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História da Rensga: sucesso na web e nos negócios antes da final no LoL

Sediada em Goiânia (GO) e criada com a missão de descentralizar os esportes eletrônicos, a Rensga fez sucesso primeiro fora do League of Legends para só

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Redação Publicado em 31/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h49


Sediada em Goiânia (GO) e criada com a missão de descentralizar os esportes eletrônicos, a Rensga fez sucesso primeiro fora do League of Legends para só depois conquistar um bom resultado esportivo. O time, comandado por uma diretoria de dez investidores e que passou a ter naming rights de uma corretora de criptomoedas, chegou à final do 2º Split do Campeonato Brasileiro (CBLOL) de 2021 com uma campanha improvável e agora está a um passo da glória. No próximo sábado, a partir de 13 horas (no horário de Brasília), o clube pode alcançar o topo do pódio, concretizando o sonho que começou a ser sonhado há seis anos.

Era novembro de 2015, e o Estádio Serra Dourada, em Goiânia, estava lotado. Não para uma partida de futebol, e sim para o evento de confraternização da temporada do LoL, o CBLOL All-Star, com a presença dos principais atletas brasileiros da modalidade.

O empresário goiano Djary Veiga, na época organizador de pequenos eventos e campeonatos de esports, viu tudo de perto e percebeu o potencial ainda inexplorado de Goiás. Foi a primeira e única vez que o Centro-Oeste recebeu um evento da Riot Games.

Impressionado com o que presenciou, Djary se envolveu na organização de cada vez mais eventos e se aproximou de João Vytor Rosa Sobreira, jovem empresário que era cofundador da Go4It, agência que administrou a divisão de esports do Flamengo até 2019. Os dois foram os responsáveis pela concepção da Rensga, uma organização que teria sede em Goiânia, lutaria pela descentralização dos esports e contaria com perfil de comunicação irreverente e com regionalismos na linguagem.

— Conversamos sobre as coisas legais estarem todas em São Paulo e veio a ideia de descentralizar os esportes eletrônicos. Vamos criar um time com escudo tipo de futebol e nome em inglês? Não, né! Chegamos no nome Rensga, pensamos no caubói e no chapéu para representar o sertanejo e decidimos conversar nas redes sociais como se fosse um caipira. Fazia todo sentido. Era personificar a nossa identidade — explica Djary, hoje CEO da Rensga, em entrevista. Em Goiás, Rensga é uma palavra usada para expressar espanto ou admiração.

A ideia estava pronta. Faltava o dinheiro. Com a proposta inovadora em mãos, a dupla conseguiu a adesão de três investidores em dois meses. O quinteto de empresários lançou a Rensga em maio de 2019 e comprou a vaga da Operation Kino (OPK) no 2º Split do Circuito Desafiante, o torneio da 2ª divisão do LoL brasileiro.

Além da equipe, a Rensga inaugurou a Orbi Gaming, um complexo gamer de 800 metros quadrados, com centro de treinamento, arena para eventos e competições e computadores à disposição do público.

Estádio Serra Dourada, em Goiânia, recebeu o CBLOL All-Star em 2015 — Foto: Bruno Alvares/Riot Games

Estádio Serra Dourada, em Goiânia, recebeu o CBLOL All-Star em 2015 — Foto: Bruno Alvares/Riot Games

De olho na franquia

Com elenco diferente do atual, a Rensga ficou na lanterna do 2º Split do Circuito Desafiante de 2019, com 13 derrotas e só uma vitória, e foi rebaixada após perder a Série de Promoção. Apesar dos péssimos resultados, o clube chamou a atenção pelas publicações irreverentes e divertidas nas redes sociais, inclusive zombando da própria desgraça, e conquistou a simpatia de parte da comunidade.

A Rensga conseguiu subir da 3ª divisão para o Circuito Desafiante no 2º Split de 2020, quando a equipe derrotou a Intergalaxy Tigers por 3 a 0 na Série de Promoção. No 2º Split do Circuito Desafiante de 2020, já com Thiago “Kiari”, topo do elenco atual, o time teve a segunda melhor campanha da fase classificatória, com nove vitórias e seis derrotas, e perdeu na semifinal para a Team One por 3 a 1.

Ao longo de 2020, mesmo sem resultados esportivos de peso, a Rensga se preparou para a transformação do CBLOL para o sistema de franquias, iniciado em 2021. O clube apostava todas as fichas que, mesmo sendo novo e de fora de São Paulo, poderia ser escolhido. Para impressionar, a Rensga até convidou uma dupla sertaneja para participar da apresentação que os diretores fizeram para os representantes da Riot Games do Brasil durante o processo seletivo.

Deu certo! A Rensga, com um ano e meio de vida, entrou como uma das dez escolhidas para a franquia, ao lado de integrantes históricos do mercado, como a paiN Gaming.

Djary Veiga é o CEO da Rensga — Foto: Divulgação/Rensga

Djary Veiga é o CEO da Rensga — Foto: Divulgação/Rensga

Elenco de investidores

Na mesma época, a Rensga passou a contar com o aporte financeiro da Componente, empresa de investimentos pertencente ao empresário João Paulo Diniz, filho de Abílio Diniz, o fundador do Grupo Pão de Açúcar.

— Nossa entrada na franquia estava atrelada à entrada do capital dessa empresa. Esports é business, a empresa tem que dar lucro. Temos que correr atrás para fazer o negócio funcionar. Foi um grande ativo que entrou para podermos fazer tudo acontecer: melhorar as contratações e a infraestrutura e poder fazer o pagamento da vaga — detalha Djary. Cada vaga na franquia do CBLOL custou R$ 4 milhões para clubes que já estavam no circuito competitivo oficial de LoL, que era o caso da Rensga. Para organizações de fora, como a LOUD, o preço era de R$ 4,4 milhões.

Na mais recente movimentação administrativa, a Rensga fechou patrocínio de naming rights com a corretora de criptomoedas BitPreço e, com isso, passou a se chamar Rensga BitPreço. No CBLOL, porém, a equipe mantém o nome original, pois criptomoedas é uma das categorias de patrocinadores em que há restrições da Riot Games.

Segundo Djary, a Rensga procurou uma empresa de criptomoedas assim que a organização norte-americana TSM anunciou o acordo de naming rights com a FTX, em um negócio de US$ 210 milhões (cerca de R$ 1 bilhão). Por lá, a Riot Games também proibiu a TSM de usar o nome FTX nos campeonatos de LoL.

— Foi um grande marco para o mercado brasileiro, principalmente para o CBLOL, porque, até então, era uma categoria de patrocinadores bloqueada, mas a TSM abriu esse caminho lá fora.

Além do corpo diretivo com investidores de dez empresas, a Rensga tem hoje quatro patrocinadoras, sendo a BitPreço a principal delas. A Go Gaming é a holding que administra tanto o clube quanto o complexo Orbi Gaming.

Jogadores de League of Legends da Rensga no centro de treinamento em Goiânia — Foto: Rogério Porto/Rensga

Jogadores de League of Legends da Rensga no centro de treinamento em Goiânia — Foto: Rogério Porto/Rensga

Final e novos negócios

Com a chegada do clube à final, abrem-se novas oportunidades de negócio. Neste 2º Split do CBLOL 2021, a Rensga começou com desempenho mediano, mas embalou no segundo turno da fase de classificação, com vitórias em oito, dos nove jogos. Nas quartas de final, a equipe derrotou a LOUD por 3 a 0 e, na semifinal, bateu a paiN Gaming, principal candidata ao título, por 3 a 2. No 1º Split do CBLOL 2021, o time ficou na lanterna, com quatro vitórias e 14 derrotas.

Do 1º para o 2º Split, a Rensga manteve o topo Kiari e o atirador Matheus “Trigo”, mas fez trocas nas outras três posições, contratando o suporte Yan “Damage” e os sul-coreanos Jong-hoon “Croc” (caçador) e Hee-min “Yuri” (meio).

— A Rensga precisava de um desempenho esportivo muito relevante para chamar atenção, nós tivemos e já começaram a aparecer marcas que nós não imaginávamos. Vamos nos preparar mais e fechar novos parceiros, porque precisamos disso — comenta Djary.

Equipe de League of Legends da Rensga após classificação aos playoffs do CBLOL 2021 — Foto: Divulgação/Rensga

Equipe de League of Legends da Rensga após classificação aos playoffs do CBLOL 2021 — Foto: Divulgação/Rensga

Viagens em todo fim de semana

Apesar dos problemas de internet que marcaram a campanha na fase de classificação do CBLOL e fizeram os jogadores pedirem para jogar os playoffs em São Paulo, a Rensga continuará com a sede em Goiânia. O CEO do clube destaca que, superada a pandemia, os jogos voltarão a ser disputados presencialmente, em estúdio na capital paulista. E, mesmo com a distância, o executivo mantém os planos de treinar na capital goiana e viajar aos finais de semana para as partidas em São Paulo.

— Vai ser puxado, mas jogadores de futebol, vôlei e basquete fazem isso. O planejamento é esse — aponta Djary.

Com dois anos de existência, a Rensga vive o seu auge esportivo, depois de ter conquistado sucesso na comunicação com o público e nos negócios, o que ajudará ainda mais a organização a ser bem-sucedida em termos empresariais – a base para bons resultados em Summoner’s Rift a longo prazo.

Rensga e RED Canids Kalunga fazem a final do 2º Split do CBLOL 2021, no Rio de Janeiro, no próximo sábado, a partir de 13 horas, em um confronto melhor de cinco partidas (md5). Os jogos serão transmitidos nos canais oficiais de streaming da Riot Games Brasil e no SporTV 2. O time vencedor leva o título, o prêmio de R$ 70 mil e a classificação para o Worlds, o Campeonato Mundial de LoL.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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