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Justiça de SP prorroga prisão de ativista de incêndio na estátua de Borba Gato

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a decisão da juíza Gabriela Marques Bertoli atendeu a um pedido do delegado do 11° Distrito Policial de

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Redação Publicado em 31/07/2021, às 00h00 - Atualizado em 02/08/2021, às 10h37


O Tribunal de Justiça de São Paulo prorrogou na sexta-feira (30) por mais cinco dias a prisão temporária do ativista que admitiu participação no incêndio da estátua de Borba Gato no último sábado (24), na Zona Sul da cidade de São Paulo.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a decisão da juíza Gabriela Marques Bertoli atendeu a um pedido do delegado do 11° Distrito Policial de Santo Amaro, que investiga o ataque à estátua, para manter o homem detido.

Para a decisão, a juíza considerou que o depoimento de Paulo Lima, conhecido como Paulo “Galo”, apresentou inconsistências e que ele tem posição de liderança no grupo que realizou o incêndio.

Lima admitiu participação e disse que a intenção era abrir o debate sobre a homenagem a Borba Gato. O grupo que assume a autoria do ato defende que a estátua homenageia um traficante de escravos.

VÍDEO: Veja o momento em que grupo põe fogo em estátua de Borba Gato, em SP

Veja o momento em que grupo põe fogo em estátua de Borba Gato, em SP

O delegado também havia pedido a liberdade para Gessica Barbosa, companheira de Paulo “Galo” que foi presa por suposto envolvimento no protesto.

O casal foi preso na quarta-feira (28) depois de se apresentar espontaneamente à delegacia e, em depoimento, Gessica disse à polícia que estava em casa cuidando da filha e do irmão no momento da manifestação. Ela deixou a prisão no final da tarde e não foi indiciada.

No domingo (25), a Justiça já havia concedido liberdade provisória para outro homem suspeito de envolvimento no incêndio. O suspeito teria dirigido o caminhão, que foi identificado e apreendido pelos policiais. Ele responde pelo crime de associação criminosa e por causar incêndio, expondo a perigo o patrimônio de outra pessoa. O homem também é acusado de ter adulterado a placa do caminhão usado na ação.

Grupo de pessoas ateou fogo à estátua de Borba gato, na Zona Sul de SP — Foto: Reprodução/ TV Globo

Grupo de pessoas ateou fogo à estátua de Borba gato, na Zona Sul de SP — Foto: Reprodução/ TV Globo

‘Prisão arbitrária’

Para Andre Lozano Andrade, advogado que representa Paulo “Galo”, a manutenção da prisão é “arbitrária”.

“Tem um elemento político por trás. Essa prisão é absolutamente arbitrária e juridicamente não se sustenta. Em momento nenhum ele fugiu, se escondeu ou tentou atrapalhar as investigações. Pelo contrário, está colaborando. Se apresentou espontaneamente, autorizou a entrada da polícia em sua casa e nada de ilegal foi encontrado”.

Estátua de Borba Gato é incendiada em São Paulo

Estátua de Borba Gato é incendiada em São Paulo

No interrogatório à polícia, além de informar que pretendia abrir o debate sobre homenagens a figuras históricas controversas, Paulo “Galo” disse que não tinha intenção de realizar novos atos em monumentos, uma vez que considerava que sua meta fora alcançada.

“Para aqueles que dizem que a gente precisa ir por meios democráticos, o objetivo do ato foi abrir o debate. Agora, as pessoas decidem se elas querem uma estátua de 13 metros de altura de um genocida e abusador de mulheres”, chegou a escrever o homem em uma rede social.

A vereadora de São Paulo Luana Alves (PSOL) propôs a substituição da estátua do bandeirante Borba Gato por uma de Tereza de Benguela, líder quilombola do século 18.

Vereadora propõe trocar estátua do bandeirante Borba Gato por uma da líder quilombola Tereza de Benguela — Foto: Reprodução

Vereadora propõe trocar estátua do bandeirante Borba Gato por uma da líder quilombola Tereza de Benguela — Foto: Reprodução

O incêndio

O ataque à estátua ocorreu no sábado e um vídeo mostrou o momento em que os manifestantes retiraram pneus de um caminhão, espalharam os objetos pela via e nos arredores da estátua e, em seguida, atearam fogo no local.

Em frente ao monumento em chamas, o grupo responsável pela ação estendeu uma faixa com a frase “Revolução periférica – a favela vai descer e não vai ser carnaval”.

Policiais militares e bombeiros chegaram ao local pouco tempo depois, controlaram as chamas e liberaram o tráfego. Ninguém ficou ferido.

Uma avaliação preliminar da Defesa Civil indicou que, a princípio, o fogo não comprometeu a estrutura. Na segunda-feira (26), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), lamentou o episódio e disse que um empresário se propôs a doar o valor necessário para restaurar a estátua.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) informou que irá aumentar o número de rondas pela Praça Augusto Tortorelo de Araújo, onde fica a estátua de Borba Gato.

Bombeiros terminam de controlar o fogo na estátua em homenagem ao bandeirante Borba Gato, localizada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no distrito de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo que foi incendiada por manifestantes na tarde deste sábado (24). — Foto: YURI MURAKAMI/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Bombeiros terminam de controlar o fogo na estátua em homenagem ao bandeirante Borba Gato, localizada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no distrito de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo que foi incendiada por manifestantes na tarde deste sábado (24). — Foto: YURI MURAKAMI/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Outros protestos

Esta não foi a primeira vez em que a estátua na Zona Sul de São Paulo foi alvo de protestos. Em 2020, crânios foram colocados ao lado de monumentos de bandeirantes para ressignificar a história de São Paulo.

Alguns projetos de lei pedem a proibição ou a retirada de monumentos que homenageiam figuras como a de Borba Gato. As propostas têm como objetivo principal estabelecer uma política pública de combate ao racismo por meio do reconhecimento do papel que figuras históricas tiveram na prática escravagista.

A estátua do Borba Gato, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, amanheceu coberta de tinta colorida nesta sexta-feira, 30 — Foto: Luiz Claudio Barbosa/ Estadão Conteúdo

A estátua do Borba Gato, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, amanheceu coberta de tinta colorida nesta sexta-feira, 30 — Foto: Luiz Claudio Barbosa/ Estadão Conteúdo

Há discussões na Câmara dos Vereadores da capital, na Assembleia Legislativa do estado e na Câmara dos Deputados, mas em nenhuma dessas casas legislativas os projetos foram votados ainda.

Segundo o escritor Abílio Ferreira, os projetos de lei colocam em discussão a presença dos monumentos nas cidades.

“Eles reivindicam que esses monumentos sejam debatidos, que haja participação da sociedade civil na avaliação de que monumento fica onde e se os monumentos devem ser retirados, e se retirados pra onde vão. São projetos que reivindicam um debate, uma participação maior em relação maior a essas homenagens. Até agora isso não tem acontecido”, disse Ferreira.

O debate sobre a manutenção de homenagens a escravocratas também ocorreu em outros países, que chegaram a substituir estátuas, sob influência do movimento Black Lives Matter.

Em junho de 2020, manifestantes derrubaram uma estátua do traficante de escravos Edward Colston em Bristol, na Inglaterra, durante atos antirracistas que ocorreram após a morte de George Floyd, cidadão negro sufocado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos.

A estátua, que foi jogada no rio pelos manifestantes, foi substituída pela escultura de uma manifestante negra com o punho erguido. A instalação foi feita em uma operação noturna secreta por uma equipe dirigida pelo artista Marc Quinn, mas pouco depois foi retirada do local.

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Fontes: G1 – Globo.

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