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Fernando Maskobi: Viver refém da economia até quando?

Economia, palavra de origem grega "oikos", significa lar, casa, meio ambiente, logo, economia é a arte de administrar bem o nosso lar. Por que então nos

Fernando Maskobi: Viver refém da economia até quando?
Fernando Maskobi: Viver refém da economia até quando?

Redação Publicado em 20/05/2020, às 00h00 - Atualizado às 21h05


Viver refém da economia até quando?

Economia, palavra de origem grega “oikos”, significa lar, casa, meio ambiente, logo, economia é a arte de administrar bem o nosso lar. Por que então nos sentimos tão vulneráveis frente a um possível desastre econômico? Se nosso planeta é tão abundante, por que vivemos com medo da escassez?

Para narrarmos melhor essa resposta, precisamos reconhecer alguns valores que permeiam nossa sociedade, começando pela idolatria do conceito de crescimento a qualquer custo, o qual é refletido pelo PIB como o principal indicador econômico. Entretanto, o PIB fundamentalmente exclui temas como: respeito aos ciclos ecológicos, desigualdade social, índices de depressão e suicídio, entre outros. Enquanto estamos crescendo, fingimos estar tudo bem.

Dando um passo para trás, por que então nos debruçamos tanto no conceito de crescimento?

No campo individual, temos uma necessidade incessante de pertencer e, sem perceber, dentre traumas e frustrações, compensamos nossas carências e vinganças através da matéria, nos iludindo que o dinheiro um dia compensará essas emoções. Fazemos de tudo para não ter que lidar com nós mesmos; são vergonhas e complexos mascarados com itens de luxo, vazios existenciais amortecidos por compra compulsiva, aprovação social através de cargos, litros de álcool para expressar um sentimento. Se compreendêssemos como nossas emoções impactam nossa vida financeira, talvez a necessidade de crescer de maneira desesperada desinflaria. Nossa realidade reflete um ciclo doentio, triste e vicioso.

Sob um ponto de vista macro, toda descompensação emocional é potencializada quando costurada a um sistema matematicamente falho e ecologicamente nocivo. Deixe-me tentar explicar: os Bancos emprestam mais dinheiro do que existe de fato (dívidas mais juros abusivos), incitando mais competição no sistema. Estes pagamentos são atrelados à transformação de recursos naturais em bens e serviços, os quais não possuem qualquer harmonia com os ciclos ecológicos (lembra do PIB como indicador limitado?), destruindo ecossistemas e concentrando centros de lucro. Logo, quando não há crescimento, o sistema colapsa, visto que as dívidas não podem ser honradas, levando a uma ainda maior concentração de riquezas. Nossa engrenagem depende do crescimento abusivo.

O produto dessa equação é o que vivemos hoje: medo, desconexão, e a sensação de que nunca temos o suficiente, nos tornando prisioneiros daquilo que poderia na verdade nos libertar. O sistema não funciona principalmente para o pobre, que mal consegue sobreviver e, nem para o rico, que se aprisiona na matéria para manter uma falácia socioemocional fundamentada no medo.

Dado esse panorama, pergunto: Faz sentido a forma em que estamos vivemos?

Nunca nosso cenário pode ser tão bem fotografado. O momento pede revisão, quiçá reversão de valores. Venho estudando diversas reformas econômicas e confesso que fiquei refletindo por dias sobre como fechar essa coluna, porém, por ora, sinto apenas de deixar o convite para encararmos qual é esse fantasma que nos assombra tanto quando o assunto é economia dinheiro.

Fernando Maskobi – Executivo de finanças vivendo no Vale do Silício e apoiador do Capitalismo Consciente.
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