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Marcus Vinicius de Freitas: Espera-se muito do Brasil

Espera-se muito do Brasil A História abre, poucas vezes, janelas de oportunidade para a correção de rumos, redimensionamento dos desafios e o estabelecimento

Marcus Vinicius de Freitas: Espera-se muito do Brasil
Marcus Vinicius de Freitas: Espera-se muito do Brasil

Redação Publicado em 01/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h34


Espera-se muito do Brasil
A História abre, poucas vezes, janelas de oportunidade para a correção de rumos, redimensionamento dos desafios e o estabelecimento de novas estratégias. A eleição do candidato Jair Messias Bolsonaro representava, na Política Externa Brasileira, uma rara oportunidade neste sentido. O Brasil, já há bastante tempo, vem-se apequenando no cenário internacional, por uma visão equivocada de potência mediana (Fernando Henrique Cardoso), e por uma grandiosidade enviesada ideologicamente (Lula-Dilma).
Do Brasil, como uma das 10 maiores economias globais, espera-se uma Política Externa que tenha muito claro quais são seus objetivos, parcerias estratégicas e comportamento como um país relevante na ordem internacional. A verdade é que por uma série de desacertos, tornarmo-nos um anão diplomático. E isto precisa ser mudado. Três coisas fundamentais deveriam nortear a Política Externa: o interesse nacional, a necessidade de uma diplomacia eficaz e uma visão clara de longo prazo.
O interesse nacional é construído a partir de uma agenda doméstica bem compreendida, a soberania nacional e o bem-estar dos cidadãos. É importante que seja definido aquilo que interessa ao Brasil no curto, médio e longo prazos, a partir do seguinte questionamento: no que este assunto avança efetivamente os interesses do País no mundo? As amizades são fluidas e interesses são constantes. O Brasil, para ser um global player, precisa, em primeiro lugar, ser um efetivo líder regional sul-americano. Na América Latina, somos líderes, porém sem seguidores.
É preciso redimensionar e reavaliar se algumas embaixadas são necessárias, se alguns consulados diplomáticos não poderiam ser trocados por Consulados Honorários, e se, de fato, estamos concentrando esforços e recursos do contribuinte nos locais onde o Brasil poderá obter maiores benefícios no futuro. O Brasil precisa preparar sua diplomacia para o século XXI, com diplomatas fluentes nas mais variadas línguas estrangeiras e com clara vocação para a carreira. O perfil do diplomata do século XXI é muito diferente daquele de décadas atrás. É preciso refrescar as ideias no Itamaraty, com uma Academia presente contribuindo com conhecimento funcional e regional para que os diplomatas estejam melhor preparados em sua atuação.
A visão de longo prazo também deve ser clara. Em quais relacionamentos bilaterais obterá o Brasil maiores vantagens? Vale a pena continuar com o Mercosul ou deve ser mudado para uma Área de Livre Comércio? Como queremos ser reconhecidos internacionalmente? Em que nossa voz deverá ser reconhecida e confiada? Fomos levados a confiar no chamado poder brando como um elemento essencial na diplomacia. O que importa, de fato, é poder. Se a economia e a defesa brasileiras forem maiores, aí, de fato, teremos o devido reconhecimento. O resto é questão de perfumaria. Portanto, é importante utilizar as instituições em que participamos, como a CPLP e BRICS para fortalecer nossa voz internacionalmente. Mas precisamos fazer melhorar a situação política e econômica doméstica, porque é impossível distanciar a imagem externa da realidade interna.
O atual governo precisa de uma estratégia eficiente de comunicação global, com a visitas constantes do presidente a Beijing, Washington e Bruxelas, para realinhar os interesses e parcerias do Brasil, que diferem em cada um desses casos. Bolsonaro precisa falar às grandes redes de televisão e da imprensa internacional para reafirmar os valores democráticos do País e tentar melhorar um pouco de sua deteriorada imagem de reacionário, extremista e populista.
O Brasil pode e deve aprofundar suas parcerias com novos parceiros. Da Europa e Estados Unidos, os ganhos tenderão a ser marginais. Da Ásia, os ganhos poderão ser exponenciais, se a estratégia de longo prazo e maior interação comercial, militar e tecnológica incrementarem.  É, sem dúvida, essencial, mostrar ao mundo que o País mudou. Muitos são os desafios existentes. O mundo espera muito do Brasil.

Marcus Vinicius de Freitas, Professor de Direito e Relações Internacionais, na Universidade de Relações Exteriores da China
Twitter/Instagram: @mvfreitasbr

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