a capacidade de alterar essa realidade.
O governo atualerrou, também, na sua comunicação com a opinião pública, tanto doméstica como internacional. Esqueceu-se de que a batalha da comunicação transforma mentiras em verdades. Falsidades em acertos. Corrupção em bondade para com os pobres. Legalidade em golpe. É preciso falar, tomar as rédeas e o povo brasileiro necessita ver que existe liderança no Brasil. E que as coisas estão mudando positivamente. Bolsonaro deveria reavaliar seus conselheiros. Porque os atuais estão levando-o a ser presidente de um mandato só. Igual a Macri e a Trump.
No fronte externo, o governo tem errado feio. Errou por não conversar com a mídia internacional, via CNN, BBC, Al Jazeera e CCTV, dentre outros, explicaro reposicionamento global do Brasil, assumir liderança – inclusive na questão ambiental e das queimadas – e oferecer uma renovada perspectiva quanto à construção de uma nova ordem mundial, que será muito diferente daquela que temos atualmente. Deveríamos ter concentrado mais munição na Ásia e menos em outras áreas. Tem faltado visão de futuro.
A realidade é que muito pouco mudou. O povo brasileiro segue refém em seu próprio país, sem grandes perspectivas quanto ao futuro. Por isso, Bolsonaroprecisa entender a importância do seu papel histórico e buscar tornar-se um estadista. Chegar à Presidência de República é uma dádiva. Poucos brasileiros tiveram tamanha honra. Se Bolsonaro não se preocupar com um legado positivo,estará condenado ao rodapé da história, numa batalha perdida num momento em que o País precisava tanto. Um país quemerece muito mais.
Marcus Vinícius De Freitas, Advogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China
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