E cá estamos novamente, todos juntos no buraco da separação. Polarizados ideologicamente até em época de pandemia. Espera! Pandemia para alguns, para outros
Redação Publicado em 27/04/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h31
E cá estamos novamente, todos juntos no buraco da separação. Polarizados ideologicamente até em época de pandemia. Espera! Pandemia para alguns, para outros uma gripezinha.
Mas por que divergimos tanto? De onde vem tanta certeza? Por que, muitas vezes, sequer conseguimos dialogar?
Diálogo. Estágio que provavelmente não nos foi ensinado, talvez, na prática, ninguém saiba como funciona. Somos egoístas? Apáticos? Ou, latinos calorosamente demais? Buscamos a referência que nos satisfaz e pronto, problema resolvido. Lacrado. Ladrão. Mito. Próximo. É um panelaço aqui e já era, fora quem quer que esteja do outro lado.
Olhando com calma chega ser tosco, raso, não acham? O quanto dos nossos posicionamentos vem de fato de um lugar verdadeiro dentro de nós? Será que lutamos de fato pelos nossos interesses mais íntimos ou apenas pelo conjunto de valores que reflete a nossa história e aqueles que estão a nossa volta? Somos um produto do meio: daquilo que lemos, daqueles com quem convivemos, daquilo que ouvimos, da nossa religião e por aí vai. Do que teríamos que abrir mão e o quanto nos custaria moralmente provarmos outras óticas?
Reflita comigo: Hoje, nesse exato momento em que você lê esta coluna, seu entendimento da sua realidade e seu modo de pensar está amparado por valores e experiências que teve até esse momento. E, se amanhã, você acumular mais experiências ou conhecer outras realidades que o motivarão a mudar de ideia? Quer dizer que no passado (no caso, hoje), você esteve errado o tempo todo? Talvez não, você apenas se encontrava numa situação diferente da atual e por aí vamos expandindo. Sob esse prisma, ter razão se torna tão distante, quiçá arrogante.
Dado esse contexto, será que temos tanta certeza assim da forma que pregamos? Será que somos de fato tão separados e dicotômicos por natureza? O quanto desse abismo de ideais é de fato do ser humano e o quanto é do produto de um sistema falho e limitante (crenças, sistema econômico, religião, educação, etc.)?
Chuva de perguntas e seca de respostas. O que enxergo nesse processo é que toda essa certeza, seja ela de qual lado for, cansa, drena nossa energia vital. Rompe. Destrói. Viver assim não é legal. Não está legal.
Ouvi um podcast essa semana do Filósofo e Matemático, Charles Eisenstein, o qual menciona que permitimos que a verdade entra quando somos humilde e encontramos o conforto dentro do “não sei”. Enquanto houver tanta certeza, não há espaço para uma nova resposta.
Será que não seja o momento para pararmos e fazermos as pazes com a humildade? O quanto de resistência existe dentro de nós para praticar esse exercício, que seja por um minuto? Talvez você esteja desconfortável em apenas ler esse convite: “Mas é óbvio que estou certo. Péra! Será mesmo?”.
Possivelmente, nesse desconforto, entramos em contato com a resistência que habita dentro. O quanto e o quê nos custará sair do nosso campo e conforto de certezas? Que esse convite seja um hiato, um oásis de calmaria num mundo tão polarizado. Se esse também é o melhor caminho? Eu não sei. Porém, o não sei traz consigo uma paz.
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