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Marcos Pereira: Reindustrializar o Brasil é questão de sobrevivência e soberania

Reindustrializar o Brasil é questão de sobrevivência e soberania. Se a pandemia do novo coronavírus já pode nos ensinar uma lição é a de que o Brasil precisa

Marcos Pereira: Reindustrializar o Brasil é questão de sobrevivência e soberania
Marcos Pereira: Reindustrializar o Brasil é questão de sobrevivência e soberania

Redação Publicado em 19/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h26


Reindustrializar o Brasil é questão de sobrevivência e soberania.


Se a pandemia do novo coronavírus já pode nos ensinar uma lição é a de que o Brasil precisa sim se reindustrializar e fortalecer ainda mais a produção nacional. A intervenção dos Estados Unidos na compra de equipamentos médicos e de máscaras produzidas na China que tinham como destino países da Europa e o Brasil foi apenas uma amostra de que, em tempos de crise aguda, vale aquela máxima de botequim: se a farinha é pouca, meu pirão primeiro.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu uma declaração semanas atrás que beira o surrealismo. “Precisamos de máscaras. Não queremos outros conseguindo máscaras”, disse ele. O presidente norte-americano foi acusado de fazer propostas financeiras mais altas do que as que já tinham sido assinadas entre a China e outros países. A atitude foi chamada de “pirataria moderna”.
É verdade que a China tem sido paciente na sua estratégia de se tornar o parque industrial do mundo. E nós, no Ocidente, adeptos do ganho imediato, vimos nossas plantas fabris serem uma a uma desmontadas e levadas para o Oriente, onde a mão de obra é barata e o custo é pequeno. Hoje, são pouquíssimos os produtos ou insumos que não tenham um selo “made in China”. Não fomos apenas passivos. Achávamos que tratava-se de um grande negócio… da China.
No Brasil continuamos apostando tudo nas commodities. Dizem que “o agro é pop”. Talvez seja. Mas nossa falta de perspectiva e de estratégia nos impediu de agregar valor ao que produzimos. É mais cômodo exportar o grão de soja do que extrair o óleo e o farelo. Uma cadeia produtiva que poderia ser extensa e muito mais rentável continua limitada e empobrecida. Poucos faturam muito quando muitos poderiam faturar, e mais. O mesmo serve para outros setores da indústria.
Este novo coronavírus, que já alcançou milhões de pessoas e matou outros milhares até agora, derrubou bolsas de valores pelo mundo, impôs aos governos medidas de isolamento social e tem promovido um grande estrago nas economias e nos empregos. A recessão que apontava no horizonte como uma pequena nuvem se transformou numa tempestade.
O governo federal tem agido com apoio irrestrito do Congresso Nacional para garantir que não falte pão na mesa de nenhum brasileiro. Com a liberação da ajuda de R$ 600 (ou de R$ 1.200) para trabalhadores vamos remediar a situação. Mas isso não basta. Toda crise aguda é também uma grande oportunidade de fazer de forma rápida, profunda e intensa aquilo que não se faz normalmente. Os parlamentares têm demonstrado forte compromisso com o Brasil.
É preciso parar de ideologizar sobre política industrial como se fosse um tipo de marca registrada de governos socialistas. Bem longe disso. Qualquer país desenvolvido sabe da importância de apoiar a indústria sobretudo nos setores estratégicos. Não podemos abrir mão de um setor produtivo forte – ainda que demande uma política agressiva.
Não dá para prescindir de desenvolver nossa própria tecnologia, nossos equipamentos e insumos médicos, nossos medicamentos e nossos alimentos. Ao deixar de garantir a sobrevivência do povo brasileiro, estamos entregando a soberania nacional e o destino da nossa gente a outro país.
Como ex-ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços por dois anos, e cuja pasta infelizmente foi incorporada ao Ministério da Economia acusada de ser a “trincheira da Primeira Guerra Mundial”, eu reafirmo: o Brasil precisa, sim, de uma fortíssima política de reindustrialização. O presidente da República, Jair Bolsonaro, como nacionalista que é, deveria pensar seriamente na questão.
Não podemos ficar reféns da China ou de qualquer outro país no desenvolvimento e na produção de qualquer insumo ou equipamento, especialmente de saúde. Imaginar que brasileiros morreram e ainda morrerão porque os Estados Unidos interceptaram uma encomenda de ventiladores mecânicos é a clara demonstração de que, quando se trata de sobreviver, é cada um por si e Deus para todos.
Boa semana a todos.
Marcos Pereira
Presidente Nacional do Republicanos
Vice-Presidente da Câmara dos Deputados

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