Diário de São Paulo
Siga-nos

Marcus Vinícius de Freitas: Procuram-se Líderes!

Marcus Vinícius de Freitas

Marcus Vinícius de Freitas: Procuram-se Líderes!
Marcus Vinícius de Freitas: Procuram-se Líderes!

Redação Publicado em 03/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h02


Procuram-se líderes!

Marcus Vinícius de Freitas

A pandemia do COVID-19 trouxe à tona o triste fato de que o mundo – e o Brasil em particular – enfrenta um desafio grave de falta de liderança para conduzir a coisa pública. Exemplos são inúmeros: desde a alegação da “necessidade” de participar de um jogo de futebol, à politização do uso da vacina, à negação da pandemia, até à corrupção enorme observadas nas três esferas da administração pública e nos três poderes da república. É triste e lamentável.

A Bíblia contém uma reflexão importante do Apóstolo Paulo, em sua epístola ao povo que vivia em Corinto:“Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” A mensagem é clara. A função fundamental da liderança – religiosa, política, militar e empresarial – é dar o sonido certo para que a população possa preparar-se, de maneira efetiva, para poder reagir aos desafios impostos pela dura realidade da vida.

A batalha da sobrevivência levou a humanidade a viver do Saara até o Alasca, adaptar-se, encontrar novas formas de convivência social, ajustar-se ao meio ambiente, muitas vezes, modificando-o e, apesar das fatalidades acumuladas ao longo da História, comrealizações que revelam o quanto avançou, mesmo que em meio a alguns retrocessos. Ao longo da história, surgiram homens e mulheres que, apesar de seus defeitos – como todos têm – conseguiram alçar voos mais altos, terem uma visão da planície e liderarem nas batalhas incessantes da saga humana. A muitos destes líderes atribuímos um título peculiar: herói, um indivíduo que se distingue por seus feitos. E há muito tempo que não os produzimos.

O desafio é que a falta de lideranças competentes no direcionamento dos negócios de um país leva a uma queda coletiva na qualidade do desenvolvimento, reduz as possibilidades futuras e impacta, negativamente, a meritocracia e a necessária inspiração que líderes capacitados oferecem à sociedade no geral. Ademais, bons líderes provêm o exemplo necessário para vislumbrarmos melhores dias. Não se trata de uma ilusão coletiva, forjada por uma mensagem enganosa ou sedutora, mas sim a perspectiva de que o melhor ainda está por vir e que, para que isto ocorra, talvez sejam necessários “sangue, sofrimento, lágrimas e suor, como bem disse Churchill à população britânica num de seus momentos mais desafiadores.

A pandemia da COVID-19 escancarou a todos os brasileiros aquilo que já era sabido há muito tempo e lutávamos para não enxergar: o Brasil carece de boas e efetivas lideranças nos mais variados setores. Há muita briga política, ênfase no ganho individual e temporário e pouquíssimo compromisso com uma visão, plano e estratégia de longo prazo. Por isso, aqueles que deveriam assumir responsabilidade por seus atos, tentam transferir ou terceirizá-las. Passamos a viver, coletivamente, numa sociedade em que as “lideranças” não assumem responsabilidade por seus erros, culpam as circunstâncias ou outras instâncias. Tal irresponsabilidade leva ao caos, uma sensação de insegurança, frustração e ansiedadecoletiva. Num momento como estes, a maturidade emocional deveria prevalecer. No entanto, observamos uma exacerbação do egocentrismo e da irresponsabilidade individual das lideranças. Harry S. Truman, quando presidente dos Estados Unidos, tinha em sua mesa uma pequena placa de madeira gravada com a frase “the buckstopshere”, que, livremente traduzido, significaria “a responsabilidade final é minha”. Truman não atribuía a terceiros a culpa por suas falhas. Ele as assumia. Não culpava a imprensa ou seus concorrentes.

Por muito tempo, o Brasil tem enfrentado, dramaticamente, as consequências relacionadas à ausência de lideranças eficazes, responsáveis e que tenham o objetivo de construir um país melhor baseado na meritocracia. O resultado tem sido que, ao longo das últimas décadas, temos, praticamente, alçado somente voos de galinha, numa perda lamentável de oportunidades e possibilidades.

A culpa não é exclusiva dos governantes. Os governadostambém possuem parcela importante da responsabilidade ao valorizarem mais a forma do que o conteúdo, , a ideologia que o pragmatismo, as minorias que as maiorias, e o curto que o longo prazo, sem a prevalência do bem comum. O resultado é que, de fato, a trombeta vem dando sonido incerto há muito tempo e temos perdido inúmeras batalhas. Para evitar isto, procuram-se líderes!

Marcus Vinícius de FreitasAdvogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China

Compartilhe  

Tags

últimas notícias