Após a morte de um jovem negro brutalmente espancado na Itália , outro crime deixou o país em choque no último fim de semana, colocando o preconceito, desta
Redação Publicado em 14/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h41
Após a morte de um jovem negro brutalmente espancado na Itália , outro crime deixou o país em choque no último fim de semana, colocando o preconceito, desta vez por orientação de gênero, no centro do debate público.
Maria Paola Gaglione, de 22 anos de idade, viajava de scooter com seu namorado, um homem transexual, entre Caivano e Acerra, na província de Nápoles, sul da Itália. Segundo a investigação, o veículo do casal foi abalroado pela moto do irmão de Maria Paola, Michele Antonio Gaglione, 25, que o perseguia na estrada.
Maria Paola morreu instantaneamente, enquanto seu namorado, Ciro, caiu no chão e ainda teria sido agredido por Michele. O casal comemorava três anos de relacionamento. Em seu perfil no Facebook, a mãe de Ciro acusou Michele de cometer um “homicídio deliberado porque não suportava que a irmã saísse com um homem trans”.
Já o namorado de Maria Paola escreveu uma mensagem dedicada a ela no Instagram. “Não consigo mais dormir, penso em você 24 horas por dia, meu amor. Você faz muita falta, era a única que me amava de verdade”, disse.
A ONG Arcigay, que defende os direitos da comunidade LGBTQ+, entrou em contato com Ciro e disse que o jovem revelou “repetidas ameaças de morte” contra o casal. “Aquilo que aconteceu era algo que, de algum modo, já se esperava”, afirmou a presidente da entidade em Nápoles, Daniela Falanga.
O advogado de Michele, Domenico Paolella, admitiu que seu cliente perseguiu a irmã de moto, mas disse que ele não causou o acidente. Segundo o suspeito, ele queria apenas “pedir” à irmã para voltar para casa. Michele está preso preventivamente e deve responder por homicídio preterintencional – quando há dolo na ação, mas ela resulta mais grave que o esperado.
O advogado de defesa ainda acrescentou que a tragédia foi “instrumentalizada” e que a família esperava mais “delicadeza” neste momento. Paolella alega que Maria Paola havia saído de casa sem avisar ninguém, deixando seus parentes “desesperados”.
O Parlamento da Itália discute atualmente um projeto de lei que criminaliza a homofobia e a transfobia. A proposta tem como relator o deputado Alessandro Zan, do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, mas ainda não foi aprovada na Câmara dos Deputados nem no Senado.
O texto inclui a homofobia e a transfobia nos itens do Código Penal que punem atos de violência e discriminação por motivos raciais, étnicos ou religiosos. Com isso, quem cometer ou instigar discriminação por orientação sexual ou de gênero estaria sujeito a penas de até um ano e seis meses de prisão, enquanto atos de violência seriam punidos com até quatro anos de reclusão.
Além disso, institui o Dia Nacional contra a Homofobia e destina 4 milhões de euros para um fundo que financiará políticas de inclusão da comunidade LGBTQ+. No entanto, após pressão da Igreja Católica e da oposição conservadora, que qualificam o texto de “liberticida”, foi introduzida uma emenda que isenta de punição opiniões que não sejam instigações explícitas à violência.
“Estou chocado com o que aconteceu em Caivano. Não há palavras para descrever o horror desse homicídio, é assim que se morre de transfobia e misoginia na Itália, esse é o resultado da falta de leis contra o ódio e a violência transfóbica”, disse Zan no último domingo (13).
Já o prefeito de Nápoles, Luigi de Magistris, afirmou que “todos serão responsáveis por essa morte” se não houver empenho na luta pelos direitos civis. “Maria Paola e Ciro, um amor e uma vida despedaçados. Isso não pode acontecer mais”, acrescentou.
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iG
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