Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?
Redação Publicado em 29/05/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h46
Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?
A Covid-19 revelou enorme incapacidade de preparo ou mobilização do Estado brasileiro para enfrentar uma epidemia de alta letalidade, com uma liderança totalmente despreparada para construir uma coalisão efetiva de combate. Criou-se um eixo do mal entre Brasília – São Paulo – Rio de Janeiro, com disputas e respostas controversas como enfrentar a situação. O Coronavírus, rapidamente, se transformou numa questão ideológica e não de saúde pública. Incrementou-se um quadro político de instabilidade.
Sob a alegação da necessidade de “achatar a curva” para não sobrecarregar sistemas de saúde ineficientes e despreparados por má gestão histórica, a população foi obrigada a seguir uma quarentena, com o fechamento dos estabelecimentos comerciais e de serviços. Os governantes jamais reconheceram que, de fato, o problema era da gestão ineficiente. Enquanto na China se constrói um hospital de mil leitos em 10 dias, no Brasil, um hospital de campanha com 50 leitos demora 3 meses para ficar pronto. E incompleto.
Como resultado, quebrou-se a economia do País, que não sabe o que é crescimento há muitos anos. Criaram-se complementações de renda, voltadas, principalmente, ao eleitor de baixa renda, além de outras medidas tipicamente populistas de distribuição de cestas básicas e outros tipos de benefícios sociais que, apesar de ajudarem, não resolvem, de fato, o problema que se avizinha. Copiaram e colaram as medidas de outras partes do globo sem levar em consideração as peculiaridades de cada região.
Se por um lado, observamos exemplos de solidariedade e unidade, como se notou em Portugal, Espanha, China e Nova Zelândia, com resultados muito positivos, por outro lado, como o nosso, em países em que houve a inexistência de solidariedade nacional e politicagem diante da ameaça, polarizou-se ainda mais a opinião pública.
Esta polarização cresceu quando se “criou“ uma falsa escolha de Sofia entre vida e economia. Obviamente que a situação econômica poderá ser mais letal que a Covid-19. No entanto, uma solução não pode excluir a outra. Infelizmente, o Estado, que é essencial em várias áreas, como saúde, segurança, educação, militar, dentre outras, se apequenou pela má gestão.
E o que fazer agora? Cessar o debate ideológico: o Coronavírus não é de esquerda ou de direita. É um vírus sem ideologia. Com prudência fiscal, é preciso estimular o consumo para que a Economia cresça e crie milhões de empregos. Não é tempo de cortar salários, mas sim cortar impostos e desregulamentar. É preciso emprestar mais para pequenas e microempresas. Reduzir profundamente o peso burocrático e tributário sobre todas as empresas. E se o governo quiser colocar mais dinheiro na economia, que pague os precatórios pendentes.
O espelho revela uma imagem ruim. No entanto, tudo pode ser mudado. Basta agir. Com estratégia!
Marcus Vinicius de Freitas, Professor de Direito e Relações Internacionais, na Universidade de Relações Exteriores da China
Twitter/Instagram: @mvfreitasbr
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