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Fechado pela Prefeitura de SP, circo escola da favela São Remo sofre com depredação e ameaça de invasão

Fechado pela Prefeitura de São Paulo há mais de um ano por causa da pandemia do coronavírus, o prédio do Circo Escola da favela São Remo, atrás da Cidade

Fechado pela Prefeitura de SP, circo escola da favela São Remo sofre com depredação e ameaça de invasão
Fechado pela Prefeitura de SP, circo escola da favela São Remo sofre com depredação e ameaça de invasão

Redação Publicado em 31/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h53


A falta de reforma e o abandono abriram espaço para invasões e roubos de equipamentos do projeto. Prefeitura diz que local não tem condições de uso e que abriu novos editais de projetos sociais para ajudar a comunidade impactada.

Fechado pela Prefeitura de São Paulo há mais de um ano por causa da pandemia do coronavírus, o prédio do Circo Escola da favela São Remo, atrás da Cidade Universitária, no Butantã, Zona Oeste da capital, tem sofrido com a degradação, a depredação e ameaças de invasão do terreno, segundo relato dos moradores.

“O cenário é de terra arrasada. A prefeitura encerrou o contrato com a ONG Bom Jesus e simplesmente abandonou o prédio. Há apenas um segurança no espaço e ele não dá conta do tamanho do terreno. Crianças e adolescentes sem ocupação entraram e destruíram o pouco que restava do prédio”, disse o líder comunitário Givanildo Oliveira dos Santos.

Além da destruição, nesta semana o terreno do circo escola também começou a ser invadido para ser usado como moradia, segundo informaram moradores da favela durante uma audiência pública na Câmara Municipal que debateu o assunto nesta sexta-feira (28).

“Moradores da própria comunidade invadiram o espaço com intenção de loteá-lo. Levaram até a arquibancada e outros equipamentos no circo nessa invasão e colocaram faixas de demarcação no terreno. É muito triste tudo isso que está acontecendo com um prédio que é tão importante para a comunidade”, afirmou Robson Dutra, morador da São Remo.

G1 procurou a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), que disse que “se reúne regularmente com os líderes comunitários da região para explicar sobre a rede socioassistencial no território”.

“A equipe de engenharia da pasta fez vistoria no imóvel (que pertence à Universidade de São Paulo – USP) e foi constatado por laudo técnico que o local está inadequado para a continuidade das atividades. (…) No momento, há três editais de chamamento público em andamento para implantar os serviços de Centro de Convivência Intergeracional (CCInter) com 180 vagas, Centro para Crianças e Adolescentes (CCA) de 120 vagas e o Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo para Adolescentes, Jovens e Adultos (CEDESP) com 160 vagas. Todos previstos que sejam instalados em outros imóveis no território”, disse a secretaria (veja íntegra da nota abaixo).

Áreas internas do circo escola São Remo, na Zona Oeste de São Paulo.  — Foto: Arquivo pessoal
Áreas internas do circo escola São Remo, na Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Arquivo pessoal

Fechamento do circo

O Circo Escola Vila São Remo funcionava desde 1990 em um terreno cedido pela Universidade de São Paulo (USP). Mensalmente, eram atendidas, no contraturno escolar, cerca de 300 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, de 5 a 17 anos, que moravam na comunidade.

O programa oferecia aulas de circo, esportes, informática, danças e atividades de percussão, violino e canto, além de refeições e programas de capacitação profissional para jovens e adultos, totalizando cerca de 800 atendimentos por mês, de acordo com as lideranças comunitárias.

Desde abril de 2020, no entanto, a secretaria resolveu encerrar o contrato com a ONG Bom Jesus, que administrava o projeto, deixando a comunidade sem opção de cultura dentro da favela e o terreno do projeto vazio, segundo as lideranças comunitárias.

A alegação para não renovar o contrato de prestação de serviço da ONG na época era que o local tinha sérios problemas de estrutura, com rachaduras no prédio e no muro divisório com a Cidade Universitária, conforme os laudos publicados pelo G1 no ano passado.

As fotos do laudo mostram as rachaduras no prédio e nas salas de aula do circo escola da favela São Remo.  — Foto: Reprodução

As fotos do laudo mostram as rachaduras no prédio e nas salas de aula do circo escola da favela São Remo. — Foto: Reprodução

Os engenheiros atestaram também que a lona precisava ser substituída com urgência, comprometendo a continuidade das aulas de circo em dois dos quatro blocos da área.

Eles sugeriram reparos pontuais em algumas partes para que o atendimento social pudesse continuar parcialmente. A Subprefeitura do Butantã chegou a fazer um orçamento para a reforma, que totalizou R$ 1,2 milhão para os quatros blocos. Mas a reforma não foi feita, e o espaço ficou vazio e abandonado.

“A SMADS disse primeiro que não tinha verba, depois que o terreno era da USP e a cessão da área já estava vencida e não podia mais fazer intervenções no espaço. Como nada foi feito, o espaço foi vandalizado, e as crianças que eram atendidas pelo projeto estão desassistidas, já que a comunidade não tem outras opções de lazer e formação”, afirmou o arquiteto Rafael Ayres, membro do movimento de reabertura do Circo Escola São Remo.

Cozinha do circo escola São Remo, na Zona Oeste de SP, após invasão  — Foto: Acervo pessoal
Cozinha do circo escola São Remo, na Zona Oeste de SP, após invasão — Foto: Acervo pessoal

Imagens feitas dentro do circo escola há um mês pelos moradores mostram vidros quebrados, janelas, lonas e tetos danificados, além de brinquedos e mobiliário de recreação destruídos.

“Semanas atrás houve uma limpeza, colocaram trincos nas portas para que as crianças não pudessem mais entrar e vandalizar, mas nesta semana os invasores entraram e levaram até as portas”, afirmou o líder comunitário Givanildo dos Santos.

Funcionário da limpeza da Prefeitura de SP realiza limpeza no terreno vandalizado do circo escola São Remo, na Zona Oeste de SP. Vidros dos prédios foram quebrados e equipamentos roubados. — Foto: Acervo pessoal
Funcionário da limpeza da Prefeitura de SP realiza limpeza no terreno vandalizado do circo escola São Remo, na Zona Oeste de SP. Vidros dos prédios foram quebrados e equipamentos roubados. — Foto: Acervo pessoal

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G1

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