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Imagens no telão, mudança na logística e padronização das cabines: conheça a Central do VAR

Uma nova experiência para o VAR brasileiro está prestes a acontecer. Inspirada nas principais ligas fora do país, a CBF se prepara para iniciar a operação

Imagens no telão, mudança na logística e padronização das cabines: conheça a Central do VAR
Imagens no telão, mudança na logística e padronização das cabines: conheça a Central do VAR

Redação Publicado em 17/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 18h29


Operação centralizada terá comunicação direta com os telões dos estádios. CBF, que espera iniciar trabalhos até o fim de outubro, já faz testes, um deles acompanhado pelo ge

Uma nova experiência para o VAR brasileiro está prestes a acontecer. Inspirada nas principais ligas fora do país, a CBF se prepara para iniciar a operação centralizada do árbitro de vídeo no Brasileirão. A entidade espera receber no início de outubro o restante dos equipamentos, vindos da Inglaterra, para as cabines. Após a montagem dos aparelhos, a ideia é iniciar a operação até o fim do próximo mês.

– A ideia é otimizar toda a operação de VAR. Hoje é feita em cada estádio. Ao centralizar, (vamos) ter toda a arbitragem mais próxima da gente para ter um acompanhamento dos procedimentos, para tentar aprimorar cada vez mais essa operação. Também viabiliza em relação aos custos porque facilita a logística. Em vez de viajar para todo o Brasil, centraliza tudo aqui na nossa sede – explica o coordenador de projeto do VAR, Lucas Almeida.

Para implementação da central do VAR, a CBF já fez sete testes para testar a conexão e a tecnologia. A reportagem do ge acompanhou o último teste offline, em Fortaleza x São Paulo, na última quarta (mais detalhes ao fim do texto). Veja o vídeo abaixo de como foi a simulação da análise do gol anulado do Henríquez e que foi confirmado pelo árbitro de vídeo na central.

Veja como foi montada a linha de impedimento no gol anulado do Henríquez em teste do VAR

O espaço localizado em um edifício na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, vai extinguir as cabines nos estádios. No local, serão 10 salas de VAR no mesmo ambiente, com conexão direta a todos os estádios da Série A. Cada estádio tem a sua particularidade em relação à sala do VAR. Na Central, a CBF adotará um padrão para a sala do VAR, com maior homogeneidade na operação como um todo.

Espaço para a cabine do árbitro de vídeo na Central do VAR da CBF — Foto: Roberto Maleson

Espaço para a cabine do árbitro de vídeo na Central do VAR da CBF — Foto: Roberto Maleson

A tecnologia será implementada via fibra ótica pelo ganho de rapidez e qualidade. A CBF vai trabalhar com três linhas independentes de conexão da Central do VAR para cada estádio. Com isso, a intenção da entidade é se preparar para eventuais falhas e se apoiar em uma linha de conexão em caso de falha de outra.

Com essa conexão direta com o estádio, as cabines do VAR centralizado vão passar a enviar imagens para o telão do estádio com informações do que está sendo checado e revisado pela arbitragem de vídeo. A entidade também pretende aprimorar o envio das imagens para as transmissões em busca de maior transparência com o público.

– Esse cenário de VAR centralizado é uma tendência. Na Europa toda isso é feito, as ligas de Inglaterra, Espanha, Itália… Enfim, todas as grandes ligas da Europa. Foi feita a Copa da Rússia desta maneira centralizada. A Uefa inaugurou recentemente uma Central para fazerem os jogos da Champions. Então, isso é uma tendência que acontece em todas as ligas pelo mundo e a gente também está seguindo esse caminho. É o próximo passo que a gente segue nesse projeto do VAR – destacou Almeida.

Comentarista de arbitragem da Globo, Sandro Meira Ricci valorizou a centralização do VAR no futebol brasileiro.

– Se toda a operação funcionar bem, o VAR centralizado é excelente, principalmente porque a estrutura pode ser aproveitada para treinamento contínuo dos árbitros de vídeo – lembrou o ex-árbitro de duas Copas do Mundo. Na Copa da Rússia, Sandro já atuou com a estrutura centralizada.

Sandro Meira Ricci em atuação na Copa da Rússia, em 2018 — Foto:  Richard Heathcote/Getty Images

Sandro Meira Ricci em atuação na Copa da Rússia, em 2018 — Foto: Richard Heathcote/Getty Images

Companheiro de Sandro na equipe de comentaristas de arbitragem, PC Oliveira disse que a estrutura do VAR centralizado é uma grande conquista para arbitragem e que vai ao encontro do processo que está sendo utilizado nas principais ligas do mundo.

– A presença das equipes dos árbitros no mesmo local facilitará o processo de aprendizagem, a Comissão de Arbitragem poderá desenvolver atividades antes e depois das partidas para aproximar os critérios na linha de intervenção. Todo investimento na estrutura é válido, mas o árbitro central continua sendo o centro do processo da tomada de decisão, o desempenho em campo precisa melhorar. O VAR não pode ser protagonista – ponderou PC Oliveira.

Para que o projeto entre em funcionamento, faltam algumas etapas a serem cumpridas. A primeira é a chegada do restante dos equipamentos. Contratados pela empresa Hawk-Eye, provedora da tecnologia para a Série A e a Copa do Brasil, estes aparelhos têm previsão de chegar no começo de outubro.

Enquanto isso, a CBF tem feito os testes de conexão com cada estádio para homologar o devido funcionamento com a Fifa. É necessária a homologação com a Fifa de cada estádio para o uso da cabine a partir da central. No entanto, não é preciso que todos os estádios estejam homologados para o início das operações. É possível que os trabalhos comecem com alguns estádios direto pela Central e outros com a cabine no local.

Coordenador da CBF explica funcionamento da Central de Excelência do VAR

Testes em Fortaleza 3 x 1 São Paulo

ge acompanhou em tempo real o teste offline do jogo entre Fortaleza e São Paulo, na última quarta. Conforme explicado anteriormente, a CBF tem feito testes em cada estádio para garantir a conexão e homologar a operação com a Fifa. O último teste foi no duelo pela Copa do Brasil.

Até o momento, a CBF realizou sete testes: Bahia 1 x 1 Vasco (37ª rodada de 2019), Flamengo 3 x 0 Athletico-PR (Supercopa de 2020), Flamengo 2 x 2 Palmeiras (Supercopa de 2021), Corinthians 1 x 3 Flamengo (14ª rodada de 2021), Corinthians 1 x 1 Juventude (19ª rodada de 2021), Santos 0 x 0 Bahia (20ª rodada de 2021) e Fortaleza 3 x 1 São Paulo (Quartas da Copa do Brasil de 2021). O próximo teste será no domingo, em Corinthians x América-MG (21ª rodada).

O teste offline quer dizer que todas as atuações da cabine de vídeo na Central do VAR foram uma simulação e não impactaram diretamente a partida. A operação foi feita junto com a figura de um “surrogate” – árbitro que vai narrando o jogo e suas decisões. Este surrogate é um juiz que apita a partida direto do estádio, em câmera 1. Ele tem a sua própria tela de revisão, caso necessário.

Por exemplo, o surrogate decide marcar um pênalti por possível toque no braço. O árbitro de vídeo, direto da Central do VAR, analisa o lance e avisa que o toque foi, na verdade, na barriga. O surrogate pode olhar então a telinha e mudar a decisão de assinalar o pênalti. Em Fortaleza x São Paulo, o árbitro Antonio Magno Lima Cordeiro, da Federação Cearense, atuou como surrogate no teste da CBF.

Surrogate (Antonio Magno Lima Cordeiro) em teste do jogo Fortaleza x São Paulo — Foto: Divulgação/CBF

Surrogate (Antonio Magno Lima Cordeiro) em teste do jogo Fortaleza x São Paulo — Foto: Divulgação/CBF

Na cabine do árbitro de vídeo, direto da central do VAR na CBF, trabalharam os seguintes nomes:

  • VAR: Rodrigo Nunes de Sá – RJ
  • AVAR: Wallace Muller Barros Santos – RJ
  • Observador de VAR: Cláudio José de Oliveira Soares – RJ
  • Surrogate: Antonio Magno Lima Cordeiro – CE

Além deles, a empresa responsável por prover a tecnologia do VAR ainda designou duas pessoas para o teste: o operador de replay e um técnico para garantia da conexão e trabalhar em eventuais falhas. Quando as operações começarem efetivamente, ainda teremos a figura de pelo menos um técnico no estádio para eventuais problemas no local. Ainda há um representante da CBF para tratar de problemas gerais e ficar em contato com a transmissão do jogo.

Por trás do VAR: veja simulação de atuação do VAR nos gols de Fortaleza 3 x 1 São Paulo, jogo teste na CBF

As imagens gravadas no vídeo acima mostram a atuação da cabine do VAR durante o jogo. Vale reforçar que todas as análises foram offline e o contato foi feito apenas com o surrogate designado para o duelo. Nas imagens, é possível ver o que a arbitragem de vídeo conseguiu analisar nos lances dos gols e as possíveis irregularidades.

Nos 90 minutos, o VAR atua narrando possíveis infrações e irregularidades da partida. Quando necessário, ele solicita ao operador de replay mais imagens, de outros ângulos, para avaliar a necessidade de correção de decisão no campo. Em Fortaleza x São Paulo, não houve necessidade de mudança. Veja a análise de Rodrigo Nunes de Sá, que atuou como VAR no teste:

– O VAR centralizado facilita nosso estudo, nosso aperfeiçoamento e o nosso treinamento, inclusive. Hoje (quarta-feira) foi a minha primeira experiência nessa cabine, e a comunicação foi perfeita. Como se a gente tivesse no campo de jogo. A qualidade das imagens, a operação funcionou normalmente. Não tem nenhuma diferença pelo teste que foi feito hoje. Já participei de vários jogos no campo. Hoje foi a primeira vez aqui e não vi diferença nenhuma – declarou o árbitro.

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Globo Esporte

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