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Filme sobre 9 mortos em ação da PM em Paraisópolis contesta versão de acidente; ‘massacre’ em baile funk completa dois anos

A Defensoria Pública, a Unifesp e famílias de vítimas produziram um filme que tem o objetivo de mostrar que a ação da Polícia Militar (PM) que deixou nove

Filme sobre 9 mortos em ação da PM em Paraisópolis contesta versão de acidente; ‘massacre’ em baile funk completa dois anos
Filme sobre 9 mortos em ação da PM em Paraisópolis contesta versão de acidente; ‘massacre’ em baile funk completa dois anos

Redação Publicado em 01/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h46


Defensoria Pública, a Unifesp e famílias de vítimas produziram um filme que tem o objetivo de mostrar que a ação da Polícia Militar (PM) que deixou nove jovens mortos e outros 12 feridos em 1º de dezembro de 2019, num baile funk em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, não um acidente, mas sim um “massacre”.

O caso completa dois anos nesta quarta-feira (1º), quando a série de vídeos “Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas” será lançada oficialmente e de forma gratuita em plataformas digitais, como o Youtube. O g1 acompanhou o pré-lançamento do filme na segunda-feira (29) no Teatro Contêiner Mungunzá, na Santa Ifigênia, Centro da capital.

Teve emoção e choro na plateia, que acompanhou imagens da ação policial que já estão no processo do caso, além de verem as histórias das vítimas que morreram sendo narradas por artistas convidados.

“Desde o dia 1º de dezembro a minha vida foi destruída por essa ação miserável, desgraçada da polícia. Eu estou lutando porque eu quero justiça e quero que a verdade seja vista”, disse Maria Cristina Quirino Portugal, mãe de Denys Henrique Quirino da Silva, um dos nove mortos. Ele tinha 16 anos.

“A verdade está começando a aparecer. Isso é só o começo da nossa luta”, disse Maria Cristina sobre os nove vídeos produzidos.

Os filmes buscam desmontar a versão dos policiais militares de que os jovens morreram acidentalmente aos serem pisoteados após um tumulto que teria sido causado por dois suspeitos de roubo em fuga numa moto.

Procuram desconstruir ainda a narrativa dos agentes de que os frequentadores resistiram à presença da PM, atirando objetos contra as viaturas. E desmentir a alegação dos policiais de que as vítimas foram socorridas por eles até hospitais da região.

Os filmes foram produzidos a partir de imagens que estão nos processos judiciais do caso, que mostram imagens gravadas por câmeras de segurança e testemunhas sobre a ação da PM. Juntaram também laudos, mapas, gravações, imagens do local e depoimentos de testemunhas. Artistas convidados contam em áudio a história de cada uma das vítimas.

Participaram da produção dos vídeos o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Núcleo Especializado de Infância e Juventude (NEIJ) e o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos (NECDH) da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e os próprios familiares das vítimas.

Justiça comum

Funcionário do Tribunal de Justiça faz medição de temperatura na entrada do Fórum Criminal Ministro Mário Guimarães, na Barra Funda, em SP. — Foto: Divulgação/TJ-SP

Funcionário do Tribunal de Justiça faz medição de temperatura na entrada do Fórum Criminal Ministro Mário Guimarães, na Barra Funda, em SP. — Foto: Divulgação/TJ-SP

O caso envolvendo as mortes ocorridas em Paraisópolis é apurado em duas esferas criminais: a da Justiça comum e a da Justiça Militar.

Na Justiça comum, 13 policiais militares são réus no processo que apura a responsabilidade pelas mortes em Paraisópolis. Todos os agentes respondem aos crimes em liberdade. Doze deles são acusados pelo Ministério Público (MP) pelo crime de homicídio com dolo eventual, que é aquele no qual se assume o risco de matar. Um 13º agente é réu por expor pessoas a perigo ao soltar explosivos nelas.

Segundo a Promotoria, os PMs fecharam as vias de acesso ao baile e encurralaram os frequentadores numa viela. Depois jogaram bombas em direção às vítimas. Laudo necroscópico confirmou que elas morreram asfixiadas por sufocação indireta.

Ainda de acordo com a denúncia do MP, os PMs agrediram os jovens com golpes de cassetete, garrafas, bastões de ferro e gás de pimenta. Um dos policiais lançou um morteiro contra a multidão. Além da condenação, o MP requer a fixação de valor mínimo para reparação dos danos materiais e morais causados pelas infrações.

O entendimento dos promotores foi diferente da conclusão da Polícia Civil que, em seu relatório final, indiciou nove PMs por homicídio culposo, aquele no qual não há a intenção de matar.

O juiz Roberto Zanichelli Cintra, da 1ª Vara do Júri, do Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste, ainda não marcou a audiência de instrução do caso para decidir se os PMs devem ser levados a júri popular.

Justiça militar

O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo (TJM-SP), no Centro da cidade de São Paulo.  — Foto: Reprodução/TJM-SP
O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo (TJM-SP), no Centro da cidade de São Paulo. — Foto: Reprodução/TJM-SP

Na esfera da Justiça Militar, a Corregedoria da PM apura a conduta dos 31 policiais militares que participaram da ação em Paraisópolis. O órgão concluiu que os agentes não causaram as mortes dos frequentadores.

O Ministério Público Militar pediu ainda mais uma diligência para saber se o baile funk que ocorria na comunidade tinha autorização para funcionar. O governo do estado de São Paulo tem uma política de segurança pública chamada de Operação Pancadão, na qual a PM é acionada para coibir festas ilegais nas ruas.

“A Corregedoria concluiu o inquérito. E entendeu que não há o que se imputar aos policiais militares, qualquer tipo de conduta, em tese criminosa. Então foi uma ação absolutamente legítima e o resultado morte, ou todos aqueles resultados que ocorreram naquele trágico dia foi decorrência da própria ação das pessoas que ali estavam”, falou o promotor militar Edson Correia.

A Promotoria Militar vai encaminhar o Inquérito Policial Militar (IPM) para análise da Justiça comum, onde acusação e defesa poderão ter acesso ao material que será juntado ao processo por homicídio. A Corregedoria não culpou nenhum policial e ainda pediu o arquivamento do caso.

“O que nós fazemos é receber o relatório e, independentemente, do que foi concluído, remeter isso à Justiça comum”, falou Edson. Há um ano os policiais militares estão afastados dos patrulhamentos nas ruas e trabalham administrativamente em seus batalhões.

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G1

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