Diário de São Paulo
Siga-nos

Juiz diz que esposa morreu após recusa de hospital por ter plano de saúde

A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a morte de uma mulher de 68 anos, vítima de picada de cobra em Franca (SP). A família alega que procurou a

Juiz diz que esposa morreu após recusa de hospital por ter plano de saúde
Juiz diz que esposa morreu após recusa de hospital por ter plano de saúde

Redação Publicado em 10/11/2016, às 00h00 - Atualizado às 12h01


Polícia apura omissão de socorro na morte de mulher picada por cobra

Hospital recusou atendimento porque vítima tinha plano de saúde, diz marido.
Soro deve ser dado em unidade próxima ao local do ataque, diz Santa Casa.

A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a morte de uma mulher de 68 anos, vítima de picada de cobra em Franca (SP). A família alega que procurou a Santa Casa da cidade, centro de referência nestes casos, para que a advogada recebesse o soro antiofídico, que é gratuito e está disponível na rede pública, mas o atendimento foi negado porque a paciente tinha plano de saúde.

Maria José Alves de Almeida só conseguiu receber o soro após passar por outras duas unidades de saúde e retornar, por fim, à Santa Casa, onde buscou o primeiro atendimento três horas antes. Ela sofreu complicações e não resistiu.

Para o delegado responsável pelo caso, Luiz Carlos da Silva, há fortes indícios de omissão de socorro no caso. A investigação deve ser concluída em 30 dias.

Procurada, a Santa Casa alegou que a mulher deveria ter procurado atendimento na Santa Casa de Patrocínio Paulista (SP), instituição mais próxima ao local onde aconteceu o ataque da cobra.

Busca por soro
A advogada foi atacada pela cobra no dia 26 de outubro, quando seguia para a capela da fazenda da família, em Patrocínio Paulista. O juiz aposentado Nilton Messias de Almeida conta que ouviu os gritos de socorro da mulher e a encontrou caída na porta da casa, ao lado do réptil.

Almeida conseguiu matar o animal, colocou-o em um saco e seguiu em direção à Santa Casa de Franca em busca de ajuda. “Nós ligamos antes para o médico da família e ele nos respondeu que o único lugar que poderia ser encontrado o soro seria na Santa Casa de Franca”, diz.

Segundo o aposentado, ao chegarem ao hospital, a enfermeira chefe informou que a advogada não poderia ser atendida na unidade por causa do convênio particular. “Eu ponderei que a vacina era de graça e não dependia de convênio médico. Ela respondeu que eles mandariam a vacina para o Hospital do Coração gratuitamente”, afirma.

O casal seguiu para o Hospital do Coração e recebeu a informação de que a unidade não tinha o soro para a aplicação e que a Santa Casa não havia encaminhado nenhuma vacina.

“Eu falei ‘então liga na Santa Casa para ver o que está acontecendo’. Ele [médico] me respondeu ‘não, nós já ligamos, eles disseram que não têm a vacina. Mas, vocês podem tomar a vacina lá no Hospital Municipal Janjão’.”

De acordo com o aposentado, Maria José foi levada ao pronto-socorro, onde foi constatado que ela só poderia receber o soro na Santa Casa. Os dois retornaram ao primeiro local onde buscaram ajuda e receberam outra versão para a negativa do atendimento.

“Da primeira vez ela alegou que não aplicava o soro porque nós tínhamos convênio médico. Quando nós voltamos ao hospital deu-se uma nova versão, que ela não foi recebida porque não havia vaga”.

Santa de Casa de Franca, SP, teria recusado atendimento a paciente (Foto: José Augusto Júnior/EPTV)

Santa de Casa de Franca, SP, teria recusado atendimento a paciente (Foto: José Augusto Júnior/EPTV)

Vacina após três horas
A vítima recebeu o soro mais de três horas depois de ter buscado o atendimento, mas não respondeu ao tratamento. “O veneno já havia entrado na corrente sanguínea, já havia subido para o cérebro. Ela teve uma hemorragia cerebral, em razão do sangue não estar coagulando, e entrou em coma.”

Segundo o marido, Maria José chegou a ser transferida para a UTI do Hospital Regional, mas não resistiu.

Indignado, Almeida procurou a polícia e registrou um boletim de ocorrência. Segundo o delegado, todas as unidades de saúde envolvidas no caso serão investigadas, mas há fortes indícios de omissão por parte da Santa Casa.

“Quando recusaram falando que não poderiam aplicar o soro antiofídico em razão do plano de saúde existente, nesse momento deixaram de prestar socorro à mulher. Como é sabido, o sucesso no tratamento de uma pessoa picada por cobra é a urgência, a rapidez na aplicação do soro”, afirma Silva.

Em nota, a Santa Casa de Franca informou que a advogada deveria ter buscado atendimento na Santa Casa de Patrocínio Paulista, por questões de localização, e que o marido da vítima foi orientado a buscar o Hospital do Coração para que fosse ministrado o soro antiofídico, em função de melhores condições operacionais naquele momento.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que apenas a Santa Casa está habilitada a aplicar o soro contra o veneno de cobra em Franca.

Compartilhe  

últimas notícias