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Marcus Vinicius de Freitas – Brasil e China: Pontes e não Muros

Brasil e China: Pontes e não Muros A Constituição Chinesa atrai particular atenção por causa do artigo 42, que afirma que “os cidadãos da República Popular da

Marcus Vinicius de Freitas – Brasil e China: Pontes e não Muros
Marcus Vinicius de Freitas – Brasil e China: Pontes e não Muros

Redação Publicado em 17/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h27


Brasil e China: Pontes e não Muros
A Constituição Chinesa atrai particular atenção por causa do artigo 42, que afirma que “os cidadãos da República Popular da China têm o direito e também a obrigação de trabalhar.” O trabalho é um valor definidor da sociedade chinesa. Ela está em transição da posição de fábrica global para o maior mercado consumidor na história mundial, além de estar forçando o deslocamento do eixo econômico mundial do Atlântico para o Pacífico.
A China – nossa parceira no BRICS – tem assumido um papel cada vez mais importante para o Brasil. Com 1.3 bilhões de habitantes e um poder aquisitivo crescente, a China já provou o seu enorme interesse no Brasil,  como seu maior parceiro comercial desde 2009, ou como um de seus maiores investidores.
Trata-se de um país competitivo que tem sabido aproveitar dos benefícios da globalização. Tentar opor-se a ela não me parece uma estratégia acertada. Nem os Estados Unidos, com a “guerra comercial”, pretendem fraturar, em definitivo, o seu relacionamento, particularmente considerando que a China é o seu maior credor.
É importante ressaltar que a China não está comprando o Brasil. Até porque muito do que oferecemos também faz parte do cardápio oferecido por vários países do mundo. O que o Brasil pode e deve fazer é agregar cada vez mais valor aos produtos agrícolas e fontes de proteína, criando um verdadeiro diferencial entre os seus produtos e o restante do mundo.
Neste sentido, faz-se necessária uma política altamente competitiva e atraente para o incremento do número de empresas chinesas que se instalem no País e agreguem, de fato, valor às commodities brasileiras destinadas não somente aquele mercado mas ao global. Assim, ao invés de exportar frutas, as empresas chinesas – instaladas no Brasil como indústrias transformadoras e agregadoras de valor – venderiam na China e em outros mercados onde esteja presente, essas mercadorias já como produtos transformados, com maior valor agregado. Com isto, ganham as empresas, ganha o Brasil e se amplia a possibilidade de melhoria do uso e absorção da mão-de-obra brasileira.
Erra quem pensa que o objetivo chinês moderno é “roubar empregos” nos países onde operam. Por uma questão de responsabilidade social corporativa, as empresas chinesas operando internacionalmente entendem que sua existência depende de uma percepção positiva nos países em que operam. “Roubar empregos” não contribui na construção de imagem.
O Brasil e a China têm muita sinergia. A Iniciativa Cinturão & Rota podem ajudar muito nessa sinergia. À China interessa um parceiro forte nas Américas em sua estratégia de ascensão global. Ao Brasil interessa dar um salto qualitativo em sua competitividade e produtividade. A China possui os recursos econômicos e tecnológicos que o Brasil precisa, além de um vasto mercado. Querer contrapor-se ou ser fascinado pelo canto de sereia de mercados cujo ganho efetivo será relativamente baixo não me parece ser a ideia mais racional para o atual governo. O Brasil e a China devem caminhar lado a lado para construir uma nova ordem global como parceiros iguais. Precisam trabalhar juntos neste processo.  Como bem afirmou Confúcio, “Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha”. É hora de começarmos a trabalhar juntos para fazer essa montanha.
Marcus Vinicius de Freitas, Professor de Direito e Relações Internacionais, na Universidade de Relações Exteriores da China
Twitter/Instagram: @mvfreitasbr
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