Uma investigação da Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro coloca em suspeita a segurança do sistema de registros de jogadores da CBF, o BID. De acordo
Redação Publicado em 24/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h03
Uma investigação da Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro coloca em suspeita a segurança do sistema de registros de jogadores da CBF, o BID. De acordo com o informe feito pela investigação, uma perícia realizada pelo Departamento de Polícia Técnico-Científico da Chefia da Polícia Civil concluiu que “o sistema da CBF pode ter dados apagados e alterados”.
Essa informação consta de um documento produzido há três semanas, no dia 6 de junho, pelo inspetor Roberto Nogueira Alves. O documento, intitulado “informação sobre investigação”, é uma resposta a questionamentos feitos pelo Tribunal de Justiça do Ceará, que julga uma ação envolvendo a transferência de um jogador em 2016.
Em nota enviada à reportagem, a CBF nega a possibilidade de fraude no BID (Boletim Informativo Diário) e contesta o documento da Polícia Civil do Rio. De acordo com a entidade, o informe da Delegacia de Defraudações parte de premissa equivocada. Leia a nota completa ao final da reportagem.
Desde 2016, o Palmácia, clube licenciado da Federação Cearense, quer receber uma indenização de 6 milhões de euros (cerca de R$ 35 milhões) pela transferência do jogador Bismark para o Najran, da Arábia Saudita.
Porém, antes da transferência, houve uma decisão judicial que suspendeu o contrato do jogador, que terminaria em 2018. Advogados do Palmácia alegam que a suspensão do contrato não significava sua rescisão. Na decisão, de 8 de janeiro de 2016, o juiz Jasiel Ivo, da 9ª Vara do Trabalho de Maceió (Alagoas), suspendeu o contrato e negou o pedido do atleta para ter condição de jogo no BID.
Na ocasião, Bismark pediu a suspensão do contrato alegando que o clube cearense não recolheu o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) em 2015 e que havia recebido uma proposta de trabalho de um time local. Depois dessa decisão, Bismark assinou um contrato com o Santa Rita, clube de Alagoas que pertence aos familiares de Gustavo Feijó, um dos oito vice-presidentes da CBF.
O Santa Rita é investigado pela Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro por ter servido de ponte para a saída de Bismark para o exterior. O jogador nunca defendeu o clube, que é apontado no BID da CBF como o repassador do atleta para o exterior. A negociação rendeu 120 mil dólares (R$ 485 mil na cotação da época) para o time de Alagoas.
Os advogados do Palmácia alegam que houve adulteração ilegal no sistema da CBF para permitir a transferência do atleta do Santa Rita para o Najran, da Arabia Saudita. A delegacia apura se há indícios de fraude, estelionato, falsidade ideológica, tráfico de influência e aliciamento de atleta no caso.
A cronologia do caso é a seguinte:
No documento da Polícia do Rio enviado ao Judiciário do Ceará, o inspetor afirma que “há explícito conluio para se transferir de forma fraudulenta o jogador”. Segundo os três peritos que investigaram o sistema da CBF, o BID, ferramenta que serve como uma espécie de cartório, pode ser alterado.
Na perícia realizada em 2017, eles dizem que “cabe ressaltar que o banco de dados (SQLSERVER), assim como o seu administrador (DBA), são ativos da referida empresa, de modo que utilizando-se diretamente os mesmo, pode-se realizar qualquer alteração dos dados sem o consentimento do sistema”. A perícia foi anexada ao inquérito, que permaneceu engavetado até este ano, quando o Judiciário cearense pediu respostas sobre o andamento do caso. A polícia, então, produziu um relatório no dia 6 de junho.
No documento, os peritos informaram que o trabalho foi acompanhado pelo diretor de tecnologia da CBF, Fernando França. No final, eles concluíram que “uma equipe de informática devidamente capacitada poderia modificar todo o sistema e apagar os rastros dos dados, de maneira a impossibilitar a detecção de vestígios por parte da Perícia Criminal”.
Antes da perícia, em depoimento na delegacia, o diretor de Registro e Transferência da CBF, Reynaldo Buzzoni, negou que o sistema poderia ser fraudado.
O caso de Bismark não é a única suspeita de fraude no sistema de registro e transferência dos atletas da CBF. Em março, o Esporte Espetacular revelou que o Bangu incluiu o atacante Pedro, do Flamengo, no histórico de formação do atacante, mesmo sem ele ter nunca jogado lá. O caso está sendo investigado pela mesma Delegacia. Em depoimento na Polícia Civil do Rio, o jogador disse que nunca atuou pelo Bangu. Mesmo assim, o clube da Zona Oeste carioca recebeu cerca de R$ 200 mil da Fiorentina como formador do atleta, por ter sido incluído no BID.
“A CBF reitera não haver qualquer possibilidade de fraude no BID, seja pelo alto grau de segurança tecnológico do sistema, seja pela rigidez do processo de controle da documentação apresentada. O sistema, inclusive, conta com auditoria externa contra fraude e com controle de boas práticas por parte da Microsoft.
Quanto às informações prestadas pelo inspetor de polícia, estas partem de premissa equivocada, que afronta decisão da Justiça do Trabalho de Alagoas, que determinou a rescisão imediata do contrato do atleta naquela ocasião.
A CBF, ao longo dos últimos cinco anos, prestou todas as informações solicitadas pelas autoridades competentes em relação a este tema, bem como disponibilizou o sistema para perícia da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, e tem convicção que não houve qualquer irregularidade no registro do atleta em questão.”
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Fontes: Ge – Globo Esporte.
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