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Marcus Vinicius De Freitas: Um deserto de ideias

O Brasil precisa de profundas reformas. Apesar da vastidão do seu território e da imensidade de suas riquezas naturais exploradas sem piedade há mais de 500

Marcus Vinicius De Freitas: Um deserto de ideias
Marcus Vinicius De Freitas: Um deserto de ideias

Redação Publicado em 14/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 08h45


Um deserto de ideias

O Brasil precisa de profundas reformas. Apesar da vastidão do seu território e da imensidade de suas riquezas naturais exploradas sem piedade há mais de 500 anos, a situação do País é ruim. Para os privilegiados, a situação parece boa. Para os menos afortunados, conformar-se e aceitar o dito “No Brasil é assim” parece uma triste realidade. Há, de fato, alguns, que tentam melhorar algo, na expectativa de uma pequena melhoria. A realidade, no entanto, é que todos sofrerão quando as tormentas vierem. E elas virão. Esta frase, adaptada a partir de uma citação do historiador chinês LiangQichao, é, sem dúvida, aplicável à situação do Brasil.

A recente decisão de libertar um dos maiores traficantes é evidência de que o Poder Judiciário tem sido utilizado para frustrar toda e qualquer iniciativa de investigação policial, além da destruir a confiança na Justiça. Uma parcela do Judiciário parece lutarpara manter a impunidade perpetuando uma sociedade injusta, corrupta e desigual. Como é que alguns casos conseguem chegar tão rapidamente às instâncias mais elevadas do Poder Judiciário, enquanto outros demoram anos para conseguir o mesmo nível de tratamento?

Esse tipo de descaso com o País é inadmissível. Isto sim nos faz passar vergonha internacionalmente. E somente piora o Brasil internamente. Aventureiros em excesso têm transformado este rincão abençoado com recursos abundantes num país desigual, pobre, violento e que – para muitos – não tem mais saída, além de um aeroporto internacional. Não pode ser assim. O ensinamento cristão afirma que somos designados a viver em determinado lugar. Isto implica responsabilidade e cuidado na mordomia. Nosso dever, portanto, é cuidar e melhorar.  

O atual governo já começa a aproximar-se de seu ocaso. Engana-se quem acredita que, nos próximos dois anos, poderá ser feito algo substancial. Perdeu-se muito tempo e, uma vez mais, a oportunidade histórica de realizar mudanças efetivas.Então, como o tempo é curto, sugiro quatro coisas para que ainda se consiga salvar algo.

Em primeiro lugar, o Brasil deve exercer liderança na questão do meio ambiente. Ao invés de ficar querendo brigar com todo mundo, o Brasil deveria assumir o controle da narrativa por meio de uma cruzada global contra queimadas e preservação de florestas. A convocação de uma Conferência Internacional poderia tirar o Brasil do banco dos réus e colocá-lo no banco dos líderes.

Em segundo lugar, como é possível o Brasil observar outros países se modernizando e nós ficando para trás. Não impressiona o deserto de ideias que prevalece no Brasil quanto ao futuro? Por isso, a segunda sugestão é trazer ao País um grupo de notáveis internacionalmente renomados, independentemente do matiz ideológico,para visitarem as mais variadas regiões do País e sugerirem ideias para o melhor desenvolvimento e crescimento nacional na próxima década. Uma perspectiva externa poderá abrir a visão sobre as enormes potencialidades do Brasil e oferecer novas ideias para o rejuvenescimento do País.

A pior coisa que existe é explicar o inexplicável. E o Brasil está repleto de casos assim. Fazemos leis sem o devido aparato para suportar a questão regulatória. Criamos requisitos absurdos, de natureza burocrática e não incentivamos o esforço e o mérito. O País parece ter entrado no labirinto de Minotauro e está prestes a serdevoradopor sua incompetência.Assim, como terceira sugestão, desregulamente. O capitalismo agradece. Tudo no Brasil é devagar porque requer muitos papéis, muitos burocratas envolvidos. Para piorar, preservamos até segmentos de mercados para serviços burocráticos. Quem não notou que para tudo, hoje em dia, precisamos de um advogado? Ou de um despachante? Ou de um “facilitador”? A maior reforma econômica que o governo já deveria ter feito para incentivar o crescimento econômico seria reduzir, ao máximo, asregulamentações que somente favorecem às grandes empresas, aos grandes grupos, que têm capacidade financeira para cumpri-las. Que tal uma meta de cancelar, semanalmente, pelo menos umas cinco (5) regras que somente travam o Brasil até 31 de dezembro de 2022?  Flexibilizar deve ser um objetivo sempre presente.

Por fim, como quarta sugestão, é necessário restaurar a dignidade dos prédios públicos. O ponto de contato do cidadão com o seu governo ocorre nesses locais. Se a manutenção é ruim, que impressão fica da administraçãoe do Estado?

A vida e a história não perdoam o tempo perdido e a irresponsabilidade. É hora de a discussão política dar lugar à ação.  Algumas poucas mudanças podem fazer o Brasil dar um grande salto. O País e seu povo agradecem.

Marcus Vinicius De Freitas

Professor Visitante

Universidade de Relações Exteriores da China

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