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Forças em guerra no Iêmen concordam com cessar-fogo em Hodeida, após negociações de paz na Suécia

Forças em conflito no Iêmen concordaram em adotar um cessar-fogo na estratégica cidade portuária de Hodeida, controlada pelo grupo houthi. As partes também

Forças em guerra no Iêmen concordam com cessar-fogo em Hodeida, após negociações de paz na Suécia
Forças em guerra no Iêmen concordam com cessar-fogo em Hodeida, após negociações de paz na Suécia

Redação Publicado em 13/12/2018, às 00h00 - Atualizado às 16h17


Cidade portuária é uma das mais atingidas pelo conflito no país. Secretário-geral da ONU também anunciou nova rodada de negociações.

Forças em conflito no Iêmen concordaram em adotar um cessar-fogo na estratégica cidade portuária de Hodeida, controlada pelo grupo houthi. As partes também concordaram em deixar o local sob controle das forças locais. O anúncio foi feito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, durante encerramento de conversas de paz nesta quinta-feira (13), na Suécia.

O entendimento indica um passo no que a ONU considera como a maior tragédia humanitária do mundo em 2018. O país no sul da Península Arábica vive uma guerra entre forças rebeldes houthis – grupo xiita apoiado pelo Irã – e o governo iemenita apoiado pela Arábia Saudita (leia mais no fim da reportagem).

De acordo com a agência Reuters, os houthis controlam a maior parte dos centros populacionais do Iêmen, incluindo a capital, Sanaa. Lá, eles depuseram o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi em 2014. Atualmente, a sede do governo está localizada na cidade portuária de Aden, ao sul do país.

Pneus em chamas são vistos durante um protesto contra a inflação e o custo de vida em Taez, no Iêmen. Um alerta da ONU em setembro mostrou que a desvalorização da moeda pode levar 3.5 milhões de pessoas à fome no país, onde já estão 8.4 milhões  — Foto: Ahmad Al-Basha/AFP

Pneus em chamas são vistos durante um protesto contra a inflação e o custo de vida em Taez, no Iêmen. Um alerta da ONU em setembro mostrou que a desvalorização da moeda pode levar 3.5 milhões de pessoas à fome no país, onde já estão 8.4 milhões — Foto: Ahmad Al-Basha/AFP

Guterres também anunciou uma nova rodada de negociações de paz entre o governo do Iêmen – apoiado pela Arábia Saudita – e os houthis – alinhados com o Irã.

  • Veja também: governo e rebeldes do Iêmen listam 15 mil prisioneiros para troca

Chegamos a um acordo sobre o porto e a cidade de Hodeidah”, disse Guterres durante coletiva de imprensa em Rimbo, na Suécia, cidade que sediou as conversas.

“Veremos uma remobilização neutra de forças no porto e na cidade e o estabelecimento de um cessar-fogo em toda a província”, afirmou Guterres.

Crise humanitária no Iêmen

O número de mortos na crise humanitária do Iêmen varia de acordo com os organismos internacionais. O Conselho de Relações Internacionais fala em 17 mil mortos, mas, segundo organizações ligadas aos direitos humanos, fala-se em até 80 mil vítimas civis.

Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, que lideram a coalizão a favor do governo iemenita, têm sofrido grande pressão por parte de aliados ocidentais. Países do ocidente, inclusive, forneceram armas e dados de inteligência à aliança, com a justificativa de impor fim aos quase quatro anos de guerra.

Pai dá água para filha desnutrida em um centro de alimentação em um hospital em Hodeida, no Iêmen, em 27 de setembro  — Foto: Hani Mohammed/AP

Pai dá água para filha desnutrida em um centro de alimentação em um hospital em Hodeida, no Iêmen, em 27 de setembro — Foto: Hani Mohammed/AP

No entanto, os Estados Unidos – que são aliados da Arábia Saudita – pediram o fim das hostilidades no Iêmen. Em comunicado de outubro, Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, disse que os ataques de mísseis dos rebeldes houthis, aliados ao Irã, contra a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos devem parar.

O norte-americano afirmou também que a coalizão liderada pelos sauditas deve suspender os ataques aéreos em todas as áreas populosas do Iêmen.

Vista geral de prédios destruídos por bombardeios da coalizão liderada pela Arábia Saudita na cidade portuária de Hodeida, no Iêmen. Autoridades confirmaram que os ataques causaram no mínimo 20 mortes de civis na cidade — Foto: AFP/Stringer

Vista geral de prédios destruídos por bombardeios da coalizão liderada pela Arábia Saudita na cidade portuária de Hodeida, no Iêmen. Autoridades confirmaram que os ataques causaram no mínimo 20 mortes de civis na cidade — Foto: AFP/Stringer

Hodeida, onde haverá o cessar-fogo, é o principal porto de entrada da maior parte das importações comerciais do Iêmen e de suprimentos vitais. A cidade teve ataques frequentes nos últimos meses. Em outubro, um ataque aéreo da coalizão pró-governo liderada pela Arábia Saudita deixou 10 mortos.

Para além dos bombardeios, o Iêmen vive uma crise no abastecimento. Muitos dos mortos no conflito morreram de fome – uma ONG fala em 85 mil mortos por fome e doenças no país desde o início da guerra. Outras 14 mil estão “no limite da fome”, segundo a ONU.

Criança sub-nutrida é atendida em hospital no Iêmen. — Foto: REUTERS/Khaled Abdullah

No início de novembro, o diretor do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Oriente Médio e na África do Norte afirmou que o país se tornou um “inferno na terra” para as crianças.

“O Iêmen é atualmente um inferno na terra, não apenas para 50% ou 60% das crianças, mas para cada menino e menina que vive no Iêmen”, assegurou Geert Cappelaere.

Na ocasião, ele mencionou uma estimativa da organização que aponta que 1,8 milhão de crianças menores de cinco anos estejam em situação de “desnutrição severa”.

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