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Forças antitalibãs pedem que novo governo não seja reconhecido

As forças antitalibãs no Afeganistão pedem à comunidade internacional para não reconhecer o novo governo anunciado nessa terça-feira (7) pelo grupo

Forças antitalibãs pedem que novo governo não seja reconhecido
Forças antitalibãs pedem que novo governo não seja reconhecido

Redação Publicado em 08/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h10


Combatentes afirmam que novo governo é Ilegal

As forças antitalibãs no Afeganistão pedem à comunidade internacional para não reconhecer o novo governo anunciado nessa terça-feira (7) pelo grupo extremista. O gabinete interino – que não tem mulheres e consiste inteiramente de líderes talibãs ou seus coligados – foi criticado pelos Estados Unidos (EUA).Forças antitalibãs pedem que novo governo não seja reconhecidoForças antitalibãs pedem que novo governo não seja reconhecido

Na província de Panjshir, os combatentes que se opõem aos talibãs já afirmaram que o novo governo é “ilegal”.

A Frente Nacional de Resistência (NRF) considerou que o anúncio de novo executivo liderado pelos talibãs é “claro sinal de inimizade do grupo com o povo afegão”.

Apesar de o movimento islâmico afirmar que já derrotou a NRF no Vale de Panjshir, ao norte de Cabul, os líderes da Frente de Resistência Nacional dizem que ainda estão lutando.

Os talibãs, que assumiram o controle do Afeganistão em uma ampla ofensiva há mais de três semanas, enfrentam agora muitos desafios num país que está dilacerado pelo conflito, incluindo a estabilização da economia e a obtenção do reconhecimento internacional.

Centenas de afegãos se manifestaram ontem em pelo menos dois bairros de Cabul, denunciado a situação no vale de Panjshir e a ingerência do Paquistão, acusado de pretender controlar o país por meio dos talibãs, seus tradicionais aliados. O Paquistão nega ter qualquer interferência no país vizinho.

Entre os manifestantes incluíam-se numerosas mulheres, que receiam a sua exclusão da vida pública pelos talibãs como ocorreu em regime anterior regime, entre 1996 e 2001. Uma dessas mulheres levava a foto de uma policial que foi morta pelo movimento islâmico.

Os talibãs, que dispararam vários tiros para o ar, negam ter usado a violência para dispersar as manifestações.

Segundo a BBC, Washington afirmou em comunicado que “continuará a exigir que os talibãs cumpram os seus compromissos de permitir a passagem segura de estrangeiros e de afegãos com documentos de viagem, incluindo a permissão de voos prontos para partir do Afeganistão”.

Listas negras

Os talibãs anunciaram ontem o governo provisório, composto por homens, alguns dos quais veteranos extremistas dos anos 90 e da guerra de 20 anos contra a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.

O governo interino é liderado pelo mulá Mohammad Hassan Akhund, que está numa lista negra da Organização das Nações Uniudas. O ministro do Interior, Sirajuddin Haqqani, é procurado pelo FBI, que oferece recompensa de 4 milhões de euros pela sua captura.

O Departamento de Estado dos EUA afirma que está preocupado com “as filiações históricas de alguns membros do governo”.

“Notamos que a lista dos nomes anunciados é exclusivamente composta por membros dos talibãs ou de aliados próximos e nenhuma mulher”, declarou, em Doha, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

“Estamos também preocupados com as ligações e os antecedentes de alguns desses indivíduos. No entanto, julgaremos os talibãs pelos atos e não pelas palavras”, acrescentou.

Mohammad Hassan Akhund, o novo primeiro-ministro interino, foi ministro dos Negócios Estrangeiros de 1996 a 2001, quando os talibãs estiveram no poder pela última vez. É mais influente do lado religioso do movimento do que do lado militar.

Sirajuddin Haqqani, o ministro do Interior em exercício, é o chefe do grupo islâmico conhecido como rede Haqqani, filiado aos talibãs, e que está por trás de alguns dos ataques mais mortais na guerra que dura há duas décadas no país – incluindo a explosão de um caminhão-bomba em Cabul em 2017, que provocou a morte de mais de 150 pessoas.

Ao contrário dos talibãs, a rede Haqqani foi designada como organização terrorista pelos Estados Unidos e mantém laços estreitos com a Al Qaeda.

Segundo o FBI, Sirajuddin Haqqani é procurado para interrogatório devido a um ataque em 2008 a um hotel, que matou um cidadão norte-americano, e responsável pelos ataques às forças norte-americanas no Afeganistão.

Sharia

O líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, cujas intervenções públicas são muito raras, pediu ao governo afegão anunciado pelos talibãs que respeite a lei ‘sharia’ (sistema jurídico do Islã com origem no Corão).

“Garanto a todos os nossos concidadãos que os governantes trabalharão duramente para manter as regras islâmicas e a lei ‘sharia’ no país”, disse Hibatullah Akhundzada em comunicado em inglês, que constitui a sua primeira mensagem desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão, há mais de três semanas.

O líder talibã, que não aparecia em público há muito tempo, acrescentou que o novo governo procederá de modo que haja “paz, prosperidade e desenvolvimento duradouro” no país.

Em longa mensagem, Hibatullah Akhundzada disse ainda desejar “relações fortes e sãs com os vizinhos do Afeganistão e todos os outros países” e garantiu que seu regime tomará “medidas fortes e eficazes para a proteção dos direitos humanos”.

Existe grande expectativa em relação aos talibãs quanto a essa questão, após um primeiro governo marcado por repetidas brutalidades contra as mulheres.

O líder destacou a importância da educação, “uma das primeiras necessidades do país”. Assegurou que “todos os diplomatas estrangeiros, embaixadas, consulados, organizações humanitárias e investidores não terão qualquer problema” no país.

Nomeado para a liderança dos talibãs em maio de 2016, Hibatullah Akhundzada era, até então, um desconhecido do grande público, mais envolvido nas questões judiciais e religiosas do que nas manobras políticas.

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RTP

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