Falar sobre a Amazônia virou moda. Seja pelos líderes mundiais ou por corriqueiros comentários nas mídias. Independentemente do posicionamento político,
Redação Publicado em 31/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h49
Falar sobre a Amazônia virou moda. Seja pelos líderes mundiais ou por corriqueiros comentários nas mídias. Independentemente do posicionamento político, existe uma grande inconsistência que nenhuma parte está reconhecendo: nada adianta o mundo pregar pela proteção da Amazônia enquanto nosso sistema econômico depender de crescimento para funcionar.
O capitalismo como conhecemos funciona da seguinte maneira: exploramos e destruímos a natureza e a transformamos em produtos. O dinheiro quando impresso é repassado com juros, logo, sempre existirá mais dívida do que dinheiro onde a maneira para liquidá-las é através de mais crescimento.
Logo, a lógica é simples, se não crescermos o sistema colapsa, visto que o modelo corrente não tem espaço para regeneração ecológica. Bancos não emprestam dinheiro para quem regenerar a natureza. Bancos emprestam para quem gera lucro, o qual é dado por meio de mais crescimento.
Dado esse contexto, pedir proteção da Amazônia ou de qualquer outro recurso do planeta sem tocar na essência do sistema é falar do sintoma sem olhar a causa.
É verdade que algumas políticas públicas podem conceder mais proteção ambiental, porém, sob a prerrogativa do sistema atual, proteção e desenvolvimento como conhecemos conflitam.
Décadas atrás a população planetária era menor e os recursos eram mais abundantes. Hoje o cenário é bastante diferente. Vivemos uma crescente limitação de recursos que conflita com um sistema que incentiva e valoriza o crescimento. A natureza funciona em ciclo enquanto os negócios são forçados a crescer exponencialmente. O mercado valoriza quem cresce mais, ou, quem destrói mais.
Se o Biden ou qualquer outro líder global quisessem de verdade preservar a Amazônia, seria necessário tocar nos calos do capitalismo. Ou seja, temas como regeneração precisariam entrar na conta. Outra opção que soa mais como um milagre é o perdão de dívidas. Ao perdoar a dívida externa, por exemplo, eliminamos a necessidade de crescer (de destruir o planeta) para comercializar os recursos.
Nossa crise ambiental começa na forma que enxergamos e interagimos com a natureza de maneira mais ampla. Enquanto a proteção da Amazônia não vier de um lugar de respeito e harmonia com o todo, essa agenda continuará sendo política e conflitiva.
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