Lembro quando numa roda de conversa entre amigos um deles comunicou que perdeu o emprego. Com seu estado emocional claramente abalado, outra pessoa falou:
Redação Publicado em 15/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h03
Lembro quando numa roda de conversa entre amigos um deles comunicou que perdeu o emprego. Com seu estado emocional claramente abalado, outra pessoa falou: “Relaxa que tudo pode piorar! Já pensou quantas pessoas não possuem sequer o que comer?”.
É fato que nossas circunstâncias podem ser relativizadas, mas quais são as condições em que vivemos que nos forçam a abafar nossos sentimentos?
Sentir é difícil de ser experimentado em nossa sociedade quando esta se encontra fundada em valores patriarcais, onde expressar sensibilidade é constantemente julgado e quase proibido, principalmente no universo dos homens. Sentir se torna ainda mais difícil quando essas circunstâncias são somadas a um estilo de vida frenético onde não há tempo para isso.
A meu ver, de maneira generalizada, vivemos numa sociedade apática, onde o excesso de individualização não abre espaço para acolhimento nem para assumirmos dias mais difíceis. Nossas emoções são abertas demais para caberem em nossos apertados trabalhos e nossas casas são caladas demais para abrir espaço para a intimidade. É como se vivêssemos numa selva de julgamentos e tabus onde quem não aparenta ser perfeito dentro dos moldes sociais, não sobrevive.
De acordo com a terapeuta Juliana Pires, “a positividade tóxica acaba trazendo à tona um dos nossos piores comportamentos, que é abafar e suprimir todos os sentimentos negativos, como se eles não precisassem existir. Não dando espaço para sentir de verdade uma dor, ou uma raiva, por exemplo, não temos a chance de integrar e crescer. Colocamos todos esses sentimentos negativos debaixo do tapete e seguimos dizendo: foi para melhor”.
Mas para onde vai tanta emoção não falada? Quais as consequências de uma sociedade sorridente por fora mas calada por dentro?
Sentimentos como tristeza, raiva e inveja, por exemplo, ainda são condenados. Somos ensinados a não senti-los ao invés de lidar com eles. “Sentir se tornou escasso, é difícil e muitas vezes até incômodo. E como não dá apenas para sentir coisas boas sem encarar o que não está bom, essa positividade exagerada acaba impedindo o fluxo natural da vida. Colocamos uma pressão extrema para experimentar apenas gratidão, alegria e compaixão. Mas e aí? O que eu faço com o restante das coisas?”, complementa Juliana.
Muito provavelmente, a positividade tóxica seja mais um fruto de uma sociedade fundamentada em valores que geram condições repressivas e opressivas, os quais claramente não nos servem mais. Porém, até que ponto conseguimos sustentar um sorriso forçado enquanto nossas dores nos consomem por dentro?
Fernando Maskobi
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