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Fernando Maskobi – A verdade por trás do dólar alto.

Fernando Maskobi – Executivo de finanças vivendo no Vale do Silício e apoiador do Capitalismo Consciente.

Fernando Maskobi – A verdade por trás do dólar alto.
Fernando Maskobi – A verdade por trás do dólar alto.

Redação Publicado em 26/02/2020, às 00h00 - Atualizado às 19h58


Fernando Maskobi - A verdade por trás do dólar alto.

Fernando Maskobi – Executivo de finanças vivendo no Vale do Silício e apoiador do Capitalismo Consciente.

A verdade por trás do dólar alto.

Por que é praticamente impossível para uma doméstica brasileira ir à Disney?

Simplesmente porque só a elite Brasileira quer câmbio barato para viajar mas não quer abrir mão de ter um caseiro nem de ter um quartinho de empregada.

Mas qual é a relação?

De maneira simples, uma moeda forte significa economia sólida, forte e confiável. Para que esse cenário exista, é necessário ter uma base social equilibrada com mão de obra valorizada e infraestrutura robusta. Sim, existem outras variáveis econômicas que impactam o câmbio, mas pensando a longo prazo e em linhas gerais, não tem como demandar uma moeda forte com uma base econômica tão frágil e vulnerável. Simples assim.

Vejo ministros falando da taxa SELIC, da curva de inflação, do aumento do nível de exportação e todo o “economiquês” que confunde quem não é do meio. Mas a realidade é que nossa economia é fraca, desigual, com uma base completamente despreparada e com um sistema tributário completamente injusto. E sabe o pior? O real problema sequer é mencionado.

Do ponto de vista econômico, não há país de câmbio forte e confiável com tamanha disparidade social. Em países desenvolvidos, infraestrutura existe e a mão de obra é valorizada. Em economias sólidas e desenvolvidas, não existem funcionários nos estacionamentos do shopping para apertar o botão do ticket. Falar em empregados écoisa de gente rica, muito rica. Quartinho de empregada e caseiros são considerados atrocidades sociais; poderia me estender por páginas e páginas citando exemplos dessa natureza.

Mas sugiro uma pausa.

Repense com calma o quão absurdo é ter um caseiro.

Pausa novamente.

O quão absurdo é naturalizar o (leia devagar) “quartinho de empregada”.

Está mais do que na hora de enxergarmos o quão absurdo nosso modelo social se encontra. Por que então não saímos do lugar? Porque como sociedade, operamos nessa normose cultural e subconscientemente quem está no topo não quer abrir mão dos benefícios de ter empregados e empregadas (serviços em geral) a rodo. Logo, onde não há interesses, não há reformas. Mais afundo, vivemos uma cultura onde todos querem receber, mas ninguém quer contribuir.

Veja bem, não estou querendo acabar com serviços, mas quero deixar claro que reclamamos que não temos produtos de ponta, mas esquecemos que, por outro lado, temos serviços extremamente baratos; essas duas pontas não fecham. Vivemos num país com base em valores voltados a manutenção do sistema atual e perpetuação de um abismo social.

Repito: com essa mentalidade, a conta não fecha.

O Brasil não passa de uma colônia que ainda vive sim uma espécie de aristocracia disfarçada de democracia onde o “você sabe com quem está falando?” perpetua no topo da pirâmide social. E a culpa sempre será do povo que não tem educação. Mas de qual tipo de educação estamos falando aqui? Se falta educação ao povo, falta consciência social para nossa liderança.

Se quisermos, de verdade, pensarmos numa moeda forte, ou seja, numa economia confiável, é necessário expandir o olhar para um todo. Equilíbrio social é bem diferente de igualdade social. Poderia sugerir inúmeras reformas que acredito tocar nos calos econômicos que temos, mas antes de mais nada, é necessário enxergar que meia dúzia vive como rei e rainha enquanto a maioria sequer tem o que comer.

Isso não é discurso de esquerda, isso é ter clareza de que não existe desenvolvimento econômico sem desenvolvimento social e vice-versa.

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