Diário de São Paulo
Siga-nos

Extra na Zona Sul de SP reembala e recoloca à venda carnes, frios e embutidos com validade vencida, diz ex-funcionário; polícia investiga

O supermercado Extra Cambuci, na Zona Sul da capital paulista, reembala e recoloca à venda carnes, frios e embutidos com validade vencida, de acordo com a

Extra na Zona Sul de SP reembala e recoloca à venda carnes, frios e embutidos com validade vencida, diz ex-funcionário; polícia investiga
Extra na Zona Sul de SP reembala e recoloca à venda carnes, frios e embutidos com validade vencida, diz ex-funcionário; polícia investiga

Redação Publicado em 08/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h01


O supermercado Extra Cambuci, na Zona Sul da capital paulista, reembala e recoloca à venda carnes, frios e embutidos com validade vencida, de acordo com a denúncia de um ex-funcionário ao g1. Após constatar irregularidades, a Vigilância Sanitária multou e interditou parcialmente a unidade em agosto.

Na tarde desta terça-feira (7) agentes da Vigilância Sanitária e policiais do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) foram ao supermercado. A 2ª Delegacia de Polícia de Saúde Pública vai abrir um inquérito para investigar o caso.

Questionado, o Extra disse, em nota, que a prática não condiz com o procedimento da companhia e que vai averiguar imagens para tomar medidas necessárias. (veja a íntegra da nota abaixo)

Imagens gravadas pelo fatiador de frios Wellington Pereira da Silva, 34 anos, em agosto deste ano às quais o g1 teve acesso com exclusividade mostram cortes de frango e lombo, peças de mortadela, presunto, bacon, entre outros, fora da data de validade sendo retirados da embalagem original, pesados, reembalados e recolocados à venda (veja vídeo acima).

A Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informou que o local é acompanhado pela Unidade de Vigilância em Saúde (Uvis) Sé desde o dia 17 de agosto de 2021, quando, por meio da ouvidoria municipal, recebeu uma primeira denúncia.

“Na ocasião, foram identificadas irregularidades que resultaram na lavratura de Auto de Infração e Termo de Interdição Parcial de Estabelecimento. Foi aberto processo administrativo sanitário para acompanhamento”. (leia nota completa abaixo).

Wellington foi demitido em outubro porque, segundo ele, não concordava com a prática. Funcionários do local que preferem não se identificar afirmam que as ordens para vender produtos vencidos continua.

Extra diz que investiga caso

O Extra afirmou, por meio de nota, que a prática não condiz com o procedimento de segurança alimentar da companhia e que abriu um processo de apuração interna para averiguar as imagens e tomar as medidas necessárias (leia nota completa abaixo).

De acordo com o fatiador de frios, a ordem era a de que as carnes fossem lavadas com água antes de serem recolocadas à venda. No caso dos frios e embutidos, os funcionários eram orientados a abrir a embalagem original, fatiar os alimentos e recolocá-los à venda no balcão principal.

Quando o produto é pesado na balança, é calculada automaticamente uma nova data de validade para ele, como se fosse novo, segundo o funcionário. Os frios vencidos, por exemplo, iam para uma bandeja de isopor com data de validade para mais sete dias.

Segundo Wellington, era comum haver reclamação de clientes que tinham comprado frios e carnes estragados e que voltavam ao mercado para pedir para trocar o alimento.

Em mesa e paredes sujas, com vassoura e rodo expostos e sem luvas, funcionário lava cortes de frango — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação
Em mesa e paredes sujas, com vassoura e rodo expostos e sem luvas, funcionário lava cortes de frango — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

De acordo com a Coordenadoria de Vigilância Sanitária (Covisa), é expressamente proibido expor para venda e utilizar produtos com prazos de validade vencidos, sem identificação ou sem o registro no órgão competente, conforme legislação vigente. Os estabelecimentos que apresentam irregularidades higiênico-sanitárias são autuados e estão sujeitos à multa, que pode chegar a R$ 500 mil.

O órgão esclarece que o consumo de alimentos fora do prazo pode causar intoxicação alimentar, infecções, náuseas, dores abdominais, vômito, diarreia e infecções que variam de grau de acordo com o quadro do paciente. Em casos mais graves, pode levar à internação e até a óbito (leia nota completa abaixo).

Segundo o ex-funcionário, as ordens para recolocar à venda os produtos começaram em julho deste ano quando a supervisora direta dele tirou licença-maternidade. A substituta teria adotado a prática para fazer economia.

“Começaram a me pedir para ‘fazer bandeja’ [fatiar e colocar na bandeja de isopor] e colocar no balcão principal os frios vencidos. Eu falei que não queria fazer essas coisas porque acho errado com o povo e comigo mesmo, que também sou consumidor. Pedi para ser transferido ou ser mandado embora, mas não queriam me transferir.”

“Na segunda vez que me pediram isso foi a mesma coisa. Falei que não queria fazer, que se eu soubesse que esse mercado era assim eu não teria ido trabalhar lá. Mas se você não fizer o que eles pedem, você toma advertência e depois suspensão. Você é obrigado. Todo mundo que está lá é pai de família, trabalhador. Se não fizer isso, perde o emprego. Fui mandado embora por não estar fazendo isso”, conta ele.

De acordo com Wellington, ele foi demitido no dia 18 de outubro e até segunda-feira (6) o supermercado não tinha liberado a documentação necessária para ele entrar com o pedido de seguro-desemprego e sacar o Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço. (FGTS).

“A supervisora me dizia ‘Se você não fizer eu vou te dar uma advertência de que você está se negando a trabalhar.’ Queriam me dar justa causa porque eu não queria fazer. Eu falei com eles que eu não queria ficar lá, que ali é muita sujeira com o povo, que eu não tinha vontade nenhuma de trabalhar lá. Minha mãe me ensinou a nunca fazer coisa errada na vida, vou fazer coisa errada para os outros?”

Após ter sido acionado pelo g1, o Extra entrou em contato com o ex-funcionário e a homologação da demissão foi feita na terça-feira (7). De acordo com a mãe de Wellington, o supermercado queria fazer um acordo para que ele não divulgasse as imagens, mas ele se negou. O supermercado não se posicionou sobre a demissão.

Carnes com data de validade vencidas empilhadas no chão do açougue: lavadas antes de serem recolocadas à venda — Foto: Arquivo pessoal
Carnes com data de validade vencidas empilhadas no chão do açougue: lavadas antes de serem recolocadas à venda — Foto: Arquivo pessoal

Wellington conta que chegou a denunciar o supermercado para a Vigilância Sanitária. O órgão confirma pelo menos uma denúncia, do dia 17 de setembro. Wellington conta que, nesta ocasião, enquanto o gerente e a chefe de recursos humanos conversavam com os agentes, a supervisora dele correu até a seção de frios, pegou os produtos vencidos, deu baixa no sistema e desceu com os produtos para o lixo, prática conhecida no meio como “pique”.

Depois que os agentes foram embora, ele conta que a supervisora teria recolocado os produtos para a venda.

“Denunciei sem eles saberem para a Vigilância Sanitária duas vezes. Fui eu. Mas quando eles chegaram lá, o gerente e a chefe de recursos humanos ficaram conversando com eles [os agentes] e enrolando por uns quinze minutos enquanto a supervisora correu lá para esconder o que estava vencido. Ela colocou no pique e desceu correndo. Parece que deu baixa no sistema e jogou fora, mas depois que eles foram embora ela foi lá, pegou e colocou de novo para vender. Não acharam nada porque esconderam as caixas”, conta

De acordo com o ex-funcionário, sempre que havia produtos vencidos, a ordem de retirar da embalagem original, fatiar e colocar no balcão principal era renovada.

“Eles mandavam fazer e refazer. Vencia o produto, eles mandavam abrir o pacote, tirar o produto, fatiar e colocar nas bandejas de isopor. Quando você pesa para colocar nas bandejas, a balança cria uma nova data de validade do produto, como se ele fosse novo, com sete dias para a frente de validade. Aí se ficava lá e vencia, eles mandavam fazer a mesma coisa de novo”, afirma.

Ele também conta que as condições de higiene no açougue eram precárias. Nas imagens gravadas por ele, é possível ver o local alagado. Mesas e paredes sujas e emboloradas também aparecem no vídeo acima.

“Estourou uma boca de lobo no açougue e ficou três semanas alagado lá dentro e todo mundo trabalhando normalmente”, relembra.

O que diz o Extra

Em nota, o Extra disse que “as imagens exibidas nos vídeos correspondem a uma situação pontual de defeito hidráulico que foi reparado no mesmo dia e que não corresponde à situação atual da loja, o que foi inclusive atestado em vistoria recente da Vigilância Sanitária.”

Sobre a menção à possível manipulação de produtos impróprios, a rede informa que “tal ato não condiz com o procedimento rigoroso de segurança alimentar da companhia, que determina que os produtos devem ser descartados assim que atingem a data de validade informada pelo fabricante. A rede esclarece, também, que abriu um processo de apuração interna para averiguar as imagens e tomar as medidas necessárias.”

Compartilhe  

últimas notícias