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Lula nunca foi muito chegado num livro

Por Reinaldo Polito

Lula nunca foi muito chegado num livro
Lula nunca foi muito chegado num livro

Redação Publicado em 16/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h54


Lula nunca foi muito chegado num livro

Por Reinaldo Polito

Lula teve condições de estudar e se dedicar a algum tipo de aprendizado, mas, por preguiça, não se aproximou dos livros. Ele mesmo confessou que não era muito chegado à leitura. Ao participar do programa Canal Livre na TV Bandeirantes, em 1981, um dos entrevistadores, Flávio Rangel, fez a seguinte pergunta ao então líder sindicalista: Você não está estudando nada? Você sente necessidade de estudar?

Sem nenhum constrangimento, como se não ler fosse um mérito, ele deu a seguinte resposta: “Primeiro, eu acho que eu sou muito preguiçoso. Até pra ler eu sou preguiçoso. Eu não gosto de ler, eu tenho preguiça de ler. Pelo hábito, isso é uma questão de hábito. Tem companheiro que passa um dia lendo um livro. Eu não consigo”.

Esse talvez seja um dos motivos pelos quais Lula nunca dominou o padrão culto da língua portuguesa. Alguns indagam: mas se ele não lê, não estuda, não frequenta escola, como consegue ser tão articulado? Como debate temas elevados de Economia, por exemplo, sem se dedicar a esse aprendizado formal?

Há várias formas de alguém se preparar. Uma delas é por meio da observação. Como ele é inteligente e se aproximou de pessoas bem-preparadas, com boa formação intelectual, foi aprendendo “de ouvido”. Se compararmos os discursos de Lula hoje com os que proferia no início da sua carreira, vamos constatar uma evolução excepcional. Na época em que atuava no sindicato, chegava a ser ridicularizado por causa dos “erros gramaticais”. Eram falhas tão primárias que todos percebiam sua falta de instrução educacional.

Ele mesmo brincou algumas vezes com seus deslizes. Disse, por exemplo, que não falava mais “menas importante”, nem “meia complicada”. Na verdade, ele levava essa sua deficiência com bom humor. Esse comentário nada mais era que uma forma irônica de confrontar a intolerância daqueles que o criticavam.

Embora apresentasse essas incorreções gramaticais, sabia como poucos estruturar o raciocínio e eleger as mensagens que pudessem mais facilmente tocar a emoção dos ouvintes. E foi com essa comunicação simples e eficiente que se elegeu duas vezes ao cargo de presidente da república.

Como chefe do executivo, ele já havia aprimorado uma fala mais educada. Falava com boa correção nos ambientes “mais sofisticados”, e voltava às origens quando precisava se comunicar com a população. Possuía um jeito de se expressar adequado a cada circunstância.

As pessoas se questionam: com toda a projeção que conquistou, será que nunca se interessou em aprimorar seus conhecimentos gramaticais? Embora ele mesmo tenha confessado que por ser preguiçoso nunca leu nem estudou, resolvi tentar descobrir se não houvera participado de algum curso.

É muito difícil saber se personalidades frequentaram os bancos escolares depois da fama. Arregacei as mangas e fui atrás. E não é que encontrei!

Em uma entrevista concedida às Páginas Amarelas da Veja em 1993, o filólogo Napoleão Mendes de Almeida, que se notabilizou como um dos mais destacados gramáticos do país em todos os tempos, contou que Lula tentou estudar gramática. Segundo o autor da famosa obra “Gramática metódica da língua portuguesa”, ele se matriculou no seu curso por correspondência, que era um meio de aprendizado comum naquela época, mas não respondeu à primeira lição nem efetuou o pagamento da mensalidade. Revelou que Lula não deu as caras, simplesmente sumiu. Ou seja, Lula já era “Lula” naquela oportunidade –preferia deixar os livros fechados.

Por isso, muita gente duvida que ele tenha se dedicado mesmo à leitura dos 40 livros que afirmou ter lido nos 580 dias em que passou na prisão. Quase todas as notícias comentam que são os 40 livros que “ele disse” ter lido, e praticamente ninguém afirma que “ele leu”.

A não ser que tenha mudado muito, a leitura de 40 livros indicaria uma verdadeira conversão. Basta lembrar do que ele mesmo confessou naquela entrevista: “Eu tô com um livro pra ler, aquele ‘1964, a Conquista do Estado’. E faz três meses que eu tô na página 300”.

A partir dessa realidade, para supor que Lula tenha mergulhado nesse mar de leitura seria preciso acreditar que essas quatro décadas operaram um verdadeiro milagre de “despreguiça”!

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