Marcus Vinicius De Freitas
Redação Publicado em 14/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h23
Marcus Vinicius De Freitas
Não há dúvida de que a pandemia da COVID-19 trouxe à luz do dia a incompetência de vários governos para administrarem situações de crise. É verdade que a situação é fora da normalidade. O brasileiro – espero que tenha compreendido a esta altura do campeonato – viu que houve uma distorção fundamental durante esta crise: para encobrir a incompetência no trato da situação, a pandemia passou a ser tratada como uma questão política e eleitoral. Com isso, a realidade crua da incapacidade de administrar uma situação desafiadora passou a ocupar um segundo plano. O vírus passou a ter ideologia.
Com a politização do vírus, nenhum governo – federal, estadual ou municipal – apresentou uma política pública eficiente ou plano de combate efetivo à pandemia. As soluções adotadas – algumas supostamente respaldadas por uma ciência sem rosto – foram as mais variadas possíveis: de rodízios inusitados de veículos ao famoso “fique em casa”, a realidade é que muito pouco funcionou. O número elevado de mortes e a situação trágica dos hospitais é uma prova cabal disso.Para nossa sorte, as vacinas foram fabricadas, em tempo recorde, por laboratórios estrangeiros que contaram com apoio de seus governos para a pesquisa. Mas até nisto vimos politicagem sobre qual vacina utilizar. E seguimos discutindo cenários eleitorais sem levar em consideração a dizimação da população. Um cenário triste que, em outros tempos, teria causado revoltas populares que, eventualmente, teriam defenestrado muitos destes supostos líderes.
Até hoje, Executivo, Legislativo e Judiciário jamais ofereceram soluções possíveis para diminuir a taxa de mortalidade. De fato, tornaram-se exterminadores da esperança. Tampouco a oposição – e seus líderes –ofereceram planos alternativos.A corrupção imperou durante este período. Hospitais de campanha – muitos que jamais saíram do papel – absorveram milhões de recursos, foram desativados e o dinheiro desapareceu. Nunca sumiu tanto dinheiro em tão pouco tempo. Lamentável que em tamanha crise, a imoralidade da corrupção se faça presente. E o Poder Judiciário, o suposto protetor das leis, tem-se dedicado a dilapidar o único orgulho recente do país, que foi a operação Lava Jato, numa completa inversão de valores.
A intelectualidade brasileira, tampouco, foi propositiva ou inovadora. O deserto de ideias tem imperado, de Norte a Sul, Leste a Oeste. A cada dia, a cada morte, tem-se enterrado o orgulho de ser brasileiro, a expectativa de ser o País do futuro.
Temos enterrado, além dos mortos, os sonhos da infância, ao deixarmos as crianças sem aula por tanto tempo. Também os sonhos da juventude ao condenarmos o Brasil ao embaraço global no combate à pandemia, numa economia que, simplesmente, estagnou. Os sonhos dos adultos – muitos pais –foram condenados ao desemprego e a verem definhar sua capacidade de ganho e sustento. E os mais idosos, que deveriam desfrutar dos seus anos dourados, estão condenados a esperar pelos corredores dos hospitais públicos por uma vaga numa UTI inexistente.
As medidas a serem adotadas são simples. Na República da Geórgia, um país pequeno, onde estive recentemente, medidas simples têm funcionado. Dentre elas, por exemplo: (i) abertura de restaurantes que tenham pé direito alto e espaços abertos; (ii) abertura do comércioaté às 19h00, mas fechado aos sábados e domingos para evitar aglomerações; (iii) toque de recolher às 21h00; quem estiver na rua e não tiver autorização, multa de US$ 650.00 e, na repetição da infração, 3 dias de cadeia; (IV) máscaras obrigatórias em público, com multa de US$ 20.00 para quemnão estiver usando. E por fim, quanto aos turistas e visitantes, a necessidade de realizar PCR na entrada e quarentena até o resultado. Depois disso, 2 testes PCR, um a cada 3 dias. Além disso, um investimento relevante na capacidade hospitalar e em testes de Covid-19 tem ocorrido.
Está, portanto, na hora de falar menos de política, e sim de responsabilidade dos agentes públicos. Enquanto não houver seriedade e planos, a situação somente piorará. Nem sempre a política resolve tudo. A politicagem só está exterminando o nosso futuro como nação.
Marcus Vinicius De Freitas, Advogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China
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