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Fernanda Gomes: A maternidade deve gerar oportunidades e não barreiras

A maternidade nunca foi algo óbvio pra mim. De alguma maneira, ela nunca encaixou exatamente nos meus planos. Sempre tive metas de vida muito claras, como

Fernanda Gomes: A maternidade deve gerar oportunidades e não barreiras
Fernanda Gomes: A maternidade deve gerar oportunidades e não barreiras

Redação Publicado em 28/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 08h20


A maternidade deve gerar oportunidades e não barreiras

A maternidade nunca foi algo óbvio pra mim. De alguma maneira, ela nunca encaixou exatamente nos meus planos. Sempre tive metas de vida muito claras, como completar meus estudos, entrar no mercado de trabalho e, uma vez lá, chegar em uma posição de liderança antes dos 30 anos.

Nesse plano com metas concretas a maternidade sempre me pareceu um empecilho. Algo que eu só poderia pensar depois que conquistasse tudo que queria. Ela não encaixava na rotina do dia a dia. E foi sempre ficando pra depois. Para o “momento ideal”, que, a gente bem sabe, não existe. Porque não importa o momento: quando uma mulher decide ser mãe, essa decisão vai atrapalhar a sua carreira. E essa não é uma opinião minha, mas sim um triste fato comprovado por dados.

Segundo uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) feita com 247 mil mulheres de 25 a 35 anos, 48% das que se tornaram mães perderam o emprego em até dois anos depois da licença-maternidade. Os motivos para a saída são inúmeros: demissão, falta de vagas em creches ou, ainda, renda insuficiente para contratar uma babá. A  pesquisa também mostrou que entre brasileiros de 25 e 44 anos a taxa de emprego é de 41% para mães de crianças de até 1 ano, e de 92% quando são pais na mesma situação.

Foi publicada também uma pesquisa feita pelo New York Times que evidenciou que homens e mulheres que acabam de entrar no mercado de trabalho possuem remunerações muito parecidas, e que a diferença salarial  acontece de maneira mais acentuada entre o final dos 20 anos e o começo dos 30, quando geralmente as mulheres decidem ter filhos. Já as mulheres dessa faixa etária sem filhos geralmente conseguem manter distâncias menos acentuadas em relação aos salários dos colegas homens.

Olhando para tudo isso fica claro que a maternidade nunca foi um “empecilho” apenas na minha carreira. É um problema estrutural. E nós temos que mudar essa realidade. Porque ao longos dos últimos anos nós já conquistamos muitas coisas, mas ainda estamos muito longe de uma tão sonhada igualdade entre gêneros.

Hoje, faz parte da nossa luta escolher se seremos ou não mães. E também faz parte dessa luta que, qualquer que seja nossa decisão em relação a isso, nossos espaços não sejam limitados. E quando a gente pensa nessa luta é importante que ela atravesse muitos espaços. Temos que nos mobilizar em grupos, organizações, instituições. Reivindicar, lutar, exigir espaços e direitos. Mas muitas dessas conquistas dependem de um lugar ainda extremamente sub representado por nós, mulheres: a política.

E é através da política que transformaremos nossas lutas em leis. É através da política que alcançaremos ainda mais pessoas. E é por meio dela que estamos, há anos, sendo reféns de decisões que nos afetam, mas não são tomadas por nós, mulheres.

A boa notícia é que de um tempo pra cá começamos a ver cada vez mais mulheres desafiando esses papéis impostos, ocupando esses espaços como mulheres e também como mães. É potente e simbólico ver mulheres como  Manuela D’ávila amamentando em plenário. Deputadas como Marina Helou (Rede Sustentabilidade) e Talíria (Psol) grávidas ocupando esses espaços. Mulheres que sofrem violências e questionamentos que jamais seriam feitos para um futuro pai na mesma posição.

Temos que desafiar os papéis impostos a nosso gênero. Sem esquecer que esses papéis são muito diferentes quando consideramos os recortes de raças e classes sociais. Muitas mulheres não podem escolher ainda. A vulnerabilidade social restringe suas escolhas. É é por isso que devemos falar mais sobre esse assunto e lutar por mais políticas de igualdade de gênero.

A representatividade feminina na política permite que discussões de políticas públicas para mulheres sejam feitas. Abre cada vez mais espaços e possibilidade de escolhas. Faz com que mulheres tomem decisões que amparem e acolham outras mulheres. Ajudam a criar o “momento ideal” para todas nós.

Nossa luta esse ano é por eleger mais mulheres que carreguem essa bandeira. Que estejam dispostas a conquistar esses espaços. Que transformem  escolhas em oportunidades e não em limites. Seremos mulheres na política, e isso nos trará possibilidades de sermos mulheres em muitos outros espaços.

Fernanda Gomes é formada em comunicação social, pós graduada em administração e cursa uma especialização em políticas públicas e projetos sociais. É também formada em política pelo Renova BR, fundadora do projeto Existe Ler em SP e do Movimento Participa e embaixadora do mandato da deputada estadual Marina Helou (Rede-SP).

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