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Marcus Vinicius de Freitas: Democracia em Quarentena

Por séculos, a humanidade tem lutado para ter a possibilidade de eleger seus líderes, poder cobrar-lhes resultados e melhoria na qualidade de vida.

Marcus Vinicius de Freitas: Democracia em Quarentena
Marcus Vinicius de Freitas: Democracia em Quarentena

Redação Publicado em 24/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h40


Democracia em Quarentena

Por séculos, a humanidade tem lutado para ter a possibilidade de eleger seus líderes, poder cobrar-lhes resultados e melhoria na qualidade de vida. Atualmente, as democracias se caracterizam, no entanto, mais pelo binômio eleger e se arrepender. Elegemos num dia, arrependemo-nos no outro. Nas décadas de 70 e 80, foram eleitos estadistas como Margaret Thatcher, Ronald Reagan, Helmut Kohl e François Mitterand, dentre outros. Atualmente já não encontramos o mesmo calibre de liderança. O que aconteceu? As urnas não têm sido tratadas como o símbolo sacrossanto da democracia, em razão do desencanto coletivo com a situação política e a impotência coletiva para resolver problemas históricos – educação, saúde, igualdade e segurança. As últimas eleições no Brasil evidenciaram a irrelevância dos partidos e a sua baixa preocupação em oferecer estadistas ao escrutínio popular. O que notamos foi um discurso atrasado da luta de classes e a total falta de visão quanto ao futuro do Brasil. Empobrecemos no Brasil, intelectual e ideologicamente. A culpa da situação não é de Bolsonaro. O câncer da corrupção é ineficiência já se arrastam há anos na administração pública. Desde FHC, o espírito público “republicano” foi o que menos prevaleceu na administração da coisa pública. A Lava Jato, por muitos entendida, como a salvação do Brasil, não logrou ter raízes fortalecidas quanto ao combate efetivo à corrupção. Isto não ocorreu porque nosso processo educativo não forma cidadãos, mas meros habitantes do Brasil. Inexiste respeito ao patrimônio, privado e público, e às instituições. Inexiste respeito ao dinheiro público, que é resultado do esforço suado e incansável de cada trabalhador. O dia em que o agente corrupto – políticos, juízes, funcionários públicos – sofrer, além de penas legais intensas (até prisão perpétua, se revisássemos as leis), a vergonha pessoal e dos membros de sua família direta, que, de alguma forma, também se beneficiaram dos frutos oriundos da corrupção, começaremos a observar mudanças. O sistema político precisa de reforma. Há problemas gravíssimos quando se elegem Tiriricas, coronéis e narcotraficantes para os cargos mais altos do País. O voto distrital puro deveria ser introduzido para reduzir a quantidade de partidos e criar a necessidade da resposta imediata do agente político às demandas de sua base. A máquina eleitoral brasileira – corrupta e antidemocrática – precisa ser alterada profundamente. O eleitor tem culpa pois elege indivíduos que construíram um Estado anacrônico, ineficiente e mal gerido. Os donos da máquina partidária brasileira repartem o poder segundo seus interesses individuais, jamais da coletividade. Não se renovam. Não buscam evoluir. Não propõem planos ou alternativas. Nossos partidos políticos não são democráticos. Viramos um país em que somente pessoas com sobrenome ou alguma base religiosa ou sindical são eleitos. Isto não é bom nem saudável para o País. É só olhar para a nossa situação: desde o dia 15 de novembro de 1889, o Brasil não produz estadistas. Não sabemos o que é democracia. Jamais a oposição no Brasil adota uma postura construtiva e de escrutínio do governo. Seu único discurso é o do impeachment, não importa qual seja o governo. É chegada a hora de tomarmos a resolução de viver num pais decente, com democracia, economia de mercado, capitalismo e não protecionista. O Brasil, por muito tempo, tem sido administrado por aventureiros, um país de medidas paliativas. Somos cidadãos de 2a. classe, pobres “escravos” do Estado e de um capitalismo de compadrio, num país que tem tudo para ser espetacular. A China, com muito menos recursos, em 40 anos, promoveu uma virada, saindo de um país agrícola e se transformando numa potência global. Será que não somos capazes de fazer algo parecido? Enquanto não destinarmos aos corruptos e a esses maus brasileiros a poeira e o desprezo da história, não iremos muito longe. Precisamos sonhar mais. Com dias melhores, com um futuro melhor. O que nos une é muito maior do que aquilo que nos divide. O que nos une é o Brasil. É o fato de sermos brasileiros. Como bem afirmou Buda, “o que você acredita, torna-se realidade. É hora de acreditar e mudar.

Marcus Vinicius de Freitas, Professor de Direito e Relações Internacionais, na Universidade de Relações Exteriores da China Twitter/Instagram: @mvfreitasbr

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