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Essa crise não chega a ser uma grande novidade

Por Reinaldo Polito

Essa crise não chega a ser uma grande novidade
Essa crise não chega a ser uma grande novidade

Redação Publicado em 13/03/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h45


Por Reinaldo Polito

Essa crise não chega a ser uma grande novidade

Estamos em crise. Sim, se pronunciássemos essa frase em qualquer época, acertaríamos. Segundo pesquisas do antropólogo Luiz Almeida Marins, enfrentamos pelo menos cinco crises por ano, incluindo as grandes, as pequenas, as longas e as efêmeras. Portanto, viver em crise é quase o pão nosso de cada dia.

Excetuando-se eventos extraordinários, como as guerras, ou quebras de grandes organizações que aparentemente estavam saudáveis, podemos constatar que as histórias são sempre muito parecidas. E se repetem.

Talvez o caso das tulipas holandesas possa ser apontado como uma das primeiras grandes crises de que se tem notícia. Embora os fatos sejam bem conhecidos, vale a pena relembrá-los.

No princípio do século XVII, acreditando nas promessas de ganho fácil em curtíssimo prazo, as pessoas fecharam os olhos para os riscos e correram atrás dos cifrões comprando bulbos de tulipa, para revendê-los em pouco tempo com lucros exorbitantes.

A sede de lucro era tão descontrolada que, no momento mais agudo dos negócios, entre os anos de 1636 e 1637, com o preço de um único bulbo de tulipa seria possível comprar uma boa casa na cidade de Amsterdã. Para estabelecer uma comparação concreta, pesquisadores históricos dizem que esse mesmo bulbo atingia o preço equivalente a 24 toneladas de trigo.

Como a colheita das tulipas ocorria em determinados períodos do ano, as pessoas começaram a comercializar títulos que garantiam o recebimento da planta assim que fosse colhida. Esses títulos passaram a ser negociados a partir de intensa procura e inflacionaram.

Quando desconfiaram de que a entrega da planta não seria cumprida e que os títulos estavam com valores superestimados, deixaram de aceitá-los. Os preços despencaram e seus detentores amargaram prejuízos. Alguns foram à falência.

Olhando assim de longe, talvez pudéssemos pensar – como é que alguém chegava a ser tão otário para embarcar numa conversa dessa? Pois é, está na cara que um negócio como esse só poderia acabar em prejuízo.

O que leva alguém a embarcar nesse tipo de engodo? Os motivos que se mostram mais evidentes são a ganância e a falta de análise. Diante da possibilidade de ganho fácil e rápido, as pessoas caem no canto da sereia, se empolgam e deixam de lado todos os cuidados que deveriam ter.

Ainda nos lembramos dos prejuízos de quem acreditou nas histórias do boi gordo e dos avestruzes, aqui no Brasil. Todos negócios que permitiam enriquecer rapidamente. Quem acreditou, deixou de lado as precauções e a prudência que deveria ter tido. E perdeu.

Se observarmos bem, grandes crises sempre abalaram o mundo, e, também como sempre, todas passaram. Em uma rápida retrospectiva, vejamos quais foram as maiores crises enfrentadas pelas últimas gerações.

  • 1929 – queda da Bolsa de Nova York
  • 1971 – fim do padrão-ouro nos Estados Unidos e a desvalorização do dólar
  • 1973, 1979 e 1980 – aumento do preço do petróleo
  • 1987 – Bolsa americana despenca mais de 22% em um único dia

As duas grandes guerras mundiais nem foram citadas.

Como a maioria não vivenciou esses eventos mencionados, vamos relacionar agora os mais atuais:

  • 1994 – desvalorização da moeda mexicana; desemprego aumenta mais de 60%
  • 1997 – na Ásia
  • 1998 – na Rússia
  • 2000 – empresas de internet e telecomunicação em grande queda
  • 2001 – ataque terrorista às Torres Gêmeas
  • 2001 e 2002 – crise da Argentina
  • 2008 e 2009 – bolha imobiliária norte-americana
  • 2009 e 2010 – na Europa
  • 2015 e 2016 – no Brasil, com todos os problemas econômicos agravados pelas questões políticas e judiciais
  • 2019 e 2020 – pandemia do Coronavírus
  • 2022 – guerra entre Rússia e Ucrânia

Portanto, passar por crises não é e nunca será novidade. O importante é ficarmos atentos para tomar as decisões no momento certo e driblar cada uma dessas situações. Conhecimento, análise, atenção ao que ocorre ao nosso redor e capacidade de reação rápida às possíveis turbulências são requisitos mais do que indispensáveis.  Afinal, será que estamos agindo bem nesse momento, ou apenas aguardando que tudo se resolva? Siga pelo Instagram @polito

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Presidente Emérito da Academia Paulista de Educação. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

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