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Governador alemão apoiado pela extrema direita renuncia um dia após eleição

Alianças entre liberais e a extrema direita não são inéditas na história, mas, na Alemanha moderna, bastaram 24 horas para derrubar um governador que havia

Governador alemão apoiado pela extrema direita renuncia um dia após eleição
Governador alemão apoiado pela extrema direita renuncia um dia após eleição

Redação Publicado em 08/02/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h12


Candidato do Partido Liberal-Democrático (FDP), Thomas Kemmerich foi pressionado por protestos da população depois de ter sido eleito com ajuda de partido radical que vem ganhando força na Alemanha

Alianças entre liberais e a extrema direita não são inéditas na história, mas, na Alemanha moderna, bastaram 24 horas para derrubar um governador que havia sido eleito com o apoio de um partido que flerta com o neonazismo .

O caso ocorreu na Turíngia, pequeno estado da porção oriental do país e que teve a primeira etapa das eleições regionais em 27 de outubro de 2019. Na ocasião, o partido A Esquerda terminou na primeira posição, com 31% dos votos, mas o grande destaque foi a ascensão da legenda de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que cresceu quase 13 pontos e chegou a 23,4%, ultrapassando a conservadora União Democrata-Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel , com 21,7%.

No terceiro turno da votação no Parlamento regional para escolher o novo governador, na última quarta-feira (5), o candidato do Partido Liberal-Democrático (FDP), Thomas Kemmerich , surpreendeu e acabou eleito com 45 dos 90 votos possíveis, superando Bodo Ramelow (A Esquerda), com 44.

Feito inédito e protestos

Além dos cinco legisladores do FDP, Kemmerich contou com parte dos votos da CDU, mas o apoio decisivo veio do AfD. Essa foi a primeira vez que a Alemanha teve um governador eleito com apoio de um partido de extrema direita desde o fim da Segunda Guerra.

A vitória de Kemmerich com suporte da AfD gerou reações imediatas, inclusive de Merkel, que chamou a aliança de “imperdoável”. “Foi um péssimo dia para a democracia”, disse. Já A Esquerda acusou o FDP de preferir se aliar aos “fascistas” do que ficar fora do governo.

Na cerimônia de posse do governador, a deputada esquerdista Susanne Hennig-Wellsow, que deveria entregar um ramo de flores nas mãos de Kemmerich, atirou o buquê nos seus pés e virou as costas.

A renúncia

O caso gerou ainda mais controvérsia porque o diretório da Turíngia é um dos mais radicais dentro da AfD. O líder local, Bjorn Hocke, já chegou a pedir a abolição da lei que pune a negação do Holocausto e criticou um memorial aos judeus exterminados na Segunda Guerra Mundial .

Na tarde de quinta-feira (6), no entanto, Kemmerich cedeu às pressões e renunciou ao cargo de governador, 24 horas depois de ter sido eleito. Com isso, a região provavelmente terá eleições antecipadas, embora a CDU ainda resista a voltar às urnas.

“A Turíngia é um caso sério para o FDP e para a cultura política de nosso país. Não teremos nenhuma forma de cooperação [com a extrema-direita], nem por acaso ou involuntariamente”, disse o líder dos liberais, Christian Lindner. (ANSA)

IG

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