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Fernanda Gomes: Quero mais mulheres alcançando seus sonhos

Artigo publicado na nossa versão impressa do jornal em 15/10/2020, página 8

Fernanda Gomes: Quero mais mulheres alcançando seus sonhos
Fernanda Gomes: Quero mais mulheres alcançando seus sonhos

Redação Publicado em 06/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h46


Quero mais mulheres alcançando seus sonhos

Artigo publicado na nossa versão impressa do jornal em 15/10/2020, página 8

Tive uma carreira clássica e relativamente bem-sucedida na iniciativa privada. Saí da faculdade e bem rápido consegui meu primeiro emprego. Ganhava pouco e trabalhava muito. E logo entendi que era assim que as coisas funcionavam.

Com 20 e poucos anos decidi que ia trabalhar muito mesmo. Precisava crescer rápido para chegar aos 30 e ser diretora em uma grande empresa. Parecia uma meta desafiadora mas que fazia sentido. Não via outras opções além disso.

E por muitos anos segui o plano. Sempre lutei por uma promoção nova todo ano, escolhia bem minhas recolocações e apostei em startups que priorizam o meu perfil mais rápido, dinâmico, flexível e com foco em resultados. E com 30 cheguei onde queria. Era a mais jovem mulher no meu nível de liderança.

No meio do caminho me deparei com situações extremamente constrangedoras como executivos batendo palmas porque finalmente entrou uma mulher na sala de diretores. E, naquela época, eu só tinha entrado a pedido especial do meu diretor. Sim, naquela empresa não havia nenhuma diretora mulher. Vi homens sendo promovidos antes que eu sem nenhuma justificativa plausível. Engravidar? Nem pensar! O que uma gravidez e uma licença maternidade não poderiam fazer com a minha carreira?

Percebi logo cedo que precisaria ralar o dobro que um homem se quisesse os mesmos resultados. Sempre achei injusto, mas segui a cartilha. Quando eu chegar lá, mudo o jogo, pensava.

Quando cheguei descobri que somos poucas e que o jogo não foi feito pra gente ganhar. Não quero que outras mulheres passem pelo o que passei. Eu não quero que sofram humilhações, eu não quero que trabalhem o dobro, eu não quero que abdiquem de seus planos pessoais.

A gente precisa mudar o jogo, e não só querer ganhar individualmente. Porque ganhar individualmente vai nos custar muito caro, e ainda seremos poucas. E precisamos ser muitas.

Não desisti da iniciativa privada, mas vejo o quanto ela precisa ser melhorada, e quero lutar ainda mais. Lutar de verdade para mudar a estrutura. E entendi que a política é esse lugar. Com mulheres fazendo políticas públicas para mulheres, nós conseguiremos as mudanças estruturais que precisamos. Pois o que acontece dentro das empresas acontece na sociedade. Esse não é um problema específico, é transversal, e reflete as desigualdades de gênero que sofremos em todos os âmbitos da vida.

Agora minha meta mudou. Quero mais mulheres alcançando seus sonhos. Uma meta desafiadora, mas que faz sentido. Não vejo outras opções além disso.

Fernanda Gomes
Gerente de marketing em uma empresa de tecnologia. Formada em Comunicação Social, pós graduada em Administração e Especialista em Políticas Públicas e Projetos Sociais. Fundadora do projeto Existe Ler em SP e do Movimento Participa. Ativista por uma política mais participativa, equidade de gênero e sustentabilidade.

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