Era uma noite quente em fins dos anos 90. Cheguei na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e o ambiente estava mais agitado que o habitual. No
Redação Publicado em 25/01/2020, às 00h00 - Atualizado em 27/01/2020, às 01h48
Era uma noite quente em fins dos anos 90. Cheguei na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e o ambiente estava mais agitado que o habitual. No auditório o então presidenciável Lula da Silva preparava-se para iniciar uma palestra.
Assisti a um discurso com fortes traços de populismo e demagogia. Mas Lula jogava em casa. A Faculdade era dirigida por uma ex-advogada de sindicato e a cidade é território original do lulismo. Os estudantes reagiam com gritos e aplausos aos gatilhos emocionais acionados pela retórica do ex-líder sindical, que chegou a exortar todos a darem calote na mensalidade do curso.
Questionado se a inadimplência não prejudicaria o estudante, impedido de se rematricular, Lula respondeu que a solução seria um protesto que parasse a Rodovia Anchieta. Tudo no mais puro Lula style.
Depois de quatro mandatos presidenciais do PT –contando com mensalão, petrolão, Lava-Jato, prisão das maiores estrelas do partido e um final deprimente com o impeachment da preposta do Lula – o Brasil é outro.
Mas Lula ainda está por aí. E solto, resolveu retomar as investidas do mesmo discurso de outrora. Tão logo tenha saído da carceragem, vem tentando a todo momento acionar aqueles mesmos gatilhos emocionais que tanto efeito causavam em alguns estudantes revolucionários.
E daí que no ocaso do governo Dilma a então Presidenta tenha dado um grande calote nas instituições de ensino, deixando estudantes sem condições de pagar as mensalidades do financiamento estudantil? Será que na era da pós-verdade o que importa é a narrativa? E que os fatos são irrelevantes? Argumentos racionais convencem menos do que palavras de ordem que despertam emoções?
O Brasil que emerge em 2020 é diferente daquele que elegeu o líder político forjado no sindicalismo e ícone de um partido que se dizia dos trabalhadores. Lula e sua trupe precisam refletir que para governar uma nação de 200 milhões de pessoas é preciso mais do que discursos inflamados destinados apenas a agitar a militância inebriada.
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