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Marcus Vinicius de Freitas: O Fatídico Ano de 2020

Era para ser um excelente ano. A economia global parecia estar voltando ao normal, com o possível fim da guerra comercial entre Estados Unidos e China. A

Marcus Vinicius de Freitas: O Fatídico Ano de 2020
Marcus Vinicius de Freitas: O Fatídico Ano de 2020

Redação Publicado em 08/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h40


O Fatídico Ano de 2020

Era para ser um excelente ano. A economia global parecia estar voltando ao normal, com o possível fim da guerra comercial entre Estados Unidos e China. A saída do Reino Unido da União Europeia – o Brexit – finalmente estava ocorrendo. A América Latina retrocedia em algumas eleições a uma dinâmica mais à esquerda, mas seguia firme adiante. Os Estados Unidos cresciam economicamente e Donald Trump parecia velejar tranquilamente rumo à sua reeleição. O Brasil, após a aprovação da Reforma da Previdência, parecia sair de um longo período de recessão econômica, apesar da enorme instabilidade política gerada pelo próprio governo.  Então, num passe de mágica, à meia noite de 31 de dezembro, o ano de 2020 começou.

Todos muito contentes. Muitos abraços, muitas celebrações. 2020, na oftalmologia, é reconhecida como a visão perfeita. Seria 2020 o ano em que a humanidade encontraria o seu eixo e veria o mundo e a convivência humana de um modo mais aperfeiçoado? O sentimento coletivo era positivo: “que tudo se realize no ano que vai nascer.”

E assim se transformou o ano de 2020 naquele em que tudo está sendo realizado. Começamos o ano sob a ameaça de um conflito nuclear gerado por uma intervenção norte-americana no Iraque, com o fito de eliminar um lider iraniano. A tensão subiu ao máximo. Passado um tempo, veio a notícia que alteraria o destino da humanidade em 2020: um novo Coronavirus surgiu, com uma taxa de letalidade elevadíssima, quando associada a outras comorbidades. Quarentena, lockdown, máscara, luvas, alcool gel, achatamento da curva, fechamento do comércio e das atividades não essenciais, levantamento de barreiras nas fronteiras dos países, estados e municípios. Assim, o ano que levaria a humanidade à pior recessão global, com centenas de milhares de mortes e milhões infectados, transformou-se num pesadelo que parece não ter fim. Até pragas de gafanhotos houve. Tristeza, muita tristeza.
Um dia, quando forem escrever sobre o ano 2020, algumas coisas deverão ser relembradas:

A incompetência dos governos que optaram por manter as pessoas enclausuradas, sem dinheiro, sem emprego, sem alimentos e sem perspectivas, por um período indeterminado de tempo, transformando o “fique em casa” por “morra em casa”. Esse desatino aflorou, em pouco tempo, os piores instintos humanos, que tem levado muitos a enormes traumas psicológicos, além de abusos físicos e mentais.

A falta de inteligência emocional da classe política que, ao invés de liderar efetivamente, partiram irresponsavelmente para o confronto e a divisão, esquecendo-se, apesar de citarem tanto a religião, de serem pacificadores, atormentando as pessoas com brigas pessoais para auto-engrandecimento.

O desserviço de grande parte da imprensa que, sob a sagrada responsabilidade de informar a população, optou por enfatizar o desesperança, a briga, a picuinha politica, a morte, jamais celebrando a vida e destruindo qualquer perspectiva de esperança e de melhores dias.

O ano será recordado, também, como aquele em que a intolerância, representada pelo racismo (“eu não consigo respirar”) e pela polarização política, conseguiu dividir as pessoas ainda mais. Levantamos barreiras, cortamos cooperação, acusamo-nos mutuamente, e vimos teorias conspiratórias surgirem e proliferarem como nunca. 2020 foi o ano das “Fake News”: nunca se manipulou tanto a opinião pública, com inverdades: da gripezinha ao vírus criado num laboratório, a formulas mirabólicas para enfrentar o temido Covid-19.

Enfim, 2020 entrará para a história como o ano em que a humanidade teve uma oportunidade de cooperar, ser solidária, crescer espiritualmente. Infelizmente, faltaram líderes políticos, empresariais e religiosos capazes de nos elevarem como humanidade. Optaram por manipular em razão de seus interesses escusos. E o mundo saiu pior. Muito pior.

Foi o ano em que faltou fé e esperança. Houve muita caridade, muita gente boa que nos relembrou de que ainda há um pouco esperança no mundo. Pessoas que conseguiram reverter um pouco do cenário sombrio que se instalou no mundo.

Ainda faltam alguns meses para 2020 acabar. Muitos ainda estão preocupados com aquilo que o ano ainda nos reserva. No entanto, as palavras eternas de Lao-Tsé cabem muito bem à nossa situação: “A felicidade nasce da infelicidade; a infelicidade está escondida no seio da felicidade”. Que em meio a tantas tristezas consigamos encontrar felicidade. De verdade. Ainda dá tempo para alterar esse cenário sombrio e ser feliz?

Marcus Vinicius de Freitas, Professor de Direito e Relações Internacionais, na Universidade de Relações Exteriores da China
Twitter/Instagram: @mvfreitasbr

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