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Fernanda Gomes: Faça as pazes com a política

Ninguém muda a sociedade sozinho. A transformação tem que ser coletiva, e você pode ser parte dela

Fernanda Gomes: Faça as pazes com a política
Fernanda Gomes: Faça as pazes com a política

Redação Publicado em 23/08/2020, às 00h00 - Atualizado às 17h18


Faça as pazes com a política

Ninguém muda a sociedade sozinho. A transformação tem que ser coletiva, e você pode ser parte dela

Embora a gente escute muito esse papo de soberania de liberdades individuais, não podemos nos esquecer de algo óbvio: a gente não vive apenas no nível individual, mas também coletivo. Vivemos em sociedade, em cidades, organizações, e essa pandemia nos mostrou que não queremos viver diferente. Ninguém mais aguenta isolamento social.

Viver em sociedade tem seus custos. E um deles é entender a nossa responsabilidade enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade. E essa responsabilidade se chama política.

Então, se a sua resposta à pergunta “Qual a sua relação com a Política” foi  “nenhuma”, te convido a repensar isso. Viver em sociedade por si só já é um ato político. Mas para ser de fato significativo, é importante que seja também consciente.  Consciência política te faz entender que seus atos tem sim consequências políticas e que, portanto, você pode potencializá-los.

Muita gente acha que fazer política é ocupar um espaço no poder legislativo ou executivo. A tão temida política partidária. Mas essa é uma simplificação perigosa. Ainda mais em uma época tão marcada pelo desgaste e desconfiança com a política que vem nos afastando cada dia mais desses espaços.

Uma pesquisa de opinião pública realizada pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP) aponta que a insatisfação dos brasileiros no se reflete numa falta de confiança generalizada no presidente (83%), nos políticos (78%) e nos partidos (78%), expressa em todas as regiões, faixas etárias e de renda.

Esse discurso antipolítico é um obstáculo que precisa ser superado para avançarmos. Não conseguiremos resolver nenhum problema negando a política. Ela continuará lá, sendo utilizada por uma minoria que toma decisões muitas vezes descoladas das necessidades do coletivo. Mas quem não participou, depois não pode reclamar.

Mas a gente reclama. E muito. Toda hora.  Criamos esse distanciamento dicotômico do indivíduo contra a política, onde tudo relacionado à política é sujo, imoral, não funciona e portanto, não me diz respeito. E quanto mais nos distanciamos, mais reclamamos, mais entramos em um círculo vicioso sem propósito.

Chegou a hora de diminuir essas distâncias e não alargá-las. Não existe você e a política. Somos todos parte. Uma coisa não funciona sem a outra. É uma relação simbiótica.

Fazer política é um conjunto de ações que se complementam. Suas ações e escolhas individuais, seu voto, seu engajamento com temas sociais, sua participação em grupos, coletivos e organizações. Talvez você faça um pouco, talvez você faça muito. E ao tomar consciência disso, você pode entender como aumentar e melhorar seus atos políticos.

Vou dar exemplo prático: ativistas e organizações que defendem a bandeira da sustentabilidade estão lutando há anos por legislações e investimentos para o manuseio adequado dos resíduos sólidos. Além de termos avançado muito, com investimentos e estruturas – embora a gente ainda esteja longe do ideal – nos deparamos com uma segunda barreira: as pessoas não separam seus lixos.

Sim, separar seu lixo é um ato político. Pode ser simples e parecer banal, mas extremamente necessário. É com muita gente fazendo pelo menos um pouco que as mudanças e transformações acontecem. Ninguém muda a sociedade sozinho. A transformação tem que ser coletiva, e você precisa fazer parte dela. Faça as pazes com a política.

Fernanda Gomes
Gerente de marketing em uma empresa de tecnologia. Formada em Comunicação Social, pós graduada em Administração e Especialista em Políticas Públicas e Projetos Sociais. Fundadora do projeto Existe Ler em SP e do Movimento Participa. Ativista por uma política mais participativa, equidade de gênero e sustentabilidade.

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