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Hospital apura possível tentativa de venda de órgãos de ex-jogador

A direção do Hospital de Urgência de Teresina abriu nesta sexta-feira uma sindicância para apurar uma denúncia da família do ex-jogador, técnico e dirigente

Hospital apura possível tentativa de venda de órgãos de ex-jogador
Hospital apura possível tentativa de venda de órgãos de ex-jogador

Redação Publicado em 15/10/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h56


Família diz que foi contatada para doação de órgãos antes da morte cerebral de
Valter Maranhão, que faleceu na última quinta no Hospital de Urgência de Teresina

Valter Maranhão, treinador do Flamengo-Pi (Foto: Abdias Bideh/GloboEsporte.com)

Valter Maranhão, treinador do Flamengo-PI, falecido na última quinta-feira (Foto: Abdias Bideh)

A direção do Hospital de Urgência de Teresina abriu nesta sexta-feira uma sindicância para apurar uma denúncia da família do ex-jogador, técnico e dirigente de futebol Valter Maranhão, que faleceu na última quinta-feira no hospital vítima de AVC. Segundo a denúncia, familiares foram procurados, antes mesmo de decretada a morte cerebral de Maranhão, por uma mulher que se disse funcionária do hospital para agilizar o processo de doação de órgãos. A direção do HUT nega ter vínculo empregatício com a mulher e que o procedimento não é o que é normalmente adotado, e por isto abriu a sindicância para apurar o que houve.

O processo administrativo foi confirmado pelo diretor geral do HUT, Gilberto Carvalho. Ele conta que foi procurado pela família, que estranhou a aproximação de uma suposta funcionária do hospital, que foi até a residência do ex-atleta tentando convencê-los a assinar a liberação da doação dos órgãos, antes mesmo de ser iniciado o protocolo que confirmaria a morte cerebral. Para apurar o que de fato ocorreu, a direção optou por abrir a sindicância.

– Nós soubemos da possibilidade de que uma pessoa havia contatado a família dele para uma possível doação de órgãos. Como este procedimento não é feito desta forma, a gente até estranhou se isso foi realmente o fato ocorrido ou não. A maneira que a gente faz o contato com o familiar é diferente desse que foi relatado. Abrimos o processo para ver a possibilidade disso ter ocorrido – afirma Carvalho.

Devido às suspeitas médicas, foi iniciado na tarde de terça-feira o protocolo médico que confirma a morte cerebral do paciente. O protocolo consiste em uma série de exames para testar as respostas do organismo, e só após ele que a família é procurada para tratar sobre doação de órgãos, e nunca na própria residência. De acordo com o relato da família, eles foram procurados ainda na manhã de segunda-feira, mais de 24 horas antes da abertura do protocolo, por uma suposta funcionária do HUT.  Nesta conversa, ela teria dito que os órgãos tinham destinatários definidos, entre eles duas crianças, e uma outra mulher, amiga da família, teria comentado que o “ato generoso” de doar poderia ser bem recompensado, falando até mesmo em valores. As circunstâncias geraram nos familiares a possibilidade de estarem sendo vítimas de um esquema de venda de órgãos.

Na descrição feita pelos familiares à direção do hospital, foi identificada uma pessoa possivelmente envolvida no caso. Esta mulher seria uma assistente social que trabalha como assessora parlamente da Assembleia Legislativa do Piauí, que atuaria no HUT prestando auxílio a pacientes, vindos geralmente do interior do estado. Se ela estaria envolvida ou não na situação, e com que objetivos, o hospital só se manifestará após a sindicância, mas o diretor levanta outras possibilidades.

– Na verdade essa pessoa pode ter feito o contato com a família no sentido de ajudar de alguma forma e apenas se precipitou. Tentando ajudar, levantou suspeita. Nos disseram que a família iria fazer um B.O (boletim de ocorrência). Vamos entrar como colaborador da investigação. Se ela fez, fez com que objetivo? De ajudar ou de tirar vantagem? – comenta Gilberto Carvalho.

AVC fatal

O ex-treinador deu entrada no Hospital de Urgência de Teresina no início da noite de sábado, após sentir um mal súbito. Internado, passou por uma tomografia e foi diagnosticado um AVC hemorrágico. Ele permaneceu no hospital durante o resto do fim de semana e faria uma cirurgia na manhã de segunda-feira, mas o médico responsável cancelou o procedimento por suspeitar da morte encefálica.

Velório de Valter Maranhão (Foto: Francisco Filho)

Velório de Valter Maranhão no bairro Tancredo Neves, onde residia (Foto: Francisco Filho)

Devido à aplicação de anestesia, era necessário esperar ao menos 24 horas para dar início ao protocolo que poderia confirmar a morte cerebral de Maranhão, o que ocorreu no fim da tarde de terça-feira. Na quarta-feira foi realizada uma arteriografia, último exame do protocolo, e a morte encefálica foi confirmada pela direção do hospital às 18h. Os demais pararam no início da tarde de quinta-feira, horário oficial do falecimento.

Histórico

Valter Maranhão nasceu em Bacabal, no estado que lhe rendeu a alcunha pela qual ficaria conhecido, e chegou ao Piauí na década de 80, quando começou a jogar futebol por clubes do estado. Como jogador, atuou por vários clubes, como Tiradentes-PI, River-PI e Auto-Esporte. Foi no Flamengo-PI onde teve maior identificação após o fim da carreira de atleta, atuando como dirigente e treinador por diversas vezes. Seu último trabalho como técnico foi no comando do Timon, na Série B do Campeonato Piauiense, encerrada há menos de um mês.

Valter Maranhão em ação em um Rivengo (Foto: Acervo Severino Filho)

Valter Maranhão em ação em um Rivengo da década de 80 (Foto: Acervo Severino Filho)

Maranhão faleceu aos 60 anos. Ele era o mais velho de quatro irmãos e teve oito filhos.

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