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Jogadoras da seleção do Afeganistão já estão na Austrália após escapar do Talibã

Um resgate cinematográfico, que contou com uma verdadeira coalizão de ex-esportistas de diversas modalidades e nacionalidades, chegou ao seu último ato com

Jogadoras da seleção do Afeganistão já estão na Austrália após escapar do Talibã
Jogadoras da seleção do Afeganistão já estão na Austrália após escapar do Talibã

Redação Publicado em 08/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h28


Jogadoras da seleção do Afeganistão já estão na Austrália após escapar do Talibã

Um resgate cinematográfico, que contou com uma verdadeira coalizão de ex-esportistas de diversas modalidades e nacionalidades, chegou ao seu último ato com sucesso: as jogadoras da seleção feminina do Afeganistão e suas famílias, retiradas de Cabul após a tomada do poder pelo regime do Talibã, já estão em segurança na Austrália.

Craig Foster, ex-jogador da seleção australiana e hoje ativista internacional de Direitos Humanos — Foto: Reprodução

Craig Foster, ex-jogador da seleção australiana e hoje ativista internacional de Direitos Humanos — Foto: Reprodução

A confirmação da chegada ao país da Oceania foi dada ao ge, em entrevista exclusiva, pelo ex-jogador australiano Craig Foster, hoje um ativista internacional de direitos humanos, que fez parte da equipe que planejou o resgate das jogadoras.

– Elas chegaram há quatro, cinco dias, estão em quarentena em diferentes cidades da Austrália. A comunidade do futebol australiano está se mobilizando para levantar fundos e ajudá-las, também comprando equipamentos, presentes, flores e outras coisas. Eu mesmo estive com algumas famílias aqui em Sydney, para lhes dar as boas vindas – afirmou Forster em entrevista por videoconferência na noite desta terça-feira, manhã de quarta em Sydney.

Desenhos feitos pela jogadoras durante a quarentena na Austrália — Foto: Arquivo pessoal/Craig Foster

Desenhos feitos pela jogadoras durante a quarentena na Austrália — Foto: Arquivo pessoal/Craig Foster

Imediatamente após a retirada de Cabul, as cerca de 80 pessoas resgatadas, incluindo 46 jogadoras, foram levadas para Dubai, onde passaram um período aguardando os arranjos finais para serem levadas para a Austrália. Por enquanto, o trabalho principal ainda é resolver as questões burocráticas – o governo australiano concedeu visto de refugiados a todo o grupo resgatado. Em breve, acredita Foster, as jogadoras já poderão pensar em retomar a vida normal, se possível novamente reunidas na mesma cidade.

– Alguns arranjos ainda estão sendo feitos para o assentamento delas no país. Claro que eu espero que elas continuem juntas, integradas à vida australiana e, claro, jogando novamente, afinal elas são uma seleção. O plano do governo, agora, é resolver onde elas ficarão aqui na Austrália. Há um grande apoio de toda a comunidade do futebol australiano – contou o ex-jogador, de 52 anos.

Ainda há muitas questões, se elas continuarão representando o Afeganistão e outros pontos a resolver, mas acho que o mais importante é que elas chegaram à Austrália e estão em segurança, junto com as suas famílias.
— Craig Foster

Fugindo do Talibã

No dia 8 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que iria retirar as tropas americanas do Afeganistão, encerrando 20 anos de operação militar no país. Apenas uma semana depois, o regime do Talibã já havia retomado o poder, levando pânico e terror à população.

Um dos alvos do regime fundamentalista são as mulheres, que têm seus direitos cada vez mais restritos. A prática de esportes, por exemplo, é proibida pelo Talibã, situação que criou um ambiente de incerteza e insegurança para as jogadoras, que já têm um histórico de luta por direitos no país. Em 2018, a Fifa suspendeu o então presidente da Federação Afegã de Futebol, Keramuddin Karim, após denúncias de abusos sexuais contra jogadoras da seleção.

A retirada da seleção feminina do Afeganistão foi realizada no dia 24 de agosto, após um trabalho que envolveu o governo australiano, organismos internacionais como o sindicato mundial de jogadores (FifPro), Centre for Sports and Rights, na Suíça, e diversos ativistas com ligação direta com o esporte, como a ex-capitã da seleção australiana Khalida Popal, que vive na Dinamarca, além de ex-atletas do Canadá, Reino Unido e Austrália.

– Foram muitas pessoas envolvidas no resgate. Temos que agradecer o trabalho do governo australiano, que concedeu rapidamente os vistos para as jogadoras e suas famílias – conta o ex-jogador da seleção australiana, que enfrentou o Brasil duas vezes na carreira, uma delas na final da Copa das Confederações de 1997, vencida pela seleção brasileira por 6 a 0.

Por questão de segurança, Foster não tem autorização para compartilhar imagens das jogadoras em solo australiano, nem o nome de quem foi resgatado na operação.

– Infelizmente, não é seguro divulgar essas imagens. Essas pessoas ainda têm familiares vivendo no Afeganistão – observou.

Craig Foster, ex-jogador australiano, hoje ativista internacional de Direitos Humanos — Foto: Arquivo pessoal

Craig Foster, ex-jogador australiano, hoje ativista internacional de Direitos Humanos — Foto: Arquivo pessoal

GPS, roupas e sinais para localizar as jogadoras

Foster explicou que os ativistas trabalharam na retaguarda, em seus países, montando a operação, buscando as conexões certas para localizar as jogadoras e operando nos bastidores para viabilizar politicamente a ação. Em Cabul, as tropas australianas baseadas na capital afegã fizeram o resgate em pontos pré-determinados. As pessoas foram levadas para o aeroporto da capital, onde um avião do governo australiano esperava o grupo.

– Estávamos a cinco ou seis dias do fim do prazo para a evacuação (30 de agosto). O governo da Austrália se comprometeu com a proteção desse grupo, então nós dissemos “Vamos lá, levem as pessoas para o aeroporto”. Nós tínhamos as coordenadas de GPS, contatos por aplicativos decodificados, sabíamos onde as atletas estavam, e pedimos para elas enviarem fotos, usar determinadas roupas, fazer sinais, qualquer coisa que elas pudessem fazer para que fossem facilmente identificadas – descreveu Foster, que fez, de Sydney, o meio-campo com o governo do seu país.

– Essas pessoas em Cabul me passavam as informações, muitas vezes no meio da noite, e eu repassava ao governo. As pessoas que estavam esperando nos portões do aeroporto sabiam quem eras as jogadoras que seriam resgatadas, e puderam ajudá-las. Tínhamos pessoal militar dentro do aeroporto ajudando as jogadoras, era um grupo muito grande e bem organizado – relatou Foster, destacando também a ação da ministra das Relações Exteriores da Austrália, Marise Payne, que se envolveu diretamente no planejamento.

– Temos que agradecer muito a Marise Payne e ao ministro da Imigração, Alex Hawke, por suas ações rápidas que levaram a esse resgate.

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Globo Esporte

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