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Filhos da mãe: o amor que encoraja os árbitros de futebol em Minas Gerais

“Mãe sofre!”. Essa é uma das frases mais conhecidas e ditas quando o assunto são as mamães. Agora, se todas elas sofrem, imagine aquelas que deram a vida a

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Redação Publicado em 09/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h13


Mães de Ronei Cândido, Gláucia Faria e Paulo Cesar Zanovelli relatam experiências ao acompanharem carreira dos filhos em uma das funções mais contestadas no esporte

“Mãe sofre!”. Essa é uma das frases mais conhecidas e ditas quando o assunto são as mamães. Agora, se todas elas sofrem, imagine aquelas que deram a vida a árbitros e árbitras de futebol.

No Dia das Mães, o ge faz uma homenagem a essas guerreiras, que além de enfrentarem as preocupações do dia a dia, precisam lidar com a pressão sobre os filhos, árbitros e árbitras de futebol.

Entre xingamentos, direcionados muitas vezes a elas por conta de uma cultura machista presente nos estádios, e noites de sono perdidas por preocupação, o amor e o apoio incondicional dessas mamães encoraja os filhos a seguirem o caminho que escolheram, com o apito na boca ou a bandeira na mão.

A bola, o apito, o susto e a flor

Nos dois últimos anos, Ronei Cândido Alves foi escolhido como o melhor árbitro do Campeonato Mineiro. Mas cerca de 20 anos atrás, o árbitro nem pensava em apito, cartões ou livro de regras. Ronei era zagueiro, jogava nas competições amadoras.

Ronei Cândido Alves foi  escolhido como o melhor árbitro do Mineiro nas duas últimas temporadas  — Foto: Reprodução/TV Globo Minas

Ronei Cândido Alves foi escolhido como o melhor árbitro do Mineiro nas duas últimas temporadas — Foto: Reprodução/TV Globo Minas

Só que chegou o dia em que o então atleta, nascido em Ibiá e criado em Formiga, decidiu ser árbitro de futebol. A notícia pegou a Dona Sônia de surpresa.

— Quando ele disse aqui em casa que não iria mais jogar bola e que iria ficar apitando, eu e o pai dele ficamos assustados com medo de ter briga no campo. Mas vimos que era o que ele queria, aí apoiamos como fazemos até hoje — contou.

Sônia Gomes da Silva tem 65 anos. Mais de 23 deles foram vendo o filho em torneios amadores e profissionais, vivendo a pressão do dia a dia da arbitragem, sobretudo quando Ronei se tornou árbitro CBF e passou a apitar jogos de maior porte.

Sônia Gomes da Silva, mãe de Ronei Cândido Alves, lembra com carinho da experiência de vê-lo apitando in loco — Foto: Ronei Cândido Alves/Arquivo pessoal

Sônia Gomes da Silva, mãe de Ronei Cândido Alves, lembra com carinho da experiência de vê-lo apitando in loco — Foto: Ronei Cândido Alves/Arquivo pessoal

Mesmo com tanta pressão envolvida no dia a dia, Dona Sônia afirma que tem uma visão diferente daquela sobre os xingamentos contra o árbitro ou as mães deles. Ela destaca que viu o filho apitar uma vez in loco e ficou muito satisfeita com o que viu.

— No estádio fui uma vez só aqui em Formiga. Foi um jogo festivo e também de homenagem às mães. Gostei demais pois ganhei uma flor dele e ouvia as pessoas na arquibancada me dando parabéns pelo meu filho. Foi muito legal — contou.

Orgulho e preconceito

Gláucia Faria Paula tem os escudos da FMF e da CBF — Foto: Gláucia Faria Paula/Arquivo pessoal

Gláucia Faria Paula tem os escudos da FMF e da CBF — Foto: Gláucia Faria Paula/Arquivo pessoal

As mulheres têm cada vez mais conquistado o espaço que é de direito delas em vários segmentos sociais e profissionais. Na arbitragem, não tem sido diferente.

Natural de Leopoldina, Gláucia Faria Paula faz parte desse movimento. A assistente de 31 anos tem o escudo da Federação Mineira de Futebol e da CBF e é motivo de orgulho para Elizabeth Faria Paula.

A mãe de Gláucia destaca a vontade da filha de vencer na profissão, encarando todo o preconceito e o machismo presentes, não só no esporte, como na sociedade em geral.

Elizabeth incentiva a filha no caminho da arbitragem — Foto: Gláucia Faria Paula/Arquivo pessoal

Elizabeth incentiva a filha no caminho da arbitragem — Foto: Gláucia Faria Paula/Arquivo pessoal

— Vejo com muita satisfação, orgulho e admiração, pois ela é extremamente dedicada, resiliente, honesta e tem muito amor pelo que faz. Pena que ainda existam discriminações, insultos e desrespeitos pela arbitragem. Porém, contra as mulheres é algo exagerado. Mas, acredito que se pode avançar para melhoria das conquistas desses espaços, através de se analisar outros aspectos como valores pessoais e profissionais, que no meu entendimento independem de gênero — disse.

“Tem uma frase do Ayrton Senna, que define bem a arbitragem feminina atualmente: ” Na adversidade uns desistem, outros batem recordes””, completou.

Dona Elizabeth reagiu com naturalidade à escolha da filha e diz que o apoio sempre existiu, principalmente por ver o amor e a dedicação de Gláucia pelo esporte. No entanto, ela admite a preocupação por conta das hostilidade com as equipes de arbitragem, que acabam sobrando até para as mamães.

— Já assisti a várias atuações dela. Sinto um imenso orgulho que não cabe no peito. Ao mesmo tempo uma apreensão com a segurança dela, pois existem muitos xingamentos e hostilidades, inclusive me atingindo indiretamente por ser a mãe dela (risos) — disse.

“Árbitro tem torcida”

Uma das revelações e apostas da arbitragem mineira é Paulo César Zanovelli. Nascido em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o árbitro de 31 anos apitou o Superclássico que marcou os 100 anos do duelo entre Cruzeiro e Atlético-MG na primeira fase, e o jogo da classificação do Galo para a final, pela segunda partida da semifinal contra o Tombense, no sábado.

Paulo Cesar Zanovelli é uma das apostas da arbitragem mineira para os próximos anos — Foto: Bruno Cantini / Atlético-MG

Paulo Cesar Zanovelli é uma das apostas da arbitragem mineira para os próximos anos — Foto: Bruno Cantini / Atlético-MG

O presente do Dia das Mães veio adiantado para a Dona Cleusa Helena. Ela lembra que não se surpreendeu com a escolha do filho pela arbitragem, sobretudo pelo DNA, já que o bisavô de Zanovelli era árbitro.

Cleusa diz não se incomodar com a pressão que o filho sofre, nem com os xingamentos, muitas vezes endereçados a ela, que lida com bom humor com a situação.

“O povo xinga mesmo, é uma forma de eles desabafarem. Às vezes eles nem entendem o porquê deles estarem falando aquilo. Deixa xingar! (risos). Procuro saber, querendo assistir, com xingamento ou sem xingamento. A gente leva na brincadeira. Deixa o povo falar”.

Com raízes em São João Nepomuceno, cidade que fica a pouco mais de 60 quilômetros de Juiz de Fora, ela já assistiu ao filho em campo, acompanhada pela família. Como se isso não bastasse, um dos auxiliares, Wagner, é irmão dela e tio de Paulo César, enquanto o outro assistente era um amigo, Renato, que é considerado da família.

Abraçada ao filho, Dona Cleusa Helena carregou a família inteira para assistir à arbitragem de Zanovelli em São João Nepomuceno  — Foto: Paulo Cesar Zanovelli/Arquivo pessoal

Abraçada ao filho, Dona Cleusa Helena carregou a família inteira para assistir à arbitragem de Zanovelli em São João Nepomuceno — Foto: Paulo Cesar Zanovelli/Arquivo pessoal

Nessa oportunidade, Dona Cleusa Helena arrastou todo mundo que pôde para acompanhar a partida do amador. Segundo ela, não são apenas os times de futebol que têm torcida.

— Aqui nós não torcemos pelo time. Nossa família torce pelo árbitro. Temos essa brincadeira de que ele (Paulo César Zanovelli) tem torcida. A gente quer que ele faça bem o trabalho dele, é um sonho meu ele estar lá. Ele tem uma mãe que torce por ele em todos os jogos, uma família que está sempre torcendo por ele. Ser mãe dele neste momento é uma alegria — finalizou.

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Fonte: Ge – Globo Esporte.

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