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Joaquim Cruz relembra único ouro do Brasil em provas de pista: “Representa a minha jornada”

A memória de Joaquim Cruz parece permanecer intacta ao recontar o primeiro e único ouro do Brasil conquistado em provas de pista do atletismo, quase 37 anos

Joaquim Cruz
Joaquim Cruz

Redação Publicado em 18/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h11


Ouro na prova dos 800m nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, lenda viva do atletismo é personagem do terceiro episódio da série “Minha Medalha” do Esporte Espetacular

A memória de Joaquim Cruz parece permanecer intacta ao recontar o primeiro e único ouro do Brasil conquistado em provas de pista do atletismo, quase 37 anos depois. O terceiro personagem da série “Minha Medalha”, do Esporte Espetacular e do ge, traz detalhes dos bastidores e as emoções que o levaram à realização do sonho dourado.

Na edição das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, o então jovem de 21 anos de Taguatinga, município de Brasília, apareceu para o mundo ao conquistar o lugar mais alto no pódio na prova dos 800m e foi o responsável por emocionar milhões de brasileiros que assistiam ao vivo, pela primeira vez na TV, uma conquista olímpica do Brasil.

Joaquim Cruz conquista a primeira medalha de ouro do Brasil em provas de pista — Foto:  Heinz Kluetmeier /Walt Disney Television via Getty Images

Joaquim Cruz conquista a primeira medalha de ouro do Brasil em provas de pista — Foto: Heinz Kluetmeier /Walt Disney Television via Getty Images

Leia abaixo o depoimento da lenda viva do atletismo Joaquim Cruz, marcado para sempre na história como um dos melhores do mundo na prova dos 800m, quinto melhor tempo na história, único medalhista até hoje a conquistar um ouro e uma prata (Seul 88) em provas de pista em Jogos Olímpicos:

Não faz parte da minha personalidade, de ficar adorando objetos né, mas a medalha simboliza a minha jornada. Desde quando minha mãe saiu do Piauí, quando eu comecei no esporte, os meus sonhos de criança, sacrifícios e mais todo o trabalho. Porque só ter sonhos não adianta, você tem que trabalhar e trabalhar muito, muito mesmo. Então a medalha sou eu, eu sou a medalha. Eu não preciso dela pra lembrar das minhas memórias, do que eu fiz, da minha jornada no esporte. Ela simboliza todo o meu esforço.

Logo nos primeiros 200 metros, o queniano já estava na minha frente, o americano tentou entrar ali pra raia 1, mas eu tava muito encostado no queniano, então eu tive que dar uma equilibrada, uma brecada, e sair pro lado direito… Ao fazer aquilo, aquela situação me colocou na melhor posição dentro da corrida. Eu não tive que fazer muito, o queniano tava puxando a prova… Foi como se eu tivesse liderando a prova, porque ele ficou do meu lado esquerdo e eu aqui com o meu campo aberto. E dali, dava pra sentir o que os outros atletas estavam fazendo atrás de mim.

Antes da linha de chegada, nos últimos 80 metros, o meu corpo se arrepiou todo e eu sentia uma sensação de voo, como se estivesse voando nas nuvens pra ser abraçado pela linha de chegada. E depois que eu peguei a bandeirinha, ali por volta dos 150 metros, deu uma sensação de choro. Mas aí eu falei “aqui não é hora”. Aí eu dei a volta completa, aí eu comecei a procurar meu treinador, Luiz Alberto, e na hora que eu dei um abraço nele, tudo veio pra baixo, ele chorou, eu chorei. Mas foi aquele choro de estresse.

Joaquim Cruz  arranca nos metros finais  para vencer a final dos 800m da Olimpíada de Los Angeles — Foto: Tony Duffy/Getty Images

Joaquim Cruz arranca nos metros finais para vencer a final dos 800m da Olimpíada de Los Angeles — Foto: Tony Duffy/Getty Images

No país do futebol, toda vez que a gente via a equipe nacional do Brasil jogar e tinha um gol, o jogador ele saía na direção do povo, né? Pra comemorar, celebrar, o que ele havia feito. Então a bandeira representou uma coisa bem simbólica mesmo, mas é o gol que eu fiz ali naquele dia e querer dividir com o povo brasileiro.

A ideia da bandeira surgiu praticamente um mês e meio antes da olimpíadas. O meu síndico passou no meu apartamento e ele tava todo contente e falou: “Joaquim, eu consegui um ingresso pra assistir a final dos 800 metros”. Aí eu tinha… A bandeirinha era minha, né? Eu tinha essa bandeirinha, entreguei pra ele e falei: “Bob, nessa olimpíada uma coisa maior que a minha vida vai acontecer… e se acontecer, você me entrega a bandeirinha”. Então ele me deu um toque de onde ele ia estar sentado… Então, a bandeirinha já estava planejada. Inclusive quando eu atravessei a linha de chegada, duas coisas que eu pensei, a primeira foi em pegar a bandeirinha, você viu que eu fui na direção de onde ele estava sentado, e a segunda era dar a volta olímpica.

Joaquim Cruz vence a prova dos 800m com recorde olímpico na Olimpíada de Los Angeles 1984 — Foto: Walt Disney Television via Getty Images

Joaquim Cruz vence a prova dos 800m com recorde olímpico na Olimpíada de Los Angeles 1984 — Foto: Walt Disney Television via Getty Images

O hino nacional, a bandeira brasileira, ela é nossa identidade, né? E ela tem um gostinho maior durante os jogos porque eu estava morando em Eugene, eu estava nos Estados Unidos há três anos, correndo pela Universidade de Oregon. Eu corri pela Universidade de Oregon em 83 e 84, e nos meios eles me perguntavam, as pessoas me perguntavam pra que país eu ia competir, né? Então aquela vitória, a volta olímpica com a bandeira brasileira foi mais pra dividir com o povo brasileiro e mostrar a minha verdadeira identidade, que eu sou brasileiro e que aquilo era o momento do Brasil, o nosso momento

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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