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Exercícios ajudam tratamento de deficiência de testosterona

Assim como o excesso de exercício físico pode reduzir a produção de testosterona, a atividade física, quando feita de maneira balanceada e orientada por um

Exercícios ajudam tratamento de deficiência de testosterona
Exercícios ajudam tratamento de deficiência de testosterona

Redação Publicado em 04/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 18h12


Endocrinologista explica relação com o quadro hormonal e obesidade e personal trainer monta plano de treino para pessoas com sobrepeso

Assim como o excesso de exercício físico pode reduzir a produção de testosterona, a atividade física, quando feita de maneira balanceada e orientada por um profissional capacitado, pode auxiliar quadros de deficiência do hormônio, como aponta estudo publicado no jornal científico PubMed, e também indivíduos com obesidade — doença que vem sofrendo um aumento exponencial no Brasil. De acordo com a pesquisa publicada no PubMed, uma boa parte dos pacientes com obesidade apresenta deficiência de testosterona, o que favorece o acúmulo de gordura, constituindo, assim, um círculo vicioso. Como consequência dos baixos níveis do hormônio, sintomas como baixa de libido, fadiga, desânimo e falta de força muscular podem ser percebidos, prejudicando inclusive a performance e a prática esportivas. Abaixo, o médico endocrinologista Ricardo Oliveira explica a relação entre o quadro e a atividade física e o personal trainer Marcio Lui passa uma lista de exercícios voltada para pessoas com sobrepeso.

exercício físico auxilia quadros de obesidade e deficiência de testosterona — Foto: Istock

exercício físico auxilia quadros de obesidade e deficiência de testosterona — Foto: Istock

Testosterona e obesidade

A testosterona exerce nos homens um papel fundamental não só na formação das características sexuais secundárias (barba, pelos pubianos etc), como também apresenta um importante papel na composição corporal dos homens.

– Enquanto a testosterona determina uma maior massa muscular e menor porcentagem de gordura em homens, a sua deficiência pode promover exatamente o contrário, com aumento da adiposidade e perda de massa muscular. Por outro lado, o aumento de tecido adiposo leva a uma maior transformação de testosterona em estradiol, um tipo de estrogênio predominantemente feminino, que favorece a um acúmulo de gordura com um padrão ginecóide, que se se assemelha a um formato “pêra”, popularmente conhecido como corpo de violão. Dessa forma, é comum que indivíduos obesos apresentem baixos níveis de testosterona e, como consequência, baixa de libido, fadiga, desânimo e falta de força muscular – explica Ricardo Oliveira.

O médico endocrinologista e do esporte ainda aponta que o exercício físico, em especial o treinamento resistido (musculação), pode, pelo menos em parte, atenuar tais efeitos, uma vez que, além de promover aumento da secreção de testosterona (embora fugaz e não sustentado), pode promover aumento de massa magra e redução de massa gorda.

Sintomas de deficiência de testosterona:

  • Queda de libido;
  • Cansaço;
  • Perda de força muscular;
  • Desânimo;
  • Irritabilidade.

Sendo assim, pessoas obesas que apresentam tais sintomas de deficiência do hormônio devem realizar a dosagem de testosterona no sangue. Se confirmada a deficiência, Ricardo indica que o pontapé inicial para realizar o tratamento se dá por meio de uma dieta adequada e prática de atividade física, sobretudo aquelas de alta intensidade, incluindo musculação. Em casos selecionados, não havendo contraindicação, a reposição de testosterona pode ser indicada.

De que forma a obesidade leva à redução da testosterona?

– Por muitos anos, acreditou-se que a obesidade levasse à deficiência de testosterona apenas por meio de uma maior conversão da mesma em estradiol, um tipo de estrogênio, nas células de gordura através de enzimas responsáveis por um processo conhecido como aromatização. Hoje, sabe-se que o principal mecanismo se deve à inibição da produção de hormônios hipotalâmico-hipofisários que levam à produção da testosterona. Acredita-se que tal inibição se deva ao estado de inflamação sistêmica gerado pela obesidade – responde Ricardo Oliveira.

De que modo a deficiência de testosterona pode agravar a obesidade?

A testosterona atua nas chamadas células progenitoras, estimulando a diferenciação em células musculares e inibindo a formação de células adiposas. Em outras palavras, a testosterona estimula o crescimento de massa muscular e inibe a formação de tecido adiposo. Desta forma, a deficiência de testosterona predispõe a um maior acúmulo de tecido adiposo e, ainda, uma menor formação de massa muscular.

– Se por um lado o excesso de gordura em homens aumenta o risco de deficiência de testosterona, por outro, a deficiência deste hormônio, conhecida como hipogonadismo masculino, predispõe a um maior acúmulo de gordura. Dessa forma, muitas vezes, é difícil dizer quem vem antes: o aumento da gordura ou a diminuição de testosterona – aponta o médico.

Tratamento do quadro

Reposições de testosterona podem ser necessárias no quadro clínico de deficiência — Foto: Reprodução/Internet

Reposições de testosterona podem ser necessárias no quadro clínico de deficiência — Foto: Reprodução/Internet

O tratamento da obesidade deve ser preferencialmente multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas e profissionais de educação física. Uma dieta equilibrada, contendo a quantidade adequada de calorias diárias, além de uma proporção adequada de macros e micronutrientes, é fundamental. Uma rotina de treinamento físico planejado com definição de periodização, carga, volume e intensidade também é de extrema importância.

– Indivíduos obesos frequentemente são candidatos ao uso de medicamentos aprovados para o tratamento da obesidade. Dessa forma, os níveis de testosterona muitas vezes são consequência desse distúrbio metabólico que, uma vez corrigido, pode ser o suficiente para uma normalização hormonal. Em casos selecionados, a terapia de reposição de testosterona pode ser uma opção terapêutica, desde que haja uma deficiência hormonal comprovada. De acordo com as diretrizes internacionais das sociedades de endocrinologia, na ausência de contraindicações, homens com deficiência de testosterona são candidatos à terapia de reposição de testosterona – aponta Ricardo Oliveira.

A atividade física como aliada

O exercício físico desempenha um papel primordial no tratamento da obesidade e, consequentemente, do quadro de deficiência de testosterona, sobretudo por atuar sob dois pilares principais. É uma das ferramentas fundamentais ao lado de um planejamento dietético e, eventualmente, medicações antiobesidade. Além disso, Ricardo ressalta que é sabido que exercícios físicos de alta intensidade e curta duração promovem um aumento da síntese de testosterona. Entretanto, é importante destacar que tais incrementos em geral são fugazes, tendo uma duração de poucas horas.

Atualmente, não há dúvidas: a principal estratégia de exercício físico no combate à obesidade é uma combinação de exercícios aeróbicos e exercícios resistidos (musculação, por exemplo). De acordo com as novas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicadas em 2020, o tempo ideal de exercícios semanais é:

  • Atividades aeróbicas:
    150-300 minutos
     Atividade física aeróbica em intensidade moderada;
    OU
    75-150 minutos Atividade física aeróbica em intensidade alta ou combinação entre moderada/alta intensidade
  • Treinamento de força – Duas vezes por semana, fazer reinamento resistido envolvendo grandes grupamentos musculares.

Plano de treino para pessoas com sobrepeso

Exercício físico desempenha papel fundamental no tratamento da obesidade  — Foto: iStock

Exercício físico desempenha papel fundamental no tratamento da obesidade — Foto: iStock

Visto que o exercício físico é um dos pilares para o tratamento da obesidade e do quadro de deficiência de testosterona, personal trainer Marcio Lui montou um plano de treino para pessoas com sobrepeso que desejam ser ativas fisicamente, visando uma melhoras dos níveis físicos. Confira a seguir uma lista com exercícios:

1. Caminhada de 15 minutos (pode ser na esteira ou no quarteirão)

Caminhada em ritmo rápido — Foto: Getty Images

Caminhada em ritmo rápido — Foto: Getty Images

2. Série de agachamento com 12 repetições

Execução do agachamento  — Foto: Marcio Lui

Execução do agachamento — Foto: Marcio Lui

3. Série de abre e fecha com 10 repetições

Execução abre e fecha — Foto: Marcio Lui

Execução abre e fecha — Foto: Marcio Lui

4. Série de afundo alternado com 10 repetições

Execução afundo alternado — Foto: Marcio Lui

Execução afundo alternado — Foto: Marcio Lui

5. Série de abdominais simples com 12 repetições

Execução abdominal simples — Foto: Marcio Lui

Execução abdominal simples — Foto: Marcio Lui

6. Prancha com 15 segundos de duração

Execução prancha — Foto: Marcio Lui

Execução prancha — Foto: Marcio Lui

7. Elevação pélvica isométrica com 15 segundos de duração

Execução elevação pélvica isométrica — Foto: Marcio Lui

Execução elevação pélvica isométrica — Foto: Marcio Lui

– A pessoa pode começar fazendo um progressivo, ou seja: na segunda-feira, por exemplo, realiza a série de exercícios uma única vez; na quarta-feira, realiza a série duas vezes e, na sexta-feira, realiza a série de exercícios três vezes – indica Marcio Lui.

Fontes:
Ricardo de Andrade Oliveira é médico endocrinologista e do esporte, ex-professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do Departamento de Doenças Associadas da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Marcio Lui é graduado em educação física pela faculdade Santa Marcelina, especialista em Reabilitação Motora e personal trainer, treinando famosas como Sabrina Sato, Adriane Galisteu e Alessandra Ambrósio.

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Globo Esporte

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