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Marcus Vinícius de Freitas: Cem anos do Partido Comunista Chinês

Marcus Vinicius De Freitas

Marcus Vinícius de Freitas: Cem anos do Partido Comunista Chinês
Marcus Vinícius de Freitas: Cem anos do Partido Comunista Chinês

Redação Publicado em 30/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h24


Cem anos do Partido Comunista Chinês

Marcus Vinicius De Freitas

Em 1 de julho de 1921, em Shanghai, nascia oficialmente o Partido Comunista Chinês (PCC), que viria a desempenhar um papel relevante no processo de reconstrução da China. Em que pesem as críticas que possam existir quanto ao período Mao Zedong, não há dúvida de que, após Deng Xiaoping, o PCC tem desempenhado um papel relevante no processo de reforma e abertura da China ao mundo e na transformação contínua do país, conduzindo-o a uma completa reformulação da sociedade chinesa e elevando-a à potência global, com a perspectiva de transformar-se na maior economia global em futuro próximo.

O PCC tem desempenhado um papel importante para a reconstrução do patriotismo, que foi extremamente abalado naquele período histórico,  identificado como os “Cem Anos de Humilhação”, iniciados na Primeira Guerra do Ópio, em que britânicos forçaram os chineses à continuidade da importação do entorpecente. A partir daí, o país foi dividido, explorado e humilhado, chegando a plausível possibilidade secessão, de modo permanente, naquela que é a civilização com maior tempo de continuidade ininterrupta.  Ao iniciar o seu segundo século de existência, é fato que o PCC tem sabido reinventar-se e produzir resultados positivos, que tem elevado, substancialmente, o padrão de vida da população chinesa. E, contrariamente a todas as previsões após a Queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, o PCC conseguiu atravessar o período de dúvidas atreladas à sua continuidade, além de colocar à prova alguns dos paradigmas dos países ocidentais quanto à questão democrática e a efetiva melhoria na qualidade de vida dos cidadãos. Uma das conquistas atuais do PCC tem sido o processo contínuo de crescimento econômico da China, com taxas elevadas, além do aumento de sua relevância global. A China tem forçado a reavaliação de muitos quanto a conceitos que, pós 1989, pareciam consolidados como uma realidade irrefutável. Um dos elementos principais da consolidação centenária do PCC tem a ver com a questão do mérito para a ascensão na política partidária. Essa ênfase meritocrática gera respeitabilidade por parte da população e a confiabilidade no rumo das decisões implementadas.

Além da meritocracia, três aspectos adicionais podem explicar a longevidade do PCC. Em primeiro lugar, a sua capacidade de adaptar-se à mudança dos tempos e o reconhecimento dos erros do passado. A primeira reunião do PCC após a morte de Mao Zedong foi crítica aos erros cometidos no passado sob a direção de Mao e, com este reconhecimento, passou a implementar mudanças profundas na sua atuação. Em segundo lugar, a legitimação baseada em resultados positivos, com o reconhecimento inequívoco de que a sua  legitimidade e continuidade no poder estão diretamente atrelados à sua capacidade de entregar resultados palpáveis de melhoria na qualidade de vida. Com isto, em pouco mais de 40 anos, a China ascendeu à posição de maior economia global em termos de paridade do poder de compra.

A legitimidade do PCC está diretamente atrelada ao bem-estar social promovido, não por políticas de transferência de recursos, como observamos em vários países do mundo, mas pela criação de um ambiente competitivo de negócios e de estímulo ao empreendedorismo. Em terceiro lugar, cabe destacar a questão do planejamento de longo prazo quanto às medidas necessárias ao crescimento e desenvolvimento do país. A continuidade das medidas, o planejamento constante e a confiabilidade no processo decisório têm oferecido ao país um nivel de estabilidade política e econômica difícil de encontrar no Ocidente.

É importante ressaltar que, diferentemente de muitos partidos de esquerda existentes no Ocidente, o PCC logrou não se transformar em uma cleptocracia, em que os líderes partidários sugam as riquezas dos países que administram para o benefício dos bem conectados. De fato, a agenda do PCC, quando comparada à dos partidos de esquerda pelo mundo, nada tem a ver. Sua agenda foca na consolidação do seu processo de crescimento econômico e melhoria no bem-estar social. Por fim, é importante enfatizar que, diferentemente daquilo que se comenta, inúmeras vezes o PCC tem reafirmado que seu objetivo não é doutrinar a opinião pública global quanto aos benefícios do sistema político chinês. Continuamente a liderança chinesa tem reafirmado a importância de cada país buscar a sua própria solução para atender ao bem-estar de sua população.

A China evoluiu muito nos últimos anos. Querer descreditar o agente condutor desse processo, por certo, produzirá poucos resultados na alteração dos rumos assumidos pelo país. O PCC, por certo, enfrenta as suas contradições internas resultantes de seu tempo no poder. Existem também questionamentos sobre a assertividade chinesa nos últimos anos, que tem sido contrária aos princípios de baixo perfil perseguido pelos antecessores do Presidente Xi Jinping. E existe, sem dúvida, preocupação sobre como o Ocidente responderá ao processo de ascensão chinesa, particularmente em razão da Guerra Comercial com os Estados Unidos, inteligência artificial e a pandemia da COVID-19. Existe uma preocupação importante quanto à percepção do PCC no mundo. Apesar das várias críticas e previsões de sua queda, a China segue fortalecida em sua empreitada global de tornar-se uma potência global cada vez mais relevante.  E o PCC tem desempenhado um papel fundamental neste sentido. Cabe a cada país encontrar o rumo que melhor corresponda às suas necessidades domésticas para a efetiva melhoria no bem-estar da população.

Marcus Vinicius De FreitasAdvogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China

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