Diário de São Paulo
Siga-nos

Família agredida por PMs durante abordagem em frente de casa no ABC mostra fotos dos ferimentos: ‘Estamos com medo de sair’

A família agredida e ofendida por policiais militares em frente a casa onde mora, durante uma abordagem em Santo André, no ABC Paulista, tirou fotos para

familia
familia

Redação Publicado em 29/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h29


A família agredida e ofendida por policiais militares em frente a casa onde mora, durante uma abordagem em Santo André, no ABC Paulista, tirou fotos para mostrar os ferimentos causados pelos agentes da Polícia Militar (PM), na madrugada da última sexta-feira (27). Seis parentes disseram ter ficado com marcas da violência policial pelos corpos.

Vídeos com as cenas das agressões, gravados por testemunhas e pelas próprias vítimas, foram encaminhados a Corregedoria da PM, que apura o caso.

No sábado (29) a Justiça Militar decretou as prisões preventivas de quatro PMs que aparecem nas imagens. Eles estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte da capital paulista. Outros três policiais militares que participaram da ocorrência estão afastados preventivamente pela corporação e também são investigados.

“Estamos com medo de sair”, O empresário Caio Camilo da Silva, de 29 anos, uma das seis pessoas da família que ficaram feridas após apanharem dos policiais militares.

Segundo ele, dar entrevistas e divulgar seus nomes à imprensa é uma maneira de a família “se sentir segura”. “Não somos bandidos, somos trabalhadores e fomos agredidos injustamente pela PM. Só estamos querendo ter voz para pedir Justiça”.

Caio teve sangramento no pé e machucados e escoriações nas pernas e braço. Caio aparece no vídeo sendo derrubado pelos agentes da Polícia Militar. “Um policial me deu um mata-leão [golpe banido e proibido pela PM no qual consiste em imobilizar uma pessoa com uma chave de braço em volta do pescoço]”.

Começo das agressões

Segundo Caio, toda a confusão com os PMs começou depois que eles abordaram seu irmão, Igor Camilo da Silva, na frente da casa onde a família mora, na Rua Recife, no bairro Sacadura Cabral. O jovem escriturário de 19 anos esperava os parentes abrirem o portão para ele entrar após ter esquecido as chaves depois de voltar da residência da namorada.

“Os PMs chegaram pedindo os documentos dele e o ofendendo: ‘O que você está fazendo uma hora dessas na rua, vagabundo?’. Meu irmão pediu respeito e falou para levarmos os documentos dele também”, contou Caio. “Nisso, um dos PMs deu um soco na boca dele e os vizinhos e nós da família começamos a filmar essa violência policial”.

Nos vídeos que foram feitos é possível ver o momento que policiais militares usam uma arma de choque para tentar imobilizar Igor. De acordo com seus parentes, o rapaz foi algemado e preso, sendo levado numa viatura da PM para uma delegacia sob a acusação de desacato e resistência à prisão.

“Como meu irmão foi detido sem motivo, ele foi solto pela Polícia Civil”, falou Caio. “Mas, durante os 40 minutos em que esteve com os PMs na viatura, eles o ameaçaram de morte”.

Igor Camilo da Silva foi algemado por PMs na frente de sua casa em Santo André, no ABC Paulista — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Igor Camilo da Silva foi algemado por PMs na frente de sua casa em Santo André, no ABC Paulista — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Irmã e cunhado agredidos

Além de Igor e Caio, também apareceram nas filmagens a irmã deles, a escriturária Sabrina Camilo da Silva, de 21 anos, e o marido dela, o empresário Gabriel Eduardo Carvalhaes, também de 21. Eles tinham saído de casa e ido a rua para levar os documentos de Igor para os policiais.

Tanto Caio quanto Sabrina acusaram os policiais de estarem embriagados durante a abordagem. “Notamos isso pelo cheiro alcoólico e a fala pastosa deles”, comentou Caio. “Estavam bêbados”, falou Sabrina.

Até a última atualização desta reportagem não havia a confirmação oficial das autoridades de que os PMs estivessem trabalhando sob efeito de bebida alcóolica, o que caracterizaria outro crime militar.

Enquanto Igor era preso e Caio imobilizado com um mata-leão, Sabrina e Gabriel também passaram a ser agredidos com socos ao se aproximarem dos policiais. As imagens mostram quando PMs dão murros nos rostos dos dois e ainda os chutam nas pernas, fazendo-os se desequilibrarem e caírem no chão.

Sabrina ainda aparece correndo para dentro de sua casa, quando um PM invade o imóvel e a gravação para. Segundo ela contou à reportagem, o policial lhe dizia: “Vou te fazer me respeitar”.

“Era um misto de pensamentos, ver se meu irmão estava vivo, se proteger para não apanhar mais, se esconder…”, disse Sabrina.

Mãe e nora xingadas

Outras duas pessoas da família, que estavam dentro da residência, também foram ofendidas com palavrões pelos PMs, segundo Caio. Uma delas foi agredida. São elas: a mãe dele, a empresária Maria Iolanda de Lacerda, de 53, e a mulher dele, a escriturária Viviane Saraiva dos Santos, 23.

“Empurraram minha mãe e ameaçaram prender minha mulher, mas ela inventou que estava grávida para distraí-los e se trancou num quarto. Mesmo assim quiseram arrombar a porta, mas não conseguiram”, falou Caio.

Todos os sete PMs que participaram da ocorrência são do 10º Batalhão da Polícia Militar (BPM). Foi a própria corporação que forneceu os vídeos das agressões à imprensa, ainda na sexta passada, sob a alegação de que estava adotando a “transparência” na Polícia Militar.

Caio Camilo da Silva acusa PMs de terem causado os ferimentos no seu braço e na perna — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Caio Camilo da Silva acusa PMs de terem causado os ferimentos no seu braço e na perna — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Prisão ‘servirá de exemplo’

Após analisar as imagens, ouvir os depoimentos das vítimas e dos PMs, a Corregedoria da Polícia Militar pediu às prisões preventivas os agentes. A Justiça Militar mandou prender dois sargentos e dois soldados.

“Com efeito, a notícia da prisão dos acusados servirá de exemplo aos 100 mil homens e mulheres fardados, armados e treinados pelo Estado de forma que saibam que a violência policial não é método de combate ao crime”, escreveu o juiz militar Marcos Fernando Theodoro Pinheiro, na sua decisão. Prisão preventiva é aquela na qual uma pessoa fica detida por tempo indeterminado.

Além da Corregedoria da PM, o 1º Distrito Policial (DP) de Santo André também investiga o caso.

G1 não conseguiu contato com as defesas deles para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.

Repercussão

PMs agridem família de homem abordado em Santo André — Foto: Polícia Militar/Divulgação

PMs agridem família de homem abordado em Santo André — Foto: Polícia Militar/Divulgação

Ouvidoria da Polícia e o Grupo Tortura Nunca Mais criticaram a abordagem da PM contra a família no ABC.

“Foi uma atitude covarde e violenta dos policiais, que foge do que o protocolo da PM estabelece”, disse o ouvidor Elizeu Soares Lopes.

“No caso, temos o abuso de autoridade e lesões corporais contra um rapaz e uma mulher, diante da atuação violenta dos PMs”, disse o advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais.

.

.

.

Fontes: G1 – Globo.

Compartilhe  

últimas notícias